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São Paulo, terça-feira, 11 de fevereiro de 2003

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BIODIVERSIDADE

Substâncias de erva usada na medicina popular são capazes de controlar sistema de defesa do organismo

Molécula vegetal pode ajudar transplante

REINALDO JOSÉ LOPES
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Uma planta usada na medicina popular brasileira pode fornecer um poderoso instrumento para controlar o sistema de defesa do organismo, diminuindo a rejeição em transplantes e atacando alergias. Pesquisadores da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) da Bahia identificaram substâncias com esse potencial na Physalis angulata e já solicitaram patente sobre o uso delas.
Testadas por enquanto em camundongos, espera-se que as fisalinas (chamadas de B, F e G) tenham um efeito tão bom quanto o das substâncias usadas hoje para controlar o sistema imune, mas com menos efeitos colaterais, quando forem usadas em pacientes humanos.
A P. angulata costuma ser usada no Norte e Nordeste do Brasil contra diversos problemas de saúde, de dermatite a reumatismo. Popularmente, atende por uma infinidade de nomes, como bate-testa, bucho-de-rã ou mata-fome, conta a pesquisadora Milena Soares, da Fiocruz.
"Em geral, ela é usada na forma de chá ou infusão", diz Soares, 34. A erva cresce na América Latina e na África, e as moléculas que produz, as fisalinas, atraíram a atenção dos cientistas porque pertencem ao grupo dos corticosteróides, usados hoje para controlar o sistema imune.
"Essas substâncias já tinham sido descritas, mas nós fomos os primeiros a estudar suas propriedades", conta Soares. O trabalho foi publicado no mês passado na revista científica "European Journal of Pharmacology" (www.sciencedirect.com/
science/journal/00142999
).
Estudando os efeitos das fisalinas no organismo de camundongos, a equipe verificou que elas eram capazes de deixar de mãos atadas os linfócitos e os macrófagos, principais células do sistema de defesa do organismo. Sob a ação das substâncias, essas células combativas ficavam impedidas de se ativar ou de se multiplicar.
Além disso, as citocinas (proteínas que atuam como mensageiros químicos dentro do sistema imune) passavam a ser produzidas de forma muito menos intensa. Toda essa alteração tornava muito mais difícil o aparecimento de inflamações causadas pelo sistema de defesa do organismo.
É claro que, em condições normais, esse nocaute das defesas biológicas seria indesejável. Mas os pesquisadores pretendem utilizar as fisalinas em condições nas quais é melhor que o sistema imune seja silenciado.
Um exemplo disso é o transplante de órgãos. Ao perceber que o novo tecido veio de outro indivíduo, a tendência do corpo é rejeitá-lo com violência, causando complicações que dificultam a sobrevivência do transplantado.
Há casos, no entanto, em que uma disfunção leva o organismo a atacar a si mesmo. É o que ocorre em doenças como a artrite reumatóide e as diversas formas de alergia -e em ambas as fisalinas seriam um auxílio valioso.
Se for comprovado que as substâncias causam menos efeitos colaterais, a pesquisadora diz que os pacientes com o sistema imune hiperativo seriam poupados de inchaços ou da diminuição da produção de células do sangue na medula óssea, causada pelos medicamentos utilizados hoje.


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