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GENOMA HUMANO
Jantar organizado pela empresa Celera reuniu pesquisadores em Lyon para debater futuro dos estudos
Cientistas destacam lacunas do trabalho
ISABEL GERHARDT
ENVIADA ESPECIAL A LYON
"Não creio que o trabalho tenha
terminado. Temos vãos a preencher, temos genes para completar.
O trabalho continua. E não vai ser
fácil produzir conhecimento a
partir desse enorme volume de
dados que temos."
A afirmação de Jean Weissenbach, do Genoscope (Centro Nacional de Sequenciamento de Genes Francês), a respeito da publicação dos artigos científicos sobre
o genoma humano, foi dada durante o jantar organizado pela Celera, durante o Fórum Mundial
sobre Ciências da Vida, que terminou na semana passada em
Lyon, França.
O jantar, cujo tema foi justamente "Sequenciando o Genoma:
E Daí?", reuniu num debate regado a Crozes-Hermitage alguns
cientistas -entre eles Craig Venter, presidente da Celera (leia texto abaixo)- para discutir o que
se pode esperar do pós-genoma.
Fase pós-genoma? Não para
Craig Venter. "A genômica recém
começou. O que precisamos agora é de mais genomas. O do camundongo já está a caminho, a
Celera começou o do cachorro.
Com amostras de DNA extraídas
do meu poodle", brincou.
Piadas à parte, certamente o que
se pode esperar de mais imediato
é o crescimento da genômica
comparativa -a comparação dos
dados de vários genomas, na busca por semelhanças (ou diferenças) que ajudem a explicar por
que os organismos são como são.
"Não temos algoritmos para
prever todos os genes humanos
desse volume de informação. Vamos ter de partir para genômica
comparativa", afirmou Venter.
Os cientistas presentes no jantar
foram unânimes em concordar
que o que nos difere de um cachorro, gato ou chimpanzé talvez
não seja nem diferentes tipos de
genes regulatórios (responsáveis
pela produção de proteínas que
interferem na ativação de outros
genes), mas a quantidade e o momento em que essas proteínas que
eles codificam são produzidas.
Outra área que deverá atrair
atenção (e que na verdade poderá
ser mais um foco de competição
entre Craig Venter e Francis Collins, do Projeto Genoma Humano) é a dos SNPs (ou "snips").
Os SNPs (sigla em inglês para
polimorfismo em um único nucleotídeo) são variações na sequência de DNA, de pessoa para
pessoa, e que ocorrem a cada 100
ou 300 pares de bases. Um exemplo: Maria tem em seu genoma a
sequência AAATTTCGCCGGTA.
Essa mesma sequência em João
pode ser AAATTTCGCCGGTT.
Ou seja, houve uma alteração em
um único nucleotídeo. Essa alteração pode ser a diferença entre
Maria ter um gene que produz
uma proteína defeituosa ou não.
Enquanto o Consórcio de SNPs
(que reúne instituições públicas e
empresas) se dispõe a depositar
nos bancos de dados todos os
SNPs encontrados, a Celera tem
seu próprio banco de SNPs
-com mais de 4 milhões de
exemplares. O consórcio chegou,
neste mês, a 3 milhões de SNPs.
Tanto Venter como Collins chamaram a atenção para três aspectos que deverão ser mais estudados a partir de agora. O primeiro
deles está relacionado a interações dos genes com o ambiente
-como fatores ambientais podem influenciar a ação dos genes.
Aqui, a tecnologia que deverá
ser utilizada é a dos chips de DNA.
Esses chips indicam quais os genes ativados e com que intensidade quando submetidos a condições ambientais diferentes.
O segundo aspecto, que está de
certo modo aliado ao primeiro, é
a alteração de características herdáveis que ocorrem sem que haja
mudança na sequência de DNA.
Ao reconhecer a importância da
ação do ambiente sobre as funções do organismo, os cientistas
precisarão descobrir, então, como
atuam as proteínas. Afinal, são
elas os blocos construtores de células e tecidos e os agentes responsáveis pelo funcionamento do
corpo humano. Certamente outra
área que significará muito no futuro, mas que ainda requer muito
trabalho para o desenvolvimento
de tecnologias rápidas e baratas é
a da proteômica -o estudo de todas as proteínas que existem em
uma célula, tecido ou organismo.
Proteínas são muito mais complexas e difíceis de trabalhar do
que DNA. Exigem etapas de produção e purificação para seu manuseio que são trabalhosas.
O objetivo final de um projeto
proteoma -a determinação da
estrutura tridimensional das proteínas- exige técnicas caras, como cristalografia de raios X, ressonância magnética e espectrometria de massa.
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