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GENÉTICA
Grupo sugere que sejam comuns pessoas com diferentes repertórios de DNA nas células e que mistura ajude a saúde
Todo ser humano pode ser uma "quimera"
CLAIRE AINSWORTH
DA "NEW SCIENTIST"
Você é um médico e uma de
suas pacientes, de 52 anos, vem
consultá-lo muito preocupada.
Um teste revelou algo inacreditável sobre dois de seus três filhos
adultos. Embora os tenha concebido com o marido, que é seguramente o pai deles, o teste diz que
ela não é sua mãe biológica. De algum modo ela teria dado à luz filhos de uma outra pessoa.
Não se trata de uma "pegadinha", mas de um caso real que
Margot Kruskall, médica do Centro Médico Beth Israel Deaconess
de Boston (EUA), enfrentou cinco
anos atrás. A paciente, cujo nome
fictício fica sendo "Jane", precisava de um transplante de rim, e sua
família realizou exames de sangue
para ver se algum parente seria
um doador adequado. Quando os
resultados chegaram, eram más
notícias: a carta dizia abertamente
que dois dos três filhos não poderiam ser seus.
Foram necessários dois anos
para Kruskall e sua equipe decifrarem o enigma. Eles descobriram que Jane é uma quimera, a
mistura de dois indivíduos -irmãs gêmeas não-idênticas- que
se fundiram no útero da mãe.
Algumas partes de seu corpo
derivaram de uma gêmea, outras
partes, da outra. Parece bizarro
que isso possa acontecer, mas Jane não é um caso único. Cerca de
30 exemplos similares de "quimerismo" já foram relatados.
Longe de sermos indivíduos de
sangue puro, compostos por uma
única linhagem de células, nossos
corpos seriam mestiços celulares,
coalhados de células de nossas
mães, talvez até de avós e irmãos.
Durante a gravidez, o sangue da
mãe e do feto são mantidos separados, mas algumas células conseguem se insinuar. Com efeito,
de 80% a 90% das mulheres carregam células ou DNA de seus filhos
no sangue durante a gravidez.
"Mulheres abrigam células das
suas mães e dos seus filhos", afirma J. Lee Nelson, imunologista do
Centro de Pesquisa de Câncer
Hutchinson, em Seattle (EUA).
Para estudar isso, Nelson e sua
colega Natalie Lambert têm procurado células maternas no sangue d'e mulheres adultas. Num
artigo que será publicado na revista especializada "Arthritis &
Rheumatism" (www.rheumatology.org/ar/ar.html), eles descrevem como a análise do sangue de
32 mulheres saudáveis mostrou
que 22% delas carregam glóbulos
brancos de suas mães.
Não se sabe se a troca de células
entre mãe e filho é um acidente,
ou se cumpre algum propósito.
Um fator importante poderia ser
que as células fetais transferidas
para a mãe sirvam para encorajar
o sistema imune materno a tolerar o feto.
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