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AIDS
Estudo feito pela USP e pela Unifesp avaliou efeitos de mutações do vírus em 103 infectados da capital
Paulistano está livre de HIV resistente
GABRIELA SCHEINBERG
da Reportagem Local
Não há uma epidemia de HIV
resistentes a drogas na cidade de
São Paulo. É o que indica estudo
que avaliou os genes do vírus causador da Aids, realizado por cientistas da Universidade de São
Paulo (USP) e da Universidade
Federal de São Paulo (Unifesp).
O HIV cria resistência aos medicamentos que compõem o chamado coquetel como uma forma
de sobreviver no corpo infectado.
Se a variedade resistente predominar, o remédio perde eficácia
para aquela pessoa.
Pesquisadores observaram que,
com o uso de medicamentos por
períodos cada vez mais longos,
aumentava o número de HIVs resistentes. Pessoas infectadas por
esse "supervírus" o transmitiam
então para outras.
Quando isso ocorria, a pessoa
recém-infectada era contaminada
por um HIV resistente a drogas
-mesmo sem nunca ter tomado
remédios contra o HIV.
De acordo com o estudo, os
paulistanos não estão transmitindo HIVs resistentes aos medicamentos. Mas isso não significa
que não há resistência aos remédios que compõem o coquetel anti-Aids na capital paulista.
"A resistência que foi observada
nos pacientes avaliados na pesquisa não era causada pelos medicamentos, mas pela própria natureza do vírus, que se modifica
constantemente", afirma Paolo
Zanotto, coordenador do estudo.
Três genes em exame
Durante a pesquisa, 103 pessoas
infectadas pelo vírus que nunca
haviam tomado remédios contra
o HIV foram investigadas. Amostras de sangue desses pacientes
foram enviadas aos laboratórios
da USP e da Unifesp.
Três genes do HIV foram então
avaliados. O objetivo era descobrir se os vírus eram resistentes.
Zanotto informa que 12,3% dos
pacientes tinham mutações nos
genes investigados que conferiam
resistência aos medicamentos.
A resistência mais comum observada era à classe de drogas chamada inibidores da transcriptase
reversa não-análogo de nucleosídeos. Cerca de 30% dos que tomam o coquetel no Brasil ingerem essa classe de ingrediente.
Zanotto decidiu descobrir se as
mutações observadas eram consequência do uso de drogas ou se
elas tinham ocorrido ao acaso.
Há dois tipos de mutações. A
primeira, chamada não-sinônima, ocorre como consequência
da pressão dos medicamentos sobre o HIV. A segunda, sinônima,
ocorre ao acaso.
O HIV é um vírus que se multiplica muito rápido. Por isso, muda de composição genética facilmente. Algumas dessas modificações podem conferir resistência.
No entanto, não houve pressão
para que o vírus se tornasse resistente. Isso ocorreu ao acaso.
Zanotto mediu as mutações e
descobriu que havia um número
maior de sinônimas, o que indica
que o HIV tornou-se resistente
devido à capacidade de replicar-se rapidamente e alterar a sua
composição genética.
Cautela
O fato de não haver a transmissão de genes resistentes em São
Paulo animou os infectologistas.
"Esse é o grande problema que estamos enfrentando hoje", disse
Caio Rosenthal, infectologista do
Hospital Emílio Ribas e do Hospital do Servidor Público Estadual,
em São Paulo.
No entanto, ainda é preciso tomar cuidado para evitar que esse
quadro mude. "O HIV pode se
tornar resistente se o paciente não
tomar os medicamentos corretamente", diz Rosenthal. "É preciso
evitar a resistência. O uso disciplinado do coquetel é a melhor forma de fazer isso."
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