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MEDICINA
Análise molecular indica que cânceres naquela região são iniciados no estômago;achado pode facilitar diagnóstico
Tumor de esôfago esconde a sua origem
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
O câncer do esôfago começa na
realidade no órgão vizinho, o estômago. É o que sugere uma pesquisa do Hospital do Câncer e do
Instituto Ludwig de São Paulo,
que será capa da próxima edição
do periódico "Cancer Research"
(cancerres.aacrjournals.org).
Se confirmada essa hipótese, o
estudo será o ponto de partida para novos métodos de diagnóstico
da doença que, em geral, é identificada tardiamente e mata, em
média, 6.000 brasileiros por ano.
O tumor do esôfago está entre
os dez tipos com maior incidência
no país. Para este ano, são previstos 10.590 casos novos deste câncer, segundo o Inca (Instituto Nacional do Câncer).
Há dois tipos de câncer do esôfago: o epidermóide e o adenocarcinoma, que afeta principalmente
a região próxima à transição do
estômago para o esôfago. Foi esse
o tipo de câncer estudado na pesquisa que envolveu 71 pacientes
do Hospital da Câncer.
Segundo o oncologista Rubens
Antonio Aissar Sallum, que participou da pesquisa, nas últimas décadas, a taxa de incidência do adenocarcinoma saltou de 10% para
30% dos casos em São Paulo -e
para 50% na Europa.
Os principais fatores de risco
para esse tumor são obesidade,
doença do refluxo (em que sucos
gástrico e biliar invadem o esôfago), cigarro, álcool e alta concentração de nitratos e nitritos em razão do consumo de embutidos,
conservantes e alimentos com altas doses de agrotóxicos.
O médico explica que essas
agressões provocam uma inflamação crônica no tecido normal
do esôfago, que passa a ter um outro revestimento, formado pelas
chamadas células colunares. Essa
troca celular é chamada de esôfago de Barrett, problema que, historicamente, sempre foi relacionado ao câncer de esôfago.
A nova pesquisa deve mudar esse cenário. A equipe liderada pelo
médico Luiz Fernando Lima Reis
analisou o perfil molecular dos diferentes tecidos envolvidos nesse
processo, como do revestimento
da cárdia (região do estômago
muito próxima à linha de transição com o esôfago), do esôfago
normal, do esôfago de Barrett e
do adenocarcinoma.
A surpresa da equipe veio quando verificou-se que o perfil molecular do tumor está mais próximo
das células do estômago do que
daquelas do esôfago de Barrett.
Levantou-se a possibilidade de
que as células tumorais do esôfago surjam na cárdia e migrem,
através dos vasos linfáticos, para
outras regiões do esôfago. "Ainda
será necessária a investigação de
mais casos para que a hipótese seja corroborada", diz Sallum.
Inédita, a metodologia desenvolvida pelos brasileiros, que envolveu modelos matemáticos desenvolvidos pela USP, deverá ser
aplicada por grupos estrangeiros.
Se comprovada a hipótese, Sallum acredita que será possível
uma investigação diagnóstica
mais precoce desse tipo de câncer.
"Pode ser que não se valorize
mais tanto o esôfago de Barrett e
sim a região da cárdia", diz ele.
Outra novidade do trabalho foi
estudar as vias metabólicas celulares alteradas nos diferentes tipos de tecidos e não buscar os genes causadores dos tumores.
Segundo Lima Reis, essa informação pode levar à criação de testes preditivos mais precisos, que
permitirão, no futuro, a intervenção médica antes de o processo
tumoral se instalar no organismo.
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