São Paulo, quinta-feira, 13 de janeiro de 2005

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Brasil usará a mesma tecnologia

SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O foguete ucraniano que será usado no Centro de Lançamento de Alcântara a partir de 2008 para promover lançamentos comerciais usa o mesmo combustível tóxico que causou as contaminações nos arredores de Baikonur.
Segundo um acordo de cooperação assinado entre Brasil e Ucrânia para promover lançamentos de satélites em parceria, o foguete usado será o Cyclone-4, lançador de uma família de mísseis criada durante a Guerra Fria pela União Soviética e agora sob domínio ucraniano.
Ele é alimentado por dimetil-hidrazina, um combustível altamente tóxico. "Isso complica um pouco o manuseio, mas não é tão difícil", diz José Nivaldo Hinckel, engenheiro do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, em São José dos Campos (SP). "O problema é se ocorrer uma falha do foguete logo depois do lançamento, ainda em uma baixa altitude."
Segundo Hinckel, um acidente desse tipo poderia contaminar as regiões circundantes, ameaçando a população local e o ambiente.
Não que isso tenha desencorajado outras nações em épocas anteriores. "Esse é um propelente tradicional. Índia e China usam, alguns foguetes americanos, os europeus chegaram a usar", diz.
Atualmente, entretanto, os cientistas de foguetes estão adotando soluções menos tóxicas e agressivas ao ambiente. "O Ariane-4, europeu, usava dimetil-hidrazina. Quando fizeram o Ariane-5, trocaram para hidrogênio líquido", diz Hinckel. "Os russos também estão desenvolvendo um substituto para o Proton."
Ele questiona o fato de o Brasil adotar essa tecnologia, quando o resto do mundo, ainda que vagarosamente, parece ir na contramão. "Para quem já tem uma infra-estrutura pronta, é mais difícil abandonar essa tecnologia", afirma Hinckel. "Mas para quem está construindo um sistema novo agora, como é o caso do Brasil, talvez valesse a pena já buscar alternativas mais adequadas."
Procurada pela Folha, a AEB (Agência Espacial Brasileira) disse que avaliou a parceria com a Ucrânia à luz do fato de que todos os combustíveis usados no segmento espacial tem algum grau de toxicidade. "A comunidade científica e tecnológica espacial do país teve conhecimento do tipo de combustível do lançador Cyclone-4 e a AEB tem estimulado estudos sobre os impactos causados ao ambiente pelos combustíveis em uso", disse Vânia Gurgel, porta-voz da agência.

Deep Impact
A sonda norte-americana Deep Impact, que vai se chocar com um cometa em 4 de julho, foi lançada com sucesso ontem, da Flórida, a bordo de um foguete Delta-2.


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