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ESPAÇO
Estudo indica problemas de saúde causados por combustível de foguetes em Baikonur, principal base usada pela Rússia
Lançamento russo adoece crianças no Cazaquistão
DA REDAÇÃO
Um estudo ainda não-publicado indica que a realização de lançamentos de foguetes a partir do
centro de Baikonur, no Cazaquistão, está contaminando a população local. A informação foi divulgada por numa reportagem na
edição de hoje na revista científica
britânica "Nature".
A base é o principal centro de
lançamentos administrado pela
Rússia. Foi de lá que foram lançados o primeiro satélite artificial (o
Sputnik-1, em 1957) e o primeiro
homem a orbitar a Terra (Yuri
Gagarin, em 1961). A base hoje está mais ativa do que nunca, enviando tripulações e suprimentos
à ISS (Estação Espacial Internacional) rotineiramente e promovendo o lançamento de satélites.
O estudo foi realizado por cientistas do Centro de Pesquisa Estatal de Virologia e Biotecnologia,
em Novosibirsk, Rússia. O grupo,
liderado por Sergey Zykov, comparou os registros de saúde de
cerca de mil crianças em duas regiões poluídas pelos lançamentos
entre 1998 e 2000 com registros de
330 crianças de áreas não-atingidas. O resultado: as crianças nas
áreas atingidas apresentaram
duas vezes mais probabilidade de
precisar de cuidados médicos durante os três anos da investigação
e precisaram de atendimento por
um período duas vezes maior.
Os dados vieram da República
de Altai, região da Sibéria que sofre contaminações por um combustível de foguetes sabidamente
tóxico, chamado dimetil-hidrazina. Ele é usado para alimentar os
primeiros estágios de alguns dos
lançadores espaciais russos. "O
mais famoso deles é o Proton, foguete que eles usam para transportar cargas pesadas, de várias
toneladas", diz José Nivaldo
Hinckel, engenheiro do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), em São José dos Campos.
O Proton, que já teve décadas de
uso e serviu para colocar módulos
das estações Salyut, Mir e ISS em
órbita, continua na linha de frente
dos lançadores russos: só neste
ano, ele voltará a ser usado para
lançar dois satélites de telecomunicações a partir de Baikonur.
Zykov estima que um lançamento típico resulte no derramamento de dezenas de litros de
combustível sobre vários quilômetros quadrados de terra.
Questionada pela "Nature", a
Rosaviakosmos (agência aeroespacial russa) disse rejeitar as conclusões do estudo de Zykov. O
porta-voz Vyacheslav Davidenko
diz que a agência monitora constantemente a saúde das populações locais e não encontrou problema algum com o lançamento.
Em editorial, a publicação britânica pede que a Rosaviakosmos
banque um estudo independente
para avaliar as conclusões obtidas
e que Nasa e ESA (agências espaciais americana e européia) se ofereçam para participar do esforço.
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