São Paulo, quinta-feira, 13 de abril de 2000


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AIDS
Estudo feito pela USP e pela Unifesp avaliou efeitos de mutações do vírus em 103 infectados da capital
Paulistano está livre de HIV resistente

GABRIELA SCHEINBERG
da Reportagem Local

Não há uma epidemia de HIV resistentes a drogas na cidade de São Paulo. É o que indica estudo que avaliou os genes do vírus causador da Aids, realizado por cientistas da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
O HIV cria resistência aos medicamentos que compõem o chamado coquetel como uma forma de sobreviver no corpo infectado. Se a variedade resistente predominar, o remédio perde eficácia para aquela pessoa.
Pesquisadores observaram que, com o uso de medicamentos por períodos cada vez mais longos, aumentava o número de HIVs resistentes. Pessoas infectadas por esse "supervírus" o transmitiam então para outras.
Quando isso ocorria, a pessoa recém-infectada era contaminada por um HIV resistente a drogas -mesmo sem nunca ter tomado remédios contra o HIV.
De acordo com o estudo, os paulistanos não estão transmitindo HIVs resistentes aos medicamentos. Mas isso não significa que não há resistência aos remédios que compõem o coquetel anti-Aids na capital paulista.
"A resistência que foi observada nos pacientes avaliados na pesquisa não era causada pelos medicamentos, mas pela própria natureza do vírus, que se modifica constantemente", afirma Paolo Zanotto, coordenador do estudo.

Três genes em exame
Durante a pesquisa, 103 pessoas infectadas pelo vírus que nunca haviam tomado remédios contra o HIV foram investigadas. Amostras de sangue desses pacientes foram enviadas aos laboratórios da USP e da Unifesp.
Três genes do HIV foram então avaliados. O objetivo era descobrir se os vírus eram resistentes. Zanotto informa que 12,3% dos pacientes tinham mutações nos genes investigados que conferiam resistência aos medicamentos.
A resistência mais comum observada era à classe de drogas chamada inibidores da transcriptase reversa não-análogo de nucleosídeos. Cerca de 30% dos que tomam o coquetel no Brasil ingerem essa classe de ingrediente.
Zanotto decidiu descobrir se as mutações observadas eram consequência do uso de drogas ou se elas tinham ocorrido ao acaso.
Há dois tipos de mutações. A primeira, chamada não-sinônima, ocorre como consequência da pressão dos medicamentos sobre o HIV. A segunda, sinônima, ocorre ao acaso.
O HIV é um vírus que se multiplica muito rápido. Por isso, muda de composição genética facilmente. Algumas dessas modificações podem conferir resistência. No entanto, não houve pressão para que o vírus se tornasse resistente. Isso ocorreu ao acaso.
Zanotto mediu as mutações e descobriu que havia um número maior de sinônimas, o que indica que o HIV tornou-se resistente devido à capacidade de replicar-se rapidamente e alterar a sua composição genética.
Cautela
O fato de não haver a transmissão de genes resistentes em São Paulo animou os infectologistas. "Esse é o grande problema que estamos enfrentando hoje", disse Caio Rosenthal, infectologista do Hospital Emílio Ribas e do Hospital do Servidor Público Estadual, em São Paulo.
No entanto, ainda é preciso tomar cuidado para evitar que esse quadro mude. "O HIV pode se tornar resistente se o paciente não tomar os medicamentos corretamente", diz Rosenthal. "É preciso evitar a resistência. O uso disciplinado do coquetel é a melhor forma de fazer isso."


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