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Brasileiro garimpa genoma em
busca de terapias personalizadas
DA ENVIADA A FLORIANÓPOLIS
O oncologista brasileiro José
Claudio Casali Rocha, 40, passou
os últimos 18 meses no Hospital
de Pesquisa Infantil St. Jude, nos
EUA, tentando desvendar como
drogas que combatem o câncer
agem no DNA do paciente.
A pesquisa faz parte da chamada farmacogenética, linha que visa desenhar tratamentos específicos para cada pessoa, ou para grupos de pessoas, baseados na resposta genética do indivíduo.
A equipe de Rocha trabalhou
com casos de leucemia linfoblástica aguda, forma mais comum de
câncer infantil. A doença é causada pela proliferação excessiva de
linfócitos (um tipo de célula do
sistema de defesa) no sangue.
Cerca de 20% dos pacientes não
respondem positivamente à quimioterapia. "A resposta [a isso]
está no DNA", disse o pesquisador, durante o 50º Congresso Brasileiro de Genética. Leia a seguir a
entrevista dada à Folha.
(CA)
Folha - Como a farmacogenética
pode ajudar a tratar o câncer?
José Claudio Casali Rocha -Há
hoje muito progresso no tratamento quimioterápico, nas técnicas cirúrgicas, nas combinações
das drogas. Mas existe ainda uma
fração de pacientes em que o impacto de tratamentos e drogas estagnou. Há cânceres, como de
ovário e do sistema nervoso central, em que não houve melhora
de prognóstico na última década.
A única maneira de progredir é
conhecer a biologia do tumor, e
esse esforço passa pela medicina
genômica. Precisamos entender o
que acontece dentro da célula
cancerosa, o que leva uma pessoa
a responder ao tratamento e outra
não. Se as respostas são individuais, tem de haver alguma coisa
da célula que as determine. E a
resposta está no DNA.
No que consistiu o seu trabalho
nos EUA?
Rocha - Procuramos dentro do
DNA alguns marcadores ["etiquetas" genéticas], que são peças
importantes para o sucesso do
tratamento. Essas peças determinam se um paciente vai ter uma
resposta positiva ao tratamento
ou se a doença vai voltar.
Um outro aspecto da farmacogenética é estudar como os marcadores vão degradar as medicações, que têm um grau de toxicidade. Porque existem efeitos graves do tratamento.
Folha - Os marcadores genéticos
podem suplantar as pesquisas sobre a biologia do tumor na hora de
determinar o melhor tratamento?
Rocha - Existem os dois aspectos. Um lado pouco visto é o ambiente em que o tumor está localizado -que é o indivíduo. Não
podemos desvincular o tumor da
pessoa. Aí é que entra o trabalho
[da farmacogenética], mostrando
que as características herdadas
dos pais influenciam a resposta.
Folha - Qual seria o efeito da farmacogenética nos sistemas de saúde, uma vez que separa os pacientes de acordo com seus genes?
Rocha - Acho que essas informações serão incorporadas naturalmente. Houve muita discussão
quando a genética celular surgiu,
porque foram descobertos marcadores de predisposição, e hoje
lida-se bem com esses dados.
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