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PROMESSA NA MEDICINA
Experimento inédito abre perspectiva de transplantes celulares sem risco de rejeição
Coréia gera células-tronco a partir de clone humano
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
A clonagem humana, para objetivos terapêuticos ou polêmicos
fins reprodutivos, tornou-se bem
mais viável graças ao trabalho de
cientistas na Coréia do Sul. A
equipe conseguiu produzir pela
primeira vez as chamadas células-tronco embrionárias a partir de
um embrião humano clonado.
Mais especificamente, de um estágio inicial conhecido como
"blastocisto", uma esfera oca contendo cerca de cem células.
A clonagem dita terapêutica envolveria a produção de células específicas para reparar defeitos
num organismo. Seria uma forma
de transplante, só que, em vez de
órgãos inteiros (como um coração ou um rim), a clonagem terapêutica empregaria células -como as do sangue, as nervosas, ou
as produtoras de substâncias que
faltam ao corpo, como a insulina.
Os pesquisadores sul-coreanos
criaram pela primeira vez uma linhagem de células "pluripotentes", ou seja, capazes de se transformar em outras de vários tipos,
podendo servir como fonte de células reparadoras variadas.
O estudo, realizado por uma
equipe de 15 pesquisadores liderada por Woo Suk Hwang, especialista em clonagem veterinária
da Universidade Nacional de
Seul, e incluindo o americano José
B. Cibelli (nascido na Argentina),
da Universidade do Estado de Michigan, foi publicado hoje, eletronicamente, pela revista científica
norte-americana "Science"
(www.sciencexpress.org).
O editor-chefe da revista, Donald Kennedy, foi cauteloso: "O
potencial das células-tronco embrionárias é enorme, mas os pesquisadores ainda precisam superar obstáculos científicos significativos", afirmou em editorial.
O método de clonagem é o mesmo tradicionalmente usado para
clonar animais como a ovelha
Dolly, a transferência de núcleo
de células somáticas (células normais do corpo, distintas das reprodutivas, o óvulo da mulher e o
espermatozóide do homem). O
núcleo é o local da célula que
guarda o seu material genético.
A clonagem terapêutica envolve
colocar o núcleo de uma célula somática em um oócito, o óvulo em
desenvolvimento. "Em teoria, o
citoplasma do oócito reprogramaria o núcleo transferido ao silenciar todos os genes de célula
somática e ao ativar os genes embrionários", dizem os autores.
Células embrionárias
Com isso, torna-se possível obter e isolar células-tronco embrionárias -ainda não diferenciadas
(transformadas) em outros tipos- nesse momento inicial do
desenvolvimento do embrião, o
blastocisto. Elas seriam então cultivadas e transformadas no tipo
de célula necessária ao paciente.
Uma das vantagens que os pesquisadores coreanos tiveram foi a
grande disponibilidade de óvulos,
pois foi possível refinar diversos
aspectos do método, como o tempo de maturação e os compostos
químicos usados para tratá-los.
Eles retiraram 242 óvulos de 16
mulheres, além das células que
doaram o núcleo, as células "cumulus" (que envolvem os óvulos
em desenvolvimento no ovário e
têm apresentado bom desempenho em processos de clonagem).
Cautela ética
Os cientistas tiveram o cuidado
ético de informar as mulheres de
que o objetivo da pesquisa era
apenas a clonagem terapêutica, e
não a reprodutiva. Elas não receberam dinheiro pelos óvulos.
Em entrevista coletiva realizada
ontem, o grupo pediu que a clonagem reprodutiva fosse proibida
em todos os países do mundo.
Assim como a clonagem pioneira de Dolly envolveu muitos experimentos que falharam, a equipe
sul-coreana só conseguiu sucesso
após várias tentativas. Em um dos
experimentos apenas 19 de 66
óvulos clonados chegaram ao estágio de blastocisto. O resultado é
limitado, "mas, nessa altura do jogo, é encorajador", declarou à
"Science" o pesquisador britânico
Ian Wilmut, do Instituto Roslin,
um dos "pais" de Dolly.
Outro problema da técnica foi
reconhecido pelos próprios autores. Como tanto os óvulos como
as células "cumulus" vieram da
mesma mulher, haveria a possibilidade de o embrião ser formado
pelo chamado "nascimento virgem", ou partenogênese.
Esse é um método de reprodução encontrável em insetos, não
em mamíferos, mas já observado
em linhagens de células humanas.
Testes adicionais do material genético foram feitos para ajudar a
pôr de lado a hipótese, mas ela
ainda não foi de todo descartada.
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