São Paulo, terça-feira, 11 de junho de 2002

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AMAZÔNIA

Análise dos dados de devastação provoca conflito entre agências

DA REDAÇÃO E
DA REPORTAGEM LOCAL

A apresentação dos resultados de desmatamento na Amazônia foi recebida com cautela pela Scam (Secretaria de Coordenação da Amazônia) do Ministério do Meio Ambiente. Para o órgão, os números podem estar alimentando um otimismo infundado.
"Estamos um pouco inseguros. Preocupa-nos saber se houve mesmo uma queda", disse à Folha a secretária Mary Allegreti.
Para começar, o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) precisou explicar um erro feito na projeção do biênio anterior (1999/ 2000). Segundo o instituto, a margem de erro entre a projeção e os dados consolidados daquele período não passava de 4,5% -valor estatisticamente aceitável.
Entretanto, fazendo as contas entre a projeção e o resultado final, o valor a que se chega é quase o dobro, 8,1% (19.836 km2 desmatados pela projeção, uma alta de 15% em relação ao biênio anterior, e dados finais de 18.226 km2). O conflito colocou em xeque a qualidade das estimativas iniciais.
O Inpe afirma que seus números continuam sólidos. Uma das páginas do relatório que o instituto pretende divulgar a partir de hoje na internet (www.inpe.br) se dedica a explicar o que aconteceu no biênio 1999/2000.
Segundo João Roberto dos Santos, coordenador do Programa Institucional Amazônia, uma das ações ligadas ao MCT (Ministério da Ciência e Tecnologia) para a aferição do estado da floresta, o erro não passou mesmo de 4,5%. Houve, sim, uma falha na projeção inicial, causado por problemas no novo programa de computador que o instituto desenvolveu para calcular a estimativa.
As projeções do Inpe são feitas com cerca de 50 imagens, de um total de 229, que procuram representar as áreas mais afetadas da Amazônia Legal. "Projetamos linearmente o valor para toda a floresta com base nos números que obtemos dessas 50 cenas, que é o mais pessimista", diz Santos.
Pela metodologia de análise das imagens adotada pelo instituto, o valor para os 49 quadros usados na projeção de 1999/2000 deveria ter sido 14.603 km2. Mas o valor oferecido pelo programa foi de 15.184 km2. Daí a discrepância.
A Scam, no entanto, resolveu não adotar a análise do Inpe para planejar suas atividades de intervenção na região amazônica.
Segundo Allegretti, uma das dúvidas em relação à metodologia do Inpe é sobre o sistema de amostragem usado para projetar o desmatamento. Ao analisar imagens de satélite de áreas muito críticas, corre-se o risco de focalizar a projeção em regiões muito alteradas, onde já não há o que desmatar. Assim, o total de destruição fica mesmo menor, mas não reflete a realidade.
As políticas do MMA para a Amazônia estão se baseando numa outra medotologia de análise de imagens de satélite, adotada pelo Estado de Mato Grosso para o licenciamento de propriedades rurais e que está sendo implantada em Rondônia e no Pará.
O Inpe deve enviar uma equipe para fazer uma auditoria sobre a metodologia aplicada em Mato Grosso na semana que vem, com o objetivo de esclarecer as diferenças de resultado. (CLAUDIO ANGELO E SALVADOR NOGUEIRA)

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