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GENÉTICA
Técnica usada por cientistas da USP bloqueia formação de artérias que alimentam câncer de pele de camundongos
DNA-sósia corta suprimento de tumores
REINALDO JOSÉ LOPES
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Com a ajuda de apenas 22 "letras" químicas de DNA, pesquisadores da Faculdade de Medicina
da USP conseguiram reduzir a
quantidade de vasos sanguíneos
que alimentavam um tipo de tumor de pele. A estratégia conseguiu matar de fome parte do câncer e pode se tornar, no futuro,
uma arma contra a doença.
"O experimento não foi pensado para induzir uma morte generalizada no tecido tumoral, mas
mesmo assim o resultado foi bem
consistente. Por isso é que achamos o resultado promissor", afirma o médico Roger Chammas,
38, do Laboratório de Oncologia
Experimental. Ainda há, no entanto, vários passos a percorrer
em animais (como os camundongos com os quais foi feito esse primeiro teste) antes que o sistema
possa ser usado em pessoas.
Os roedores foram tratados de
um tumor enxertado de melanoma (uma forma de câncer de pele). O princípio explorado por
Chammas, Martin Metzger e Estela Novak, com a ajuda de outros
pesquisadores da USP e da Fundação Pró-Sangue de São Paulo, é
um velho conhecido de todos os
exércitos: nenhum inimigo resiste
à falta de suprimentos.
Diferentemente de uma cidade
sitiada, os tumores conseguem
seu alimento -nutrientes de todos os tipos e oxigênio para sua
respiração celular- a partir dos
vasos sanguíneos que os abastecem. Se o sangue não chegar até o
foco de câncer, supõem os cientistas, ele inevitavelmente se rende.
Sósias genéticos
O problema, no entanto, é parar
o fluxo de sangue em direção ao
tumor. A equipe escolheu um engenhoso caminho genético.
Quando o tumor cresce, uma
série de trechos de DNA são acionados para manter as linhas de
suprimentos da célula funcionando, estimulando a criação de artérias novas e desobstruídas. Atrapalhar o funcionamento de um
deles poderia pôr a rede abaixo.
Para conseguir isso, o truque foi
inundar o tumor com sósias genéticos -a tal sequência de 22 "letras" de DNA. Essa pequena fita
corresponde, na verdade, a um fator de transcrição, ou seja, um trecho de DNA que, ativado, faz um
ou mais genes começarem a funcionar, como um interruptor.
Os sósias injetados nos tumores
de 25 camundongos tinham a
missão de substituir o fator Sp1,
essencial para a criação e manutenção dos vasos sanguíneos.
A coisa funciona no melhor estilo "O Homem da Máscara de Ferro", filme no qual um sósia do rei
da França (na verdade, seu irmão
gêmeo) começa a dar ordens muito diferentes das que o verdadeiro
monarca daria. As 22 "letras" de
DNA passam a competir com o
verdadeiro Sp1, e as proteínas do
tumor que normalmente se ligariam a ele e o ativariam acabam,
muitas vezes, caindo na esparrela.
Assim, em vez de se ligar ao fator
de transcrição verdadeiro, elas
acabam inutilizadas, grudadas
nas várias cópias do sósia.
Quando o tecido dos melanomas nos camundongos foi analisado, os pesquisadores verificaram que a estratégia reduziu a
quantidade de vasos sanguíneos
abastecendo os tumores para um
terço do que haveria sem a presença do DNA-sósia. A área do tumor que acabou morta foi menor,
cerca de 6% dele.
Mesmo assim, Chammas se
mostra otimista: "Com a injeção,
você está diluindo o efeito por todo o tumor. Podemos projetar estratégias que direcionem o DNA
para cada célula tumoral", afirma
o pesquisador da USP.
O trabalho está na edição deste
mês da revista científica "Gene
Therapy" (www.nature.com/gt)
e foi financiado pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de São Paulo).
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