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CLIMA
Banco lança no Rio cartilha para orientar investidores sobre potencial do Brasil para gerar créditos de redução de CO2
BNDES tenta lançar mercado de carbono
CLAUDIO ANGELO
EDITOR-ASSISTENTE DE CIÊNCIA
O BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e
Social) iniciou um esforço de
marketing para vender ao mercado internacional a partir do ano
que vem o potencial brasileiro para redução de emissões de gases-estufa pelo Protocolo de Kyoto.
A idéia é mostrar que o país tem
vantagens para o comércio de
carbono em relação a pesos pesados do Terceiro Mundo, como Índia e China, que devem abocanhar quase todos os US$ 3 bilhões
que se estima que esse mercado
deva movimentar durante o primeiro período de vigência do
acordo contra o efeito estufa (retenção do calor na Terra por gases
como o dióxido de carbono na atmosfera), que vai até 2012.
O banco lançou ontem, num seminário no Rio, juntamente com
a Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e
Desenvolvimento) uma cartilha
para orientar investidores interessados no mercado de emissões do
Brasil, criado pelo MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo) do protocolo.
Também encomendou à Fundação Getúlio Vargas e à consultoria jurídica MFRA um estudo
sobre as vantagens institucionais
do país em relação a outros competidores no mercado.
"O Brasil tem um mercado de
valores mobiliários bem desenvolvido e estruturado, uma extensão territorial grande e tecnologias como a do álcool. É difícil
reunir todos esses predicados
num país só", disse Isaura Frondizi, da área ambiental do BNDES.
Pelas regras do MDL, os países
industrializados com meta de redução de emissões a cumprir
-de 5,2% em relação aos níveis
de 1990, em média, no período
2008-2012- poderão, em vez de
reduzir as descargas de gases (em
especial o dióxido de carbono,
produzido sobretudo pela queima de combustíveis fósseis) em
casa, investir em projetos de eficiência energética, energias renováveis ou de reflorestamento que
garantam uma redução equivalente no mundo subdesenvolvido.
Índia e China já saem com vantagens, porque são países grandes
e têm o sistema energético baseado em termelétricas a carvão, altamente poluidoras. Têm mais a
oferecer em termos de substituição por energias limpas do que o
Brasil, cuja matriz é quase toda
baseada em hidrelétricas, que não
emitem gás carbônico (CO2).
O estudo da FGV e da MFRA indica que a CVM (Comissão de
Valores Mobiliários) pode atuar
como reguladora do mercado no
Brasil. O BNDES pode participar
ajudando empresários a captar
investimentos no exterior.
O mercado mundial de "créditos de carbono", ou CREs (Certificados de Redução de Emissões)
deverá ser aberto em 2003, quando se espera que Kyoto entre em
vigor. Mas ele já começa mal.
Primeiro, o próprio protocolo
tem uma situação difícil: com a
recusa dos EUA a ratificá-lo, ele
foi enfraquecido e teve sua implementação atrasada. Mesmo com
o anúncio, ontem, da ratificação
pela Nova Zelândia (aliada dos
EUA na questão climática), ele
ainda depende de a Rússia -que
detém 18% das emissões do mundo industrializado- fazer o mesmo para entrar em vigor.
Depois, a demanda pelos créditos gerados pelo MDL é pequena.
Primeiro, porque o maior consumidor em potencial (os EUA) está
fora. Segundo, porque a Rússia,
cuja falência nos anos 90 reduziu
radicalmente as emissões de dióxido de carbono, quer oferecer
créditos por essa redução -o
chamado "ar quente".
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