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FUTURO
Modificação genética faz vírus da Aids atuar em método para tratar doenças
sanguíneas, como hemofilia e anemia
Cura pela infecção
MARCELO FERRONI
da Reportagem Local
Centros de pesquisa de vários
países procuram desenvolver drogas e processos eficazes para combater o vírus HIV, da Aids. Mas os
cientistas nunca haviam usado esse microrganismo para combater
doenças.
E é isso o que está sendo feito por
cientistas dos EUA: usar o HIV enfraquecido para tratar doenças
sanguíneas, como a hemofilia (falta da capacidade de coagulação do
sangue) e a anemia (baixa concentração de hemácias, ou glóbulos
vermelhos, no sangue).
Em seu estudo, realizado em ratos, os pesquisadores procuraram
demonstrar que o vírus HIV, modificado geneticamente, pode servir de veículo para transportar genes a células no sistema sanguíneo
humano.
O HIV "infectaria" determinadas células sanguíneas e assim poderia transferir os novos trechos
de material genético. Essas células
seriam alteradas, ou seja, possíveis
defeitos causadores de doenças seriam corrigidos.
O experimento, no entanto, apenas indicou uma parte do processo -que o HIV pode passar genes
a células embrionárias CD34, presentes no sistema sanguíneo humano (veja quadro ao lado).
"Esse estudo é importante na
busca por meios de enviar genes a
células humanas. É promissor,
mas ainda precisa de mais discussões", disse Inder M. Verma, do
Instituto Salk para Estudos Biológicos, em La Jolla, na Califórnia,
em entrevista por e-mail à Folha.
Verma e Hiroyuki Miyoshi, do
Instituto Salk, realizaram o estudo
ao lado de Bruce E. Torbett, Kent
A. Smith e Donald D. Mosier, do
Instituto de Pesquisa Scripps,
também em La Jolla. Os resultados
foram publicados em 29 de janeiro
na revista "Science".
As células CD34, o alvo do HIV
modificado, são hematopoéticas,
ou seja, formam novas células
sanguíneas no organismo.
Motivos para o uso do HIV
Os pesquisadores indicam, em
seu artigo, que as células hematopoéticas embrionárias são um alvo
interessante para receber genes de
vírus porque têm a habilidade de
regenerar todo o sistema de produção de células sanguíneas no organismo humano.
O processo de transferência genética por meio de vírus é chamado terapia genética. Nos testes, em
vez do HIV, normalmente são
usados os chamados retrovírus.
"Retrovírus convencionais necessitam de divisões celulares para
que os genes sejam inseridos nas
células. Em contraste, o HIV não
precisa disso", disse Torbett, do
instituto Scripps, ao explicar porque o HIV foi escolhido.
"Uma característica de células
embrionárias sanguíneas é que
elas não fazem divisões celulares.
Portanto, essas células não seriam
"atingidas" por retrovírus modificados", continua o pesquisador.
A experiência de Verma e Torbett levanta um problema: mesmo
enfraquecido, injetar intencionalmente o HIV em pacientes não poderia causar a doença?
"É muito difícil. O vírus está
completamente debilitado", disse
Verma.
Segundo Torbett, "foi demonstrado que o vírus desenvolvido
não consegue se replicar, devido à
remoção do mecanismo genético
necessário para tal".
"O HIV modificado não pode se
"espalhar" como vírus normais,
uma vez integrado ao material genético da célula hospedeira."
Testes em humanos ainda deverão demorar um certo tempo para
serem desenvolvidos. Segundo
Verma, serão necessários no mínimo um ou dois anos.
Antes, deverão ser coletados resultados a partir do experimento
em outros animais, como cães.
Outras terapias genéticas
O método da terapia genética é
testado para combater também
outros tipos de doença. Para cada
caso, um tipo de vírus é escolhido
por pesquisadores para levar os
genes a células em questão.
Em uma das experiências, por
exemplo, o vírus escolhido foi o
do herpes. Com ele, cientistas das
universidades de Illinois e da Carolina do Sul procuram amenizar
a dor associada a doenças como
câncer, artrite e angina -dor aguda, normalmente associada a problemas no coração.
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