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BIODIVERSIDADE
Substâncias de erva usada na medicina popular são capazes de controlar sistema de defesa do organismo
Molécula vegetal pode ajudar transplante
REINALDO JOSÉ LOPES
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Uma planta usada na medicina
popular brasileira pode fornecer
um poderoso instrumento para
controlar o sistema de defesa do
organismo, diminuindo a rejeição
em transplantes e atacando alergias. Pesquisadores da Fiocruz
(Fundação Oswaldo Cruz) da Bahia identificaram substâncias
com esse potencial na Physalis
angulata e já solicitaram patente
sobre o uso delas.
Testadas por enquanto em camundongos, espera-se que as fisalinas (chamadas de B, F e G) tenham um efeito tão bom quanto
o das substâncias usadas hoje para controlar o sistema imune,
mas com menos efeitos colaterais, quando forem usadas em pacientes humanos.
A P. angulata costuma ser usada no Norte e Nordeste do Brasil
contra diversos problemas de
saúde, de dermatite a reumatismo. Popularmente, atende por
uma infinidade de nomes, como
bate-testa, bucho-de-rã ou mata-fome, conta a pesquisadora Milena Soares, da Fiocruz.
"Em geral, ela é usada na forma
de chá ou infusão", diz Soares, 34.
A erva cresce na América Latina e
na África, e as moléculas que produz, as fisalinas, atraíram a atenção dos cientistas porque pertencem ao grupo dos corticosteróides, usados hoje para controlar o
sistema imune.
"Essas substâncias já tinham sido descritas, mas nós fomos os
primeiros a estudar suas propriedades", conta Soares. O trabalho
foi publicado no mês passado na
revista científica "European Journal of Pharmacology"
(www.sciencedirect.com/
science/journal/00142999).
Estudando os efeitos das fisalinas no organismo de camundongos, a equipe verificou que elas
eram capazes de deixar de mãos
atadas os linfócitos e os macrófagos, principais células do sistema
de defesa do organismo. Sob a
ação das substâncias, essas células
combativas ficavam impedidas de
se ativar ou de se multiplicar.
Além disso, as citocinas (proteínas que atuam como mensageiros
químicos dentro do sistema imune) passavam a ser produzidas de
forma muito menos intensa. Toda essa alteração tornava muito
mais difícil o aparecimento de inflamações causadas pelo sistema
de defesa do organismo.
É claro que, em condições normais, esse nocaute das defesas
biológicas seria indesejável. Mas
os pesquisadores pretendem utilizar as fisalinas em condições nas
quais é melhor que o sistema imune seja silenciado.
Um exemplo disso é o transplante de órgãos. Ao perceber que
o novo tecido veio de outro indivíduo, a tendência do corpo é rejeitá-lo com violência, causando
complicações que dificultam a sobrevivência do transplantado.
Há casos, no entanto, em que
uma disfunção leva o organismo a
atacar a si mesmo. É o que ocorre
em doenças como a artrite reumatóide e as diversas formas de
alergia -e em ambas as fisalinas
seriam um auxílio valioso.
Se for comprovado que as substâncias causam menos efeitos colaterais, a pesquisadora diz que os
pacientes com o sistema imune
hiperativo seriam poupados de
inchaços ou da diminuição da
produção de células do sangue na
medula óssea, causada pelos medicamentos utilizados hoje.
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