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PERISCÓPIO
Gene indica fortalecimento de tumores
JOSÉ REIS
especial para a Folha
Em artigo publicado na revista
norte-americana "Science"
(244, 707), D. Slamon, da Universidade da Califórnia em Los
Angeles, nos Estados Unidos, e
colaboradores confirmam e ampliam resultados de pesquisas
que dois anos antes haviam sido
recebidas com reservas por vários motivos, entre os quais o
número relativamente pequeno
de pacientes examinados.
Essas experiências e outras em
torno do mesmo assunto foram
objeto de revisão por J. L. Marx
na página 654 da mesma publicação.
As experiências revelam a
existência de ótimo instrumento de previsão dos cânceres da
mama e do ovário, que representam aproximadamente um
terço de todos os cânceres que
ocorrem na mulher e cerca de
um quarto de todas as mortes
relacionadas com câncer nesse
sexo.
A pesquisa pode, entre outras
coisas, ensejar melhor tratamento do câncer, pois permite
identificar as pacientes a que se
deve aplicar terapia mais agressiva para evitar recaídas após
ablação dos tumores. Também
poderá servir no desenho de novas drogas para prevenção dessas recaídas.
A observação básica de Slamon e colaboradores consiste
na identificação de um sinal genético nos tumores de pacientes
com mau prognóstico.
Esse sinal é representado pela
multiplicidade de cópias (amplificação) de um determinado
proto-oncogene, conhecido por
neu, ou HEP-2 ou ainda erb B-2.
A amplificação foi observada
em mulheres que mostram
maior tendência para recidiva
ou morte precoce em casos de
câncer mamário ou ovariano.
Os proto-oncogenes constituem uma família de genes celulares normais identificados por
sua semelhança com sequências
genéticas dotadas de potencial
tumorígeno ou transformador.
Muitas são as provas de que alterações da estrutura, do número de cópias ou da expressão de
alguns desses genes desempenhem papel na produção de tumores malignos humanos.
Em seu primeiro artigo, os autores registraram ter encontrado incidência de 28% do proto-oncogene em 189 cânceres
mamários primários. As pacientes com cópias múltiplas do
gene do DNA de seus tumores
manifestavam menor prazo para as recaídas, assim como menor sobrevida, o que parecia indicar que a amplificação tinha
significado prognóstico.
A nova pesquisa abrangeu 526
pacientes. Nela, os autores encontraram a amplificação do
gene em 25% a 30% das mulheres. Essa amplificação mantinha
correlação com mau prognóstico em pacientes cujos tumores
já se haviam estendido aos gânglios linfáticos axilares. Outras
pesquisas de outros autores vieram revelar que a correlação
também prevalece em casos de
gânglios isentos de invasão pelo
tumor.
De máxima importância é a
posse de bons indicadores prognósticos em mulheres gânglio-negativas, nas quais, no
passado, não era comum ministrar a quimioterapia, uma vez
que a probabilidade de ter recorrência do câncer era muito
menor do que nas pacientes que
apresentavam invasão dos gânglios.
Não obstante, cerca de 30%
das mulheres gânglio-negativas
mostram recaída dentro de cinco anos. Daí a prática, hoje recomendada pelo Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos, de tratar quimioterapicamente todas as mulheres gânglio-negativas.
Mas essa prática é condenada
por vários especialistas, que alegam efeitos danosos que a quimioterapia pode ter, os quais
não justificariam o risco de seu
uso em todas as mulheres gânglio-negativas, salvo se a probabilidade de recorrência pudesse
ser identificada. É o que permite
fazer a técnica descrita por Slamon e colaboradores.
Em seu segundo trabalho, esses pesquisadores ainda verificaram que a amplificação do
proto-oncogene também funciona em relação ao câncer ovariano. E sugerem que os dois
cânceres (mamário e ovariano)
possam decorrer das mesmas
perturbações básicas.
Não se sabe se a amplificação
do proto-oncogene desempenha algum papel na gênese dos
dois cânceres, porém há forte
possibilidade de que assim
aconteça: é certo que a superprodução da proteína codificada pelo proto-oncogene pode
tornar malignas certas células
em cultura, e também é certo
que as células dos cânceres em
que ocorre amplificação do proto-oncogene produzem quantidade de proteína neu superior
ao normal.
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