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São Paulo, sexta-feira, 14 de março de 2003

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MEDICINA

Alteração genética que pode ser rastreada no sangue denuncia propensão ao tumor, um dos 5 mais letais no país

Exame detecta risco de câncer no cólon

DA REUTERS

Um simples exame de sangue poderá, no futuro próximo, determinar se um indivíduo tem risco de desenvolver câncer de cólon, afirmam pesquisadores dos EUA.
Além de ajudar a prevenir aquele que é o terceiro tipo de tumor mais letal entre homens e quarto entre mulheres, a descoberta ainda pode evitar a colonoscopia, exame considerado incômodo.
Os cientistas, da Universidade Johns Hopkins, em Baltimore, encontraram uma única alteração genética que é bem mais comum em pessoas com histórico familiar de câncer de cólon e reto -e em portadores da doença- do que no restante da população.
Eles dizem que mais estudos deverão ser feitos para assegurar a consistência dos resultados, mas que esperam ter encontrado uma maneira simples e precisa de rastrear uma população saudável em busca de propensão ao tumor.
"Há testes que podem detectar a presença do câncer, como o teste PSA", afirmou o líder do estudo, Andrew Feinberg, referindo-se ao antígeno específico que pode indicar câncer de próstata. "Mas não há testes para rastrear a população e identificar pessoas com risco genético de câncer", disse.
O câncer colorretal é um dos cinco tipos de tumor mais letais no Brasil. Só no ano passado, cerca de 8.000 pessoas morreram com a doença, segundo o Instituto Nacional do Câncer. Nos EUA, em 2003, estima-se que esse número chegue a 57 mil.
Os médicos aconselham pessoas acima de 50 anos a se submeter a colonoscopia (que consiste em examinar o cólon e o reto com uma sonda óptica) para evitar o surgimento do tumor, mas muitas relutam em fazer o exame.
Em estudo publicado na revista científica "Science" (www.sciencemag.org), Feinberg e seus colegas testaram 172 pacientes numa clínica de colonoscopia. Eles estavam procurando uma alteração genética específica chamada perda de estampagem.
Não se trata de uma mutação genética, e sim de um erro no funcionamento dos genes. As pessoas recebem sempre duas cópias de cada gene, mas alguns genes trazem um "rótulo" que determina que só uma cópia funcione.
O laboratório de Feinberg já tinha descoberto anteriormente que o gene IGF2, que regula a produção de um fator de crescimento celular semelhante à insulina, sofria perda de estampagem em algumas formas de câncer.
"Neste caso, ambas as cópias funcionam. Esse é um gene de crescimento celular, portanto, faz sentido que uma dose dupla dele leve ao câncer", disse o médico.
Eles procuraram a mudança tanto no sangue quanto em amostras do cólon dos pacientes. Os portadores da doença e as pessoas que tinham tido o tumor no passado tinham 22 vezes mais propensão a apresentar a alteração -e, na maioria dos casos, ela era detectável apenas pelo sangue.
Agora, eles vão tentar descobrir se outros pacientes com a alteração desenvolvem câncer. Se o teste funcionar em grupos maiores de pacientes, pode ser possível desenvolver um exame de sangue para determinar o risco do tumor, diz Feinberg. Pessoas sem a alteração genética poderão evitar as colonoscopias, ou fazê-las com menor frequência.


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