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Salvar matas resolve 12% da crise do clima, diz grupo
Para dar essa contribuição, derrubada de floresta teria de cair 50% até 2050
Os próprios cientistas que elaboraram a estimativa dizem que os números são conservadores e que é possível fazer muito mais
RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma política dedicada de
combate ao desmatamento no
mundo -mesmo que não seja
muito ousada- pode evitar que
50 bilhões de toneladas de carbono sejam lançadas na atmosfera até 2100, ajudando a salvar
o planeta do caos climático.
A estimativa, elaborada por
uma equipe de pesquisadores
brasileiros e americanos, indica
que a preservação de florestas
tropicais pode dar conta de 12%
da redução de emissões de gases do efeito estufa necessária
para evitar os piores efeitos da
mudança climática.
Os criadores da proposta publicam suas contas em estudo
no site da revista "Science"
(www.sciencexpress.org).
Mirando no ano-base de 2050,
eles estimam que, para cumprir essa cota de serviço, o desmatamento global tenha de
cair pela metade até lá (veja
quadro à direita).
"Nosso artigo é até muito
conservador", disse à Folha o
ecólogo Daniel Nepstad, do
Instituto de Pesquisa de
Woods Hole (EUA), um dos autores do estudo. "Acho que podemos contemplar uma redução de desmatamento de mais
de 50% na Amazônia, por
exemplo, em cinco a dez anos."
O estudo põe números novos
à conclusão do IPCC, o painel
do clima da ONU, de que a redução do desmatamento tem
um papel fundamental para estabilizar o clima da Terra.
Na semana passada, o IPCC
divulgou um relatório no qual
afirma que um freio ao desmate tropical pode reduzir quase 1
bilhão de toneladas de carbono
por ano em 2040 a baixo custo.
Segundo o climatologista
Carlos Nobre, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), que também assina o
trabalho, o número usado para
as contas foi mantido em um
patamar baixo de propósito.
"O corte de 50% é uma taxa
arbitrária", diz o cientista. "Fizemos assim porque achamos
que é perfeitamente factível todos os países conseguirem
atingir esse índice."
De acordo com os pesquisadores, o Brasil pode combater o
desmatamento de maneira
mais fácil que outros grandes
devastadores de florestas. O
país tem uma vantagem por
seu percentual do PIB atrelado
a atividades que incentivam o
desmate ser pequeno.
Grande parte do desmatamento vem de atividades como
a pecuária, que têm dado pouco
lucro, explica Nepstad. "Para
combater incêndios florestais e
reduzir a pecuária pouco lucrativa, que respondem pela
maior parte das emissões, seria
necessário cerca de R$ 2 bilhões por ano", diz. Dá menos
de US$ 2 por tonelada de carbono que deixa de ir para o ar.
Como base de comparação,
pode-se usar o preço da tonelada no mercado de carbono estabelecido pelo Protocolo de
Kyoto de combate aos gases-estufa: cerca de US$ 20.
Na Ásia tropical, o cenário é
diferente, devido à maior pressão econômica.
Para Nepstad, a política ideal
para incentivar países a combater o desmatamento é criar
fundos internacionais para
compensar países que comprovarem a redução do desmate
em seus territórios além de
uma meta preestabelecida.
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