São Paulo, Domingo, 11 de Abril de 1999
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PERISCÓPIO

Gene indica fortalecimento de tumores

JOSÉ REIS
especial para a Folha

Em artigo publicado na revista norte-americana "Science" (244, 707), D. Slamon, da Universidade da Califórnia em Los Angeles, nos Estados Unidos, e colaboradores confirmam e ampliam resultados de pesquisas que dois anos antes haviam sido recebidas com reservas por vários motivos, entre os quais o número relativamente pequeno de pacientes examinados.
Essas experiências e outras em torno do mesmo assunto foram objeto de revisão por J. L. Marx na página 654 da mesma publicação.
As experiências revelam a existência de ótimo instrumento de previsão dos cânceres da mama e do ovário, que representam aproximadamente um terço de todos os cânceres que ocorrem na mulher e cerca de um quarto de todas as mortes relacionadas com câncer nesse sexo.
A pesquisa pode, entre outras coisas, ensejar melhor tratamento do câncer, pois permite identificar as pacientes a que se deve aplicar terapia mais agressiva para evitar recaídas após ablação dos tumores. Também poderá servir no desenho de novas drogas para prevenção dessas recaídas.
A observação básica de Slamon e colaboradores consiste na identificação de um sinal genético nos tumores de pacientes com mau prognóstico.
Esse sinal é representado pela multiplicidade de cópias (amplificação) de um determinado proto-oncogene, conhecido por neu, ou HEP-2 ou ainda erb B-2.
A amplificação foi observada em mulheres que mostram maior tendência para recidiva ou morte precoce em casos de câncer mamário ou ovariano.
Os proto-oncogenes constituem uma família de genes celulares normais identificados por sua semelhança com sequências genéticas dotadas de potencial tumorígeno ou transformador. Muitas são as provas de que alterações da estrutura, do número de cópias ou da expressão de alguns desses genes desempenhem papel na produção de tumores malignos humanos.
Em seu primeiro artigo, os autores registraram ter encontrado incidência de 28% do proto-oncogene em 189 cânceres mamários primários. As pacientes com cópias múltiplas do gene do DNA de seus tumores manifestavam menor prazo para as recaídas, assim como menor sobrevida, o que parecia indicar que a amplificação tinha significado prognóstico.
A nova pesquisa abrangeu 526 pacientes. Nela, os autores encontraram a amplificação do gene em 25% a 30% das mulheres. Essa amplificação mantinha correlação com mau prognóstico em pacientes cujos tumores já se haviam estendido aos gânglios linfáticos axilares. Outras pesquisas de outros autores vieram revelar que a correlação também prevalece em casos de gânglios isentos de invasão pelo tumor.
De máxima importância é a posse de bons indicadores prognósticos em mulheres gânglio-negativas, nas quais, no passado, não era comum ministrar a quimioterapia, uma vez que a probabilidade de ter recorrência do câncer era muito menor do que nas pacientes que apresentavam invasão dos gânglios.
Não obstante, cerca de 30% das mulheres gânglio-negativas mostram recaída dentro de cinco anos. Daí a prática, hoje recomendada pelo Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos, de tratar quimioterapicamente todas as mulheres gânglio-negativas.
Mas essa prática é condenada por vários especialistas, que alegam efeitos danosos que a quimioterapia pode ter, os quais não justificariam o risco de seu uso em todas as mulheres gânglio-negativas, salvo se a probabilidade de recorrência pudesse ser identificada. É o que permite fazer a técnica descrita por Slamon e colaboradores.
Em seu segundo trabalho, esses pesquisadores ainda verificaram que a amplificação do proto-oncogene também funciona em relação ao câncer ovariano. E sugerem que os dois cânceres (mamário e ovariano) possam decorrer das mesmas perturbações básicas.
Não se sabe se a amplificação do proto-oncogene desempenha algum papel na gênese dos dois cânceres, porém há forte possibilidade de que assim aconteça: é certo que a superprodução da proteína codificada pelo proto-oncogene pode tornar malignas certas células em cultura, e também é certo que as células dos cânceres em que ocorre amplificação do proto-oncogene produzem quantidade de proteína neu superior ao normal.


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