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Petróleo ameaça animais na Amazônia ocidental
Mapeamento vê arco de desmatamento incipiente partindo de países andinos
Peru e Equador têm mais sobreposição de áreas com biodiversidade e petróleo; escoar produto sem estrada reduz impactos, diz estudo
RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL
As regiões da Amazônia que
estão licitadas ou em processo
de licitação para exploração de
petróleo e gás já somam uma
área maior que a da França, e
praticamente todas elas estão
em regiões da floresta onde a
natureza é mais rica em espécies. Um estudo de cientistas
americanos trabalhando na
América do Sul mostra que, se a
infra-estrutura de exploração
não tentar minimizar os impactos ambientais, aves, mamíferos e anfíbios que existem
nesses 688.000 km2 podem
perder parte de seu habitat.
A sobreposição de prioridades, porém, não tem motivo especial. "Acho que é apenas azar
existir uma área tão biodiversa
e com um recurso tão cobiçado", disse à Folha o ecólogo
Clinton Jenkins, da Universidade Duke, um dos autores do
estudo, publicado ontem na revista "PLoS One". O trabalho
mapeou os projetos de exploração de petróleo em áreas de
Brasil, Colômbia, Bolívia,
Equador e Peru. O problema da
sobreposição é bem mais grave
nos dois últimos da lista.
"Há 64 blocos de exploração
cobrindo 72% da amazônia peruana (490.000 km2)", afirma o
trabalho, assinado também pelo ecólogo Stuart Pimm e cientistas de duas ONGs de conservação. "As únicas áreas com
proteção completa contra atividades de petróleo e gás são
parques nacionais e santuários
históricos, que cobrem 12% da
amazônia peruana."
Segundo Jenkins, o maior
risco para a região, porém, não
é fruto direto da extração de
petróleo. "São as estradas que
tendem a levar à maior parte
dos problemas -desmatamento, extração ilegal de madeira e
caça ilegal-, porque elas dão
acesso a áreas remotas", diz.
Transporte alternativo
O novo estudo defende que
os novos projetos de exploração tentem escoar a produção
por ferrovias e hidrovias para
evitar que estradas incentivem
a grilagem em regiões inabitadas. "Há alguns exemplos de
oleodutos sem estradas na região, e uma das empresas que
têm feito isso razoavelmente
bem é a Petrobras, em Urucu,
no Amazonas", diz Jenkins.
"Há um longo oleoduto que, pelo que eu sei, gera pouco desmatamento. Existe algum impacto, mas ele é minimizado."
Os benefícios que surgiram
do cuidado que se teve com o
projeto na região, porém, podem ser perdidos quando a rodovia BR-319, que liga Manaus
a Porto Velho, for asfaltada.
"Acredito que a construção
da BR-319 deva ser precedida
de uma melhor análise das alternativas para moldar esse
transporte, especialmente o
ferroviário e o hidroviário", diz
Virgílio Viana, ex-secretário estadual do Meio Ambiente do
Amazonas, um dos articuladores das medidas de redução de
impacto em Urucu. "Já foi feito
um estudo de viabilidade e, a
meu ver, a ferrovia é viável lá."
Jenkins também realça o
problema da existência de reservas de petróleo em terras indígenas. Nesse caso, também,
Peru e Equador são os países
com mais sobreposição. O governo equatoriano demarcou
em 2007 a chamada Zona Intangível, onde a exploração é
proibida para evitar prejudicar
as tribos que vivem isoladas na
região. Segundo Jenkins, porém, há "evidências hoje de que
eles abrangem uma área além
da zona demarcada".
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