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CÂNCER
Grupo pretende começar experimentos com animais no ano que vem e diz que estratégia também combateria vírus
UnB vai testar nanoímãs contra tumores
REINALDO JOSÉ LOPES
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Acoplados a anticorpos feitos sob medida para grudar em células cancerosas, minúsculos ímãs de cinco milionésimos de milímetro alcançam seu alvo. Sob a ação
de um campo magnético, vibram e esquentam dentro do paciente até destruir o tumor, enquanto o tecido vizinho fica intacto.
De acordo com pesquisadores da UnB (Universidade de Brasília), faltam só os anticorpos para que essa cena otimista se torne realidade. Eles estão desenvolvendo nanoímãs ("nano" indica algo com milionésimos de milímetro
de tamanho) que poderiam ser injetados na corrente sanguínea para destruir pequenos tumores ou eliminar vírus do organismo.
"Os testes desse princípio em animais devem começar no início de 2003", diz Paulo César Morais, 48, do Instituto de Física da UnB. "O que ainda precisa ser resolvido é como acoplar os anticorpos às nanopartículas." Em tese, os nanoímãs conseguiriam localizar as micrometástases, tumores com menos de 1 mm que não podem ser detectados hoje.
Em gestação desde 1998, o projeto, financiado pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), já driblou boa parte dos problemas técnicos, conta Morais. "Para começar, você precisa de um material magnético que não seja tóxico e que seja quimicamente estável [pouco suscetível a reações
com outras substâncias]", afirma.
Os pesquisadores optaram pela magnetita, um óxido de ferro. Para injetá-lo no organismo de cobaias, criou-se um colóide (líquido com partículas em suspensão).
Morais afirma que a magnetita sozinha poderia passar por problemas de absorção. Isso levou a equipe a criar capas de moléculas orgânicas, como açúcares ou ácido cítrico, que minimizam reações adversas do organismo.
Em princípio, a coisa funcionou. Depois de caírem na corrente sanguínea, os nanoímãs foram levados magneticamente até o local desejado e chacoalhados com
um campo magnético alternado, implodindo as células graças ao
aumento de calor causado pelo ziguezague.
"O problema é que esse sistema ainda é muito grosseiro, porque células saudáveis podem ser destruídas ao mesmo tempo", diz o pesquisador da UnB.
É aí que entra a próxima fase do projeto: os pesquisadores vão estudar a melhor forma de acoplar aos nanoímãs anticorpos específicos contra cada forma de câncer. Depois, o sistema será testado em animais. De acordo com Morais,
o mesmo princípio poderia ser aplicado contra vírus.
Remédio falha
A empresa americana de biotecnologia Genentech anunciou que o Avastin, remédio experimental anticâncer que tentava bloquear o fluxo de sangue para tumores, falhou no último estágio de testes clínicos, o que deve impedir uma
licença para comercialização.
Com "The New York Times"
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