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Garimpo ameaça conservação de ruínas
DA REDAÇÃO
As ruínas de Vila Bela da Santíssima Trindade e dos arraiais de
mineração abandonados e engolidos pela selva no vale do Guaporé
escondem um dos golpes de mestre da colonização portuguesa: o
estabelecimento da Capitania de
Mato Grosso, em 1748.
A história dos arraiais, no entanto, poderá virar poeira se o
mapeamento e o tombamento
das ruínas não forem feitos rápido. As jazidas de ouro sobre as
quais eles foram construídos ainda estão longe de se esgotar, e o
garimpo é uma ameaça constante
à conservação. "Vi um arraial inteiro destruído a bomba em Sararé, uma área indígena nhambiquara invadida por garimpeiros",
conta Zanettini.
Dos quatro arraiais do século 18
que deverão ser estudados pelo
projeto Fronteira Ocidental, somente um, São Francisco Xavier
da Chapada, está em fase de tombamento. Os outros três, Sant'Ana, Pilar e São Vicente, aguardam
mapeamento, para que o processo de conservação possa ser iniciado -antes que seja tarde.
Esperteza de português
A incorporação da região ao
mapa do Brasil começou com a
descoberta de ouro pelos bandeirantes na região de Cuiabá, no início do século 18, que culminou
com a fundação da vila em 1727.
A partir de Cuiabá, as expedições de busca de ouro e de apresamento de índios se estendem para
noroeste, até o território dos índios parecis. "No processo, perceberam que o ambiente daquela
região era diferente, era floresta
-mato grosso", conta o historiador Carlos Rosa, da UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso), explicando o termo que daria
nome ao Estado.
Em 1734, a notícia da descoberta
de ouro no Mato Grosso dos Parecis -como era chamada a área-
vaza e chega a Lisboa. A Coroa toma posse das jazidas e passa a distribuir concessões de lavra.
A exploração aurífera no Mato
Grosso ganha impulso. Fundam-se vários arraiais, sendo o principal deles o de São Francisco Xavier da Chapada, que ganhou até
um terminal eclesiástico. Como
em Minas Gerais, a Coroa traz
uma grande quantidade de escravos para o trabalho nas minas.
"Há registros da existência de
6.000 escravos só em São Vicente", diz Zanettini. Isso explica o fato de a maioria da população
atual de Vila Bela ser negra.
Em 1748, cria-se a Capitania do
Mato Grosso. Só que, em vez de
fazer da já povoada Cuiabá a capital, os portugueses preferem implantá-la em Vila Bela, uma espécie de posto avançado no meio do
território que, pelo Tratado de
Tordesilhas, pertencia à Espanha.
"A Coroa ofereceu vários incentivos fiscais, como a isenção do
quinto [um imposto sobre o ouro", para as pessoas se fixarem lá",
diz Rosa. A artimanha funcionou:
em 1750, o Tratado de Madri reconhecia os direitos lusos no alto
Guaporé. "E ainda tem gente que
diz que português é burro."
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