São Paulo, Quinta-feira, 11 de Novembro de 1999
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CIÊNCIA
Saci-2 altera missão de foguete brasileiro

Ichiro Guerra/Folha Imagem
Brigadeiro Ribeiro em frente ao VLS-1, do Brasil, em Alcântara (MA)


DANIELA FALCÃO
enviada especial a Alcântara (MA)

O primeiro foguete brasileiro capaz de pôr satélites em órbita, o VLS-1 (Veículo Lançador de Satélite), poderá subir ao espaço com uma carga fictícia.
Sucessivos problemas detectados no satélite Saci-2 nas últimas duas semanas podem inviabilizar seu lançamento pelo VLS-1, que estava previsto para acontecer entre 15 e 25 de novembro no CLA (Centro de Lançamento de Alcântara), a 53 km de São Luís (MA).
Seria a primeira vez que um satélite brasileiro seria posto em órbita por um foguete de fabricação nacional lançado do país. Mas, se os problemas do Saci-2 não forem corrigidos até o início de dezembro, o VLS-1 poderá ser lançado sem o satélite.
Isso porque, depois de o Saci-2 chegar a Alcântara, os técnicos da Aeronáutica ainda precisarão de 14 dias para o inserir na coifa ejetável -que fica na ponta do foguete e protege o satélite durante a passagem pela atmosfera.
O Saci-2 (Satélite de Aplicações Científicas) foi desenvolvido pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
Seu predecessor, o Saci-1, apresenta problemas de comunicação com o centro de controle desde que foi colocado em órbita, em 14 de outubro, na China.
A hipótese de o VLS-1 subir "vazio" é vista com restrição pelo presidente da AEB (Agência Espacial Brasileira), Luiz Gylvan Meira Filho. "No cenário atual, não vejo necessidade nenhuma de lançar o VLS-1 sem o Saci-2", disse. Meira acredita que o foguete, como o Saci-2, será lançado até o fim do ano.
O VLS-1 está todo montado na plataforma de lançamento do CLA, à espera do Saci-2, que deveria ter chegado hoje ao Maranhão. Problema detectado em um dos três computadores de bordo do satélite durante testes realizados no domingo passado impediu o cumprimento do cronograma.
Os técnicos do Inpe tiveram de desmontar o Saci-2, o que só foi feito ontem à tarde. Uma vez resolvido o problema, o Saci-2 ainda terá de passar por quatro baterias de testes. Segundo Himilcon Carvalho, gerente do programa de satélites científicos do Inpe, não dá para saber ainda quanto tempo levarão os testes.
"Como o Saci-2 tem estrutura muito semelhante ao Saci-1, havíamos decidido encurtar os testes para poupar tempo. Mas fomos obrigados a rever tudo depois que o Saci-1 apresentou problemas", disse.
Se o Saci-2 apresentar novos problemas, seu lançamento pelo VLS-1 corre riscos. Em primeiro lugar porque, em dezembro, começa a chover forte na região de Alcântara, dificultando o lançamento. O período ideal para lançamentos na base maranhense vai de julho a novembro.
Outro problema é que as 41 toneladas de combustível sólido do foguete não podem ficar muito tempo na posição vertical, como agora, com o foguete montado.
O brigadeiro Tiago Ribeiro, coordenador da Operação Almenara (nome dado ao lançamento do VLS-1), disse que pode esperar pelo Saci-2 até meados de dezembro. Se ele não ficar pronto, há duas opções: desmontar o foguete ou enviá-lo com carga fictícia, usada para testar o processo de colocação de satélites em órbita.


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