São Paulo, sábado, 11 de dezembro de 2004

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CLIMA

Países apresentam juntos relatórios de emissões de gases-estufa em reunião da ONU e defendem o Protocolo de Kyoto

Brasil e China se aliam na política do CO2

CRISTINA AMORIM
ENVIADA ESPECIAL A BUENOS AIRES

Brasil e China apresentaram ontem para a comunidade internacional, durante a COP-10 (10ª Conferência das Partes da Convenção do Clima da ONU), que acontece na Argentina, seus inventários nacionais de emissões de gases poluentes. A divulgação conjunta sinaliza uma concordância política entre dois dos principais atores -entre os países em desenvolvimento- dos acordos ambientais válidos no mundo industrializado, entre eles o Protocolo de Kyoto (que, a rigor, entra em vigor no dia 16 de fevereiro de 2005).
"Existe um estreito diálogo entre Brasil e China tendo em vista interesses bilaterais, para buscar uma articulação conjunta e realçar o compromisso dos países do Grupo dos 77 mais a China", disse à Folha o diretor do Departamento de Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores, Everton Vargas.
O protocolo prevê que as nações ricas participantes reduzam o escopo de gases-estufa na atmosfera e atinjam os índices registrados em 1990 até 2010. Após essa data, inicia-se o chamada segundo período do tratado, quando os países em desenvolvimento -como Brasil e China- também precisarão apresentar medidas para combater a mudança climática. Um dos objetivos discutidos -e esperado pelos países ricos- é o estabelecimento de metas de redução para todas as nações no acordo, inclusive as pobres.
Para o diplomata brasileiro, a responsabilidade sobre as emissões deve seguir um quadro histórico, ou seja, quem usou dos recursos naturais por mais tempo para crescer paga mais caro pela conta ambiental. "O G-77 mais China não deseja metas de redução de emissão", afirma Vargas. "Não se pode tomar [taxas de] emissão de forma isolada. Nosso índice é reflexo de um processo de industrialização que tem só 40 anos. No caso da China, são 20."
Reduzir os gases-estufa, no caso do Brasil, tem ligação direta com dois pontos sensíveis no panorama econômico-ambiental: o desmatamento da Amazônia, impulsionado especialmente pelo avanço agropecuário e a grilagem (o mau uso da terra respondeu por 776 milhões de gás carbônico (CO2) jogado na atmosfera pelo país em 1994), e o rebanho de gado, o maior do mundo -e grande emissor de metano pela flatulência dos animais.

Promessas
Durante a apresentação do inventário, o secretário de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, João Paulo Capobianco, expôs os principais vilões da floresta, além de mostrar alguns itens do Plano de Ação Contra o Desmatamento, como o sistema de monitoramento em tempo real -que usa satélites sino-brasileiros. "Asseguro que, na próxima COP, daremos boas novas sobre a Amazônia."
Estratégia similar seguiu a delegação chinesa, que mostrou um exame detalhado dos pontos vulneráveis do país, como a dependência de combustíveis fósseis para a geração de energia, a distribuição desigual de água pelo território e as diferenças socioeconômicas entre sua população de 1,2 bilhão de pessoas.
Entre esses dados, foram mostrados os números de emissão: 2,6 bilhões de toneladas de CO2, dos quais 76,5% vêm da geração de energia. Atividades agrícolas e o tratamento do lixo respondem a 23,5%. A queima de carvão é ainda a principal fonte de calor para os chineses e, em 2003, correspondeu a 67% da matriz energética do país.

Fóssil do dia
Antes que os inventários de emissões da China e do Brasil fossem divulgados, um grupo de ONGs divulgou seus vencedores do dia do prêmio invertido "Fóssil do Dia", para as nações que atrapalham as negociações ou deixam a desejar em suas políticas ambientais.
A surpresa foi a Inglaterra, que conquistou o terceiro lugar, por tentar convencer a União Européia de que os Estados Unidos (que conquistaram tradicionalmente o primeiro lugar do prêmio) têm a intenção de voltar à mesa de negociações climáticas.
Os EUA são o principal opositor ao Protocolo de Kyoto. A questão da mudança climática é um ponto de divergência entre o presidente americano, George W. Bush, e o premiê britânico, Tony Blair.
O segundo lugar foi dados aos Emirados Árabes, principalmente por sua política pró-petrolífera.


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