São Paulo, sexta-feira, 13 de junho de 2008

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Ricos têm proposta "vaga" contra emissões

Yvo de Boer, chefe da Convenção do Clima da ONU, diz que G8 deve cortar CO2 em 2020 e não só em 2050

RENATE KRIEGER
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM BONN

Yvo de Boer, secretário-executivo da Convenção do Clima das Nações Unidas, exortou ontem os países industrializados a detalhar melhor suas idéias no âmbito das negociações de um novo acordo de combate aos efeitos das mudanças climáticas para substituir o protocolo de Kyoto, a partir de 2013.
Segundo De Boer, os países em desenvolvimento ainda estão esperando um sinal dos países ricos sobre o qual será sua contribuição. Muitas das posições ainda são "incrivelmente vagas", um fato especialmente preocupante para o resultado das negociações.
"Politicamente, teremos sérios problemas se Copenhague falhar", afirmou De Boer a jornalistas, um dia antes do fim da segunda rodada de negociações da Convenção do Clima em Bonn. O encontro termina hoje e é parte de uma série de oito reuniões que culminará com a redação do novo tratado na capital dinamarquesa, em 2009.
Para De Boer, o fator mais crítico das negociações é o financiamento de medidas para que os pobres possam lutar contra as mudanças climáticas. O combate ao aquecimento global deverá custar cerca de 150 bilhões anuais até 2030. A conta poderia ser atenuada com o chamado Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), através do qual países industrializados investem em projetos ambientais nos países pobres em troca de créditos de carbono. Se os ricos concordarem em reduzir suas emissões de poluentes em até 80% até a metade do século, o MDL poderia gerar cerca de 100 bilhões de dólares anuais.
Alguns dos 172 países reunidos em Bonn também consideram alterar para 2005 o ano-base dos cálculos para metas de redução do CO2. Hoje, os cientistas fazem projeções partindo dos níveis de poluição registrados em 1990. O IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas) disse no ano passado que as nações desenvolvidas teriam que cortar suas emissões entre 25 e 40% até 2020 para que a temperatura média do planeta não suba mais de 2C.
Segundo Yvo de Boer, essa idéia era impensável até um ano atrás, mas os delegados reunidos em Bonn a consideram uma maneira de incluir os Estados Unidos, que não ratificaram o protocolo de Kyoto, num novo acordo.

Médio prazo
Em entrevista à Folha na quarta-feira, De Boer também pediu que o G8, grupo dos sete países mais industrializados do mundo e a Rússia, restrinja suas emissões de gases de efeito estufa até 2020.
"Acho que o G8 não deveria se concentrar apenas no longo prazo (2050), mas em como estarão os níveis de suas emissões no médio prazo", disse o holandês, questionando a relevância de metas longas para aqueles que têm interesse em usinas eólicas, por exemplo.
O Japão, país-sede da cúpula do G8 entre os dias 7 e 9 de julho, anunciou na segunda-feira que quer reduzir suas emissões de gases-estufa de 60% a 80% até o meio do século.
Na terça-feira, o presidente dos EUA, George W. Bush, afirmou durante sua visita de despedida à Europa que considera possível obter um acordo para lutar contra o aquecimento global até o final de seu mandato -se grandes economias emergentes como a Índia e a China forem incluídas na conta. Por causa dessa condição, De Boer estima que "não vai ser fácil" chegar a um consenso no âmbito do G8 (Alemanha, EUA, Reino Unido, Canadá, França, Itália e Rússia).


Com agências internacionais

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