|
Texto Anterior | Índice
Brasil usará a mesma tecnologia
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
O foguete ucraniano que será
usado no Centro de Lançamento
de Alcântara a partir de 2008 para
promover lançamentos comerciais usa o mesmo combustível
tóxico que causou as contaminações nos arredores de Baikonur.
Segundo um acordo de cooperação assinado entre Brasil e
Ucrânia para promover lançamentos de satélites em parceria, o
foguete usado será o Cyclone-4,
lançador de uma família de mísseis criada durante a Guerra Fria
pela União Soviética e agora sob
domínio ucraniano.
Ele é alimentado por dimetil-hidrazina, um combustível altamente tóxico. "Isso complica um
pouco o manuseio, mas não é tão
difícil", diz José Nivaldo Hinckel,
engenheiro do Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais, em São José dos Campos (SP). "O problema
é se ocorrer uma falha do foguete
logo depois do lançamento, ainda
em uma baixa altitude."
Segundo Hinckel, um acidente
desse tipo poderia contaminar as
regiões circundantes, ameaçando
a população local e o ambiente.
Não que isso tenha desencorajado outras nações em épocas anteriores. "Esse é um propelente tradicional. Índia e China usam, alguns foguetes americanos, os europeus chegaram a usar", diz.
Atualmente, entretanto, os
cientistas de foguetes estão adotando soluções menos tóxicas e
agressivas ao ambiente. "O Ariane-4, europeu, usava dimetil-hidrazina. Quando fizeram o Ariane-5, trocaram para hidrogênio
líquido", diz Hinckel. "Os russos
também estão desenvolvendo um
substituto para o Proton."
Ele questiona o fato de o Brasil
adotar essa tecnologia, quando o
resto do mundo, ainda que vagarosamente, parece ir na contramão. "Para quem já tem uma infra-estrutura pronta, é mais difícil
abandonar essa tecnologia", afirma Hinckel. "Mas para quem está
construindo um sistema novo
agora, como é o caso do Brasil,
talvez valesse a pena já buscar alternativas mais adequadas."
Procurada pela Folha, a AEB
(Agência Espacial Brasileira) disse que avaliou a parceria com a
Ucrânia à luz do fato de que todos
os combustíveis usados no segmento espacial tem algum grau
de toxicidade. "A comunidade
científica e tecnológica espacial
do país teve conhecimento do tipo de combustível do lançador
Cyclone-4 e a AEB tem estimulado estudos sobre os impactos
causados ao ambiente pelos combustíveis em uso", disse Vânia
Gurgel, porta-voz da agência.
Deep Impact
A sonda norte-americana Deep
Impact, que vai se chocar com um
cometa em 4 de julho, foi lançada
com sucesso ontem, da Flórida, a
bordo de um foguete Delta-2.
Texto Anterior: Espaço: Lançamento russo adoece crianças no Cazaquistão Índice
|