São Paulo, segunda-feira, 11 de março de 2002

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Garimpo ameaça conservação de ruínas

DA REDAÇÃO

As ruínas de Vila Bela da Santíssima Trindade e dos arraiais de mineração abandonados e engolidos pela selva no vale do Guaporé escondem um dos golpes de mestre da colonização portuguesa: o estabelecimento da Capitania de Mato Grosso, em 1748.
A história dos arraiais, no entanto, poderá virar poeira se o mapeamento e o tombamento das ruínas não forem feitos rápido. As jazidas de ouro sobre as quais eles foram construídos ainda estão longe de se esgotar, e o garimpo é uma ameaça constante à conservação. "Vi um arraial inteiro destruído a bomba em Sararé, uma área indígena nhambiquara invadida por garimpeiros", conta Zanettini.
Dos quatro arraiais do século 18 que deverão ser estudados pelo projeto Fronteira Ocidental, somente um, São Francisco Xavier da Chapada, está em fase de tombamento. Os outros três, Sant'Ana, Pilar e São Vicente, aguardam mapeamento, para que o processo de conservação possa ser iniciado -antes que seja tarde.

Esperteza de português
A incorporação da região ao mapa do Brasil começou com a descoberta de ouro pelos bandeirantes na região de Cuiabá, no início do século 18, que culminou com a fundação da vila em 1727.
A partir de Cuiabá, as expedições de busca de ouro e de apresamento de índios se estendem para noroeste, até o território dos índios parecis. "No processo, perceberam que o ambiente daquela região era diferente, era floresta -mato grosso", conta o historiador Carlos Rosa, da UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso), explicando o termo que daria nome ao Estado.
Em 1734, a notícia da descoberta de ouro no Mato Grosso dos Parecis -como era chamada a área- vaza e chega a Lisboa. A Coroa toma posse das jazidas e passa a distribuir concessões de lavra.
A exploração aurífera no Mato Grosso ganha impulso. Fundam-se vários arraiais, sendo o principal deles o de São Francisco Xavier da Chapada, que ganhou até um terminal eclesiástico. Como em Minas Gerais, a Coroa traz uma grande quantidade de escravos para o trabalho nas minas.
"Há registros da existência de 6.000 escravos só em São Vicente", diz Zanettini. Isso explica o fato de a maioria da população atual de Vila Bela ser negra.
Em 1748, cria-se a Capitania do Mato Grosso. Só que, em vez de fazer da já povoada Cuiabá a capital, os portugueses preferem implantá-la em Vila Bela, uma espécie de posto avançado no meio do território que, pelo Tratado de Tordesilhas, pertencia à Espanha.
"A Coroa ofereceu vários incentivos fiscais, como a isenção do quinto [um imposto sobre o ouro", para as pessoas se fixarem lá", diz Rosa. A artimanha funcionou: em 1750, o Tratado de Madri reconhecia os direitos lusos no alto Guaporé. "E ainda tem gente que diz que português é burro."



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