|
Próximo Texto | Índice
Plano nacional para clima deve sair logo, diz cientista
Projeto deve ter meta de redução do desmatamento e economia de combustível
Governo Lula só terá tempo de ajudar se tomar iniciativa até dezembro, diz físico que coordena Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas
EDUARDO GERAQUE
ENVIADO ESPECIAL A BELÉM
Até o final do ano o governo
precisa apresentar um plano
consolidado de adaptação e mitigação ao aquecimento global.
Segundo o físico Luiz Pinguelli
Rosa, secretário-executivo do
Fórum Brasileiro de Mudanças
Climáticas, o país não pode esperar mais do que isso para tomar uma atitude.
"Um plano desse tipo é permanente, vai se refazendo de
quando em quando. Se não
houver uma proposta substancial até dezembro, vai ser difícil
que algo seja feito ainda neste
mandato do presidente Lula",
disse Pinguelli à Folha.
Na opinião do físico, o plano
do governo deve considerar no
mínimo dois aspectos: metas
de redução do desmatamento
na Amazônia e corte no consumo de combustíveis fósseis pelos automóveis. Pinguelli, que
também é pesquisador da
UFRJ (Universidade Federal
do Rio de Janeiro), detalhou
sua posição ontem em Belém,
em palestra na reunião anual
da SBPC (Sociedade Brasileira
para o Progresso da Ciência).
Anteontem, em Brasília, Pinguelli se reunira com o ministro Roberto Mangabeira Unger
(Secretaria de Planejamento de
Ações de Longo Prazo) para
discutir a questão das mudanças climáticas globais.
O fórum -que é presidido
pelo presidente da República e
conta com participantes do
próprio governo e dos setores
acadêmico, empresarial e da
sociedade civil organizada-
entregou no mês passado um
relatório com um conjunto de
sugestões para ser incorporadas ao futuro plano que o governo deve fazer.
"Tenho clareza que nosso
documento, digamos, é intelectual. Ele tem uma certa coerência, os pontos são muitos concretos. Mas a minha pergunta
agora é: quais desses [itens] serão considerados?"
Pontos polêmicos
Um dos pontos principais de
um futuro plano, segundo Pinguelli, é o estabelecimento de
metas de redução do desmatamento da Amazônia. Esse processo, muitas vezes ilegal, contribui com três quartos das
emissões de gases de efeito-estufa do Brasil, segundo números já antigos, de 1994.
"Não vejo porque isso não
pode ser feito. Metas precisam
ser definidas sim". De acordo
com Pinguelli, o Fórum de Mudanças Climáticas ainda não
fez nenhum tipo de cálculo sobre qual seria a meta ideal.
"[Evitamos] isso para não engessar nada antes", afirmou.
"Talvez seja possível usar os
números dos três últimos anos
e fazer uma projeção para os
três próximos", disse o físico.
"Na questão dos automóveis,
por exemplo, a nossa proposta
é algo perfeitamente factível, e
no Rio de Janeiro já se faz. É
uma aferição anual da situação
dos veículos, das emissões de
carbono."
Com seu entusiasmo retórico, já conhecido por outros
cientistas, Pinguelli usou o
exemplo do transporte urbano
para defender uma mudança
nos padrões atuais de consumo. "Veja o caso dos grandes jipões: é um absurdo o que essas
grandes picapes consomem",
afirmou. "Precisamos desenvolver uma espécie de índice de
eficiência energética e ligar isso
a algum tipo de taxação", defende o pesquisador.
Crítico da energia nuclear há
décadas, Pinguelli é cético
quanto ao papel dessa tecnologia no combate ao efeito estufa.
"É um absurdo o que vai ser
gasto com Angra 3", diz "Não
consegui entender por que ela
será tão cara". Hidrelétricas,
para ele, são mais viáveis, "desde que os problemas ambientais sejam considerados". "Se a
sociedade acha que o impacto
negativo vai ser fato, que não se
construa a usina", diz.
Próximo Texto: Experimento terá verba para segunda fase Índice
|