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AMAZÔNIA
Análise dos dados de devastação provoca conflito entre agências
DA REDAÇÃO E
DA REPORTAGEM LOCAL
A apresentação dos resultados
de desmatamento na Amazônia
foi recebida com cautela pela
Scam (Secretaria de Coordenação
da Amazônia) do Ministério do
Meio Ambiente. Para o órgão, os
números podem estar alimentando um otimismo infundado.
"Estamos um pouco inseguros.
Preocupa-nos saber se houve
mesmo uma queda", disse à Folha a secretária Mary Allegreti.
Para começar, o Inpe (Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais)
precisou explicar um erro feito na
projeção do biênio anterior (1999/
2000). Segundo o instituto, a margem de erro entre a projeção e os
dados consolidados daquele período não passava de 4,5% -valor estatisticamente aceitável.
Entretanto, fazendo as contas
entre a projeção e o resultado final, o valor a que se chega é quase
o dobro, 8,1% (19.836 km2 desmatados pela projeção, uma alta de
15% em relação ao biênio anterior, e dados finais de 18.226 km2).
O conflito colocou em xeque a
qualidade das estimativas iniciais.
O Inpe afirma que seus números continuam sólidos. Uma das
páginas do relatório que o instituto pretende divulgar a partir de
hoje na internet (www.inpe.br) se
dedica a explicar o que aconteceu
no biênio 1999/2000.
Segundo João Roberto dos Santos, coordenador do Programa
Institucional Amazônia, uma das
ações ligadas ao MCT (Ministério
da Ciência e Tecnologia) para a
aferição do estado da floresta, o
erro não passou mesmo de 4,5%.
Houve, sim, uma falha na projeção inicial, causado por problemas no novo programa de computador que o instituto desenvolveu para calcular a estimativa.
As projeções do Inpe são feitas
com cerca de 50 imagens, de um
total de 229, que procuram representar as áreas mais afetadas da
Amazônia Legal. "Projetamos linearmente o valor para toda a floresta com base nos números que
obtemos dessas 50 cenas, que é o
mais pessimista", diz Santos.
Pela metodologia de análise das
imagens adotada pelo instituto, o
valor para os 49 quadros usados
na projeção de 1999/2000 deveria
ter sido 14.603 km2. Mas o valor
oferecido pelo programa foi de
15.184 km2. Daí a discrepância.
A Scam, no entanto, resolveu
não adotar a análise do Inpe para
planejar suas atividades de intervenção na região amazônica.
Segundo Allegretti, uma das dúvidas em relação à metodologia
do Inpe é sobre o sistema de
amostragem usado para projetar
o desmatamento. Ao analisar
imagens de satélite de áreas muito
críticas, corre-se o risco de focalizar a projeção em regiões muito
alteradas, onde já não há o que
desmatar. Assim, o total de destruição fica mesmo menor, mas
não reflete a realidade.
As políticas do MMA para a
Amazônia estão se baseando numa outra medotologia de análise
de imagens de satélite, adotada
pelo Estado de Mato Grosso para
o licenciamento de propriedades
rurais e que está sendo implantada em Rondônia e no Pará.
O Inpe deve enviar uma equipe
para fazer uma auditoria sobre a
metodologia aplicada em Mato
Grosso na semana que vem, com
o objetivo de esclarecer as diferenças de resultado.
(CLAUDIO ANGELO E SALVADOR NOGUEIRA)
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