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MEDICINA
Testes feitos em camundongos e cães tiveram bom resultado; droga agora caminha para os testes com humanos
Substância cola osso sem efeito colateral
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Cientistas dos EUA e da Croácia
descobriram uma substância capaz de promover a regeneração
de ossos que pode virar um novo
tratamento para fraturas, se passar nos testes com humanos.
Os resultados dos experimentos, feitos primeiro com camundongos e depois com cães da raça
beagle, foram publicados ontem
on-line pela revista da Academia
Nacional de Ciências americana, a
"PNAS" (www.pnas.org).
No artigo, os pesquisadores relatam o sucesso na restituição de
danos ósseos que normalmente
teriam boa chance de sofrer, na
melhor das hipóteses, uma regeneração parcial. "Usamos modelos que geralmente representam a
"pior das hipóteses" em fraturas
humanas", disse David Thompson, do setor de pesquisa da companhia farmacêutica Pfizer, a
principal financiadora do estudo.
Tratamentos com efeito similar
já existem, mas com alguns inconvenientes. "Há um método
que usa a injeção de proteínas,
mas essas substâncias estimulam
a formação de anticorpos e são
menos estáveis", explica Thompson. "A nossa é uma molécula pequena, não-protéica, e pode ser
ministrada por injeção. No caso
do outro tratamento, é preciso inserir as proteínas cirurgicamente,
embebidas numa esponja colocada no local da fratura."
Como era de esperar, já que se
trata de uma empresa farmacêutica em busca de patente, os cientistas não revelam o que há na substância. No estudo, ela é chamada
apenas de CP-533.536. "É o código que damos a cada um dos
compostos aqui na Pfizer, para
catalogação", diz o pesquisador.
Tudo que se sabe é que a substância age num receptor específico de uma proteína conhecida como prostaglandina E2. Proteínas
são as engrenagens que fazem um
corpo funcionar. Seu formato determina em que receptores elas
são capazes de encaixar, e a junção de uma proteína a um receptor desencadeia algum processo
específico no organismo.
A prostaglandina age no organismo ativando, entre outras coisas, o processo de regeneração óssea. Só que ela também se liga a
um monte de outras "fechaduras"
químicas (receptores), que servem a funções diferentes. Isso faz
com que o uso dessa substância
como medicamento cause, além
de reconstituição do osso, diarréia, letargia e rubores.
O segredo da CP-533.536 é agir
especificamente em um dos receptores da prostaglandina, sem
tocar nos demais. Os pesquisadores observaram a reconstituição
óssea sem os efeitos colaterais.
"Até agora não [vimos problemas
com a droga], mas é muito cedo
para dizer que isso não virá a
acontecer", diz Thompson.
A busca da Pfizer, feita em parceria com a Atrix Laboratories,
Inc. e com a Universidade de Zagreb, na Croácia, por uma substância com essas características já
tinha dois anos. Os cientistas agora estão iniciando os testes clínicos, mas ainda não têm resultados
para apresentar.
No laboratório, a busca por
compostos ainda mais eficientes
continua. Enquanto isso, a CP-533.536 será testada e, se tudo correr bem, pode eventualmente ganhar o mercado. "Mas esse processo é lento, deve demorar cinco
anos ou mais", afirma o cientista.
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