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GENOMA HUMANO
"Nature" e "Science" publicam sequência quase completa dos genes
Revistas anunciam hoje
o código de DNA decifrado
DA REDAÇÃO
A sequência do genoma humano, um dos feitos científicos mais
importantes da história, será
anunciada hoje pelas duas principais revistas especializadas do
planeta, a "Science" e a"Nature".
Ao contrário do anúncio público da conclusão do genoma, feito
em junho do ano passado, os artigos com as sequências do genoma
serão publicados em separado pelas duas revistas. A norte-americana "Science" traz os resultados
obtidos pela empresa de biotecnologia Celera Corporation, e a
britânica "Nature", os de seu rival,
o Projeto Genoma Humano
-um consórcio formado por 16
instituições públicas de pesquisa.
Ambos os competidores conseguiram completar cerca de 95%
do sequenciamento do genoma
(segundo outros critérios, porém,
a cobertura alcançaria somente
83% ou 84%). Por meios diferentes, chegaram à mesma conclusão: o DNA humano é uma espécie de "deserto", com vastas zonas
de "letras" A, T, C e G sem significado conhecido, permeado por
uns poucos "oásis" de informação -os genes, que carregam as
instruções para fazer as proteínas.
Um quarto do genoma pode ser
considerado "desértico", com
grandes porções sem genes.
E os genes, onde eles de fato
existem, são surpreendentemente
poucos (além de muitos difíceis
de identificar e entender, pois são
regulados por uma maquinaria
ainda mal compreendida). A Celera calcula algo entre 26 mil e 39
mil, enquanto o consórcio público estima um máximo de 31 mil.
Apenas um terço dos 100 mil que
se acreditava haver (algumas estimativas chegavam a falar num total de até 140 mil).
"O tamanho do genoma, o número de pares de bases, é irrelevante para a biologia", afirmou
Craig Venter, presidente da Celera. "O milho tem o mesmo número de genes que o ser humano."
Outra conclusão de ambos os
trabalhos é que entre um terço e
metade do genoma se compõe de
sequências repetitivas, o chamado "junk DNA" (literalmente,
"DNA-lixo", em inglês).
Bactérias e vírus
Trata-se de pedaços de informação genética transferidos para o
genoma ao longo da evolução, entre eles pedaços de bactérias e vírus. Cerca de 8% de todas as sequências de DNA humano derivam de vírus.
"Essas repetições são geralmente tidas como desinteressantes.
No entanto, realmente representam um extraordinário arquivo
sobre processos biológicos", escreveram os pesquisadores do genoma público na "Nature".
A decifração do DNA humano
também confirma que cada indivíduo compartilha 99,99% do código genético com seus semelhantes. São pequenas trocas, de
uma letra para cada mil no "livro"
do genoma, que fazem as diferenças individuais. Até agora foram
identificados entre 1,4 milhão e 2,1
milhões dessas trocas, chamadas
SNPs (pronuncia-se "snips").
Identificando-as, a medicina espera tornar-se capaz de produzir
drogas específicas para vários tipos de doença -em última análise, remédios "pessoais."
"Mais ainda, a análise das SNPs
vai nos fornecer o poder de desvendar as bases genéticas de nossas capacidades individuais, como a habilidade matemática, a
memória, a coordenação física e,
talvez, a criatividade", escreveu o
biólogo norte-americano e Nobel
de Medicina David Baltimore, do
Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech), em comentário
ao trabalho do consórcio público.
"A nova visão mais empolgante
proporcionada pelo genoma não
é responder à questão "o que nos
torna humanos?", mas outra: "O
que diferencia um organismo do
outro?" ", escreveu Baltimore.
Arquitetura de proteínas
E o que diferencia os seres humanos dos outros vertebrados
-e os vertebrados de moscas,
vermes e ervas-daninhas- não é
a quantidade de genes, mas a maneira como eles se combinam para formar proteínas.
O proteoma (conjunto das proteínas) dos vertebrados é bem
mais complexo do que o dos invertebrados. Isso em parte se deve
à presença de proteínas específicas, mas muito mais ao fato de seres humanos -como os camundongos- terem um conjunto
muito mais rico de combinações.
Nesse ponto, a alta redundância
do genoma humano conta a favor
da complexidade: o fato de haver
mais "desertos" permite um
maior número de arranjos possíveis entre os "oásis", ou seja, o
surgimento de novos traços. Agora que o genoma está sequenciado, é para as proteínas que os
cientistas deverão voltar seus microscópios.
Rivalidade
Além de inaugurar uma nova
fase na biologia, os trabalhos divulgados hoje pela "Science" e pela "Nature" marcam a volta da
competição entre os dois grupos.
Por ser uma empresa privada, a
Celera não irá tornar todas as suas
sequências disponíveis para o público. Empresas que queiram usar
os dados do genoma da "Science"
(www.sciencemag.org) terão de
pagar à Celera pelo acesso. Os dados do consórcio público estarão
disponíveis on-line a partir de hoje, pela Internet, na "Nature"
(www.nature.com).
Rumores criados sobre as publicações acabaram fazendo com
que as duas revistas divulgassem
seus resultados simultaneamente.
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