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São Paulo, quinta-feira, 13 de novembro de 2003

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GENÉTICA

Grupo sugere que sejam comuns pessoas com diferentes repertórios de DNA nas células e que mistura ajude a saúde

Todo ser humano pode ser uma "quimera"

CLAIRE AINSWORTH
DA "NEW SCIENTIST"

Você é um médico e uma de suas pacientes, de 52 anos, vem consultá-lo muito preocupada. Um teste revelou algo inacreditável sobre dois de seus três filhos adultos. Embora os tenha concebido com o marido, que é seguramente o pai deles, o teste diz que ela não é sua mãe biológica. De algum modo ela teria dado à luz filhos de uma outra pessoa.
Não se trata de uma "pegadinha", mas de um caso real que Margot Kruskall, médica do Centro Médico Beth Israel Deaconess de Boston (EUA), enfrentou cinco anos atrás. A paciente, cujo nome fictício fica sendo "Jane", precisava de um transplante de rim, e sua família realizou exames de sangue para ver se algum parente seria um doador adequado. Quando os resultados chegaram, eram más notícias: a carta dizia abertamente que dois dos três filhos não poderiam ser seus.
Foram necessários dois anos para Kruskall e sua equipe decifrarem o enigma. Eles descobriram que Jane é uma quimera, a mistura de dois indivíduos -irmãs gêmeas não-idênticas- que se fundiram no útero da mãe.
Algumas partes de seu corpo derivaram de uma gêmea, outras partes, da outra. Parece bizarro que isso possa acontecer, mas Jane não é um caso único. Cerca de 30 exemplos similares de "quimerismo" já foram relatados.
Longe de sermos indivíduos de sangue puro, compostos por uma única linhagem de células, nossos corpos seriam mestiços celulares, coalhados de células de nossas mães, talvez até de avós e irmãos.
Durante a gravidez, o sangue da mãe e do feto são mantidos separados, mas algumas células conseguem se insinuar. Com efeito, de 80% a 90% das mulheres carregam células ou DNA de seus filhos no sangue durante a gravidez.
"Mulheres abrigam células das suas mães e dos seus filhos", afirma J. Lee Nelson, imunologista do Centro de Pesquisa de Câncer Hutchinson, em Seattle (EUA).
Para estudar isso, Nelson e sua colega Natalie Lambert têm procurado células maternas no sangue d'e mulheres adultas. Num artigo que será publicado na revista especializada "Arthritis & Rheumatism" (www.rheumatology.org/ar/ar.html), eles descrevem como a análise do sangue de 32 mulheres saudáveis mostrou que 22% delas carregam glóbulos brancos de suas mães.
Não se sabe se a troca de células entre mãe e filho é um acidente, ou se cumpre algum propósito. Um fator importante poderia ser que as células fetais transferidas para a mãe sirvam para encorajar o sistema imune materno a tolerar o feto.


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