São Paulo, domingo, 11 de fevereiro de 2001 |
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Teoria também é brasileira
Marcelo Leite
A teoria dos refúgios como explicação para a diversidade biológica da Amazônia tem uma longa história no Brasil, e não só porque a maior
parte dessa floresta fica no país. A teoria, como
a própria exuberância florestal que ela tenta explicar,
também se originou por aqui, pelas mãos de um lendário zoólogo e compositor idem: Paulo Vanzolini.
Na realidade, não só por aqui.
A idéia dos refúgios, como já aconteceu mais de uma
vez na história da ciência, ocorreu de forma independente a cientistas separados por milhares de quilômetros. Vanzolini chegou a ela em colaboração com o geógrafo brasileiro Aziz Ab'Sáber e com o herpetólogo norte-americano Ernest Williams, como Vanzolini um especialista em répteis -"cobras e lagartos", como diz.
Quando ainda trabalhava na formulação da teoria,
em 1969, o zoólogo paulista recebeu da revista científica
norte-americana "Science" -para dar seu parecer técnico- um trabalho do alemão Jürgen Haffer. Trabalhando com a distribuição territorial de espécies de pássaros tropicais, ele havia alcançado uma conclusão similar: com a penetração de manchas de vegetação mais
rala na Amazônia em períodos secos, as espécies isoladas nos refúgios mais úmidos e florestados teriam percorrido caminhos evolutivos divergentes, desdobrando-se em muitas novas espécies.
Segundo relato de Renata Ramalho, da revista "Ciência Hoje", Vanzolini enviou então seus materiais para a
"Science" com um pedido de que seu parecer não fosse
mantido em sigilo, como de praxe. Ao tomar conhecimento da coincidência, Haffer teria vindo ao Brasil para
iniciar uma colaboração. "Somos grandes amigos", disse Vanzolini à "Ciência Hoje".
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