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INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
Programador está sob suspeita
Internautas questionam existência de programa caçador de pedófilos
CHARLES ARTHUR
DO "INDEPENDENT"
A internet parece ter traído o
pesquisador britânico que afirma
ser o criador de um programa capaz de entrar em salas de bate-papo e fingir ser uma pessoa, com o
objetivo de identificar possíveis
pedófilos em busca de vítimas na
rede mundial de computadores.
O suposto sucesso de Jim
Wightman foi noticiado na revista britânica "New Scientist" e reproduzido por diversos veículos
ao redor do mundo [a Folha republicou a reportagem da revista
em 23 de março]. Horas depois de
sua divulgação, usuários da internet começaram a coçar a cabeça e
dizer: "Espere um minuto...".
Lendo a transcrição de uma
"conversa" na "New Scientist",
supostamente entre um dos "robôs" de Wightman e um usuário
de bate-papo, muitas pessoas começaram a questionar como um
programador completamente
desconhecido poderia ter criado o
que parecia ser o maior salto em
inteligência artificial em décadas.
Caça às informações
Elas então passaram a usar o site
de busca Google (www.google.com) para descobrir mais sobre
Wightman. Ele não permaneceu
desconhecido por muito tempo.
O site que ele criou para divulgar
seus robôs fornecia pouca informação (um endereço de e-mail e
um de trabalho, nos detalhes de
registro do site), que pôde ser usada para um rastreamento na Usenet, a rede de grupos de notícias,
para a localização de suas contribuições anteriores.
(O Google tem o arquivo completo de contribuições na Usenet,
indo até o ano zero da internet. Se
você não quiser que seus acréscimos apareçam lá, precisa colocar
"X-No-Archive" no cabeçalho de
suas mensagens.)
Eles reviraram o Google à procura de qualquer pista do que
Wightman havia feito no passado. Isso revelou mensagens ocasionalmente furiosas em vários
grupos de notícias; algumas poucas mensagens irritadas em fóruns de discussão de especialistas;
e uma porção de polêmicas em
que Wightman pode ter se envolvido ao longo dos anos.
Também revelou exemplos de
afirmações que ele fez e que não
foram posteriormente confirmadas por outras evidências. Goste
ele ou não, suas pegadas -ou impressões digitais, melhor dizendo- estão espalhadas por toda a
web e a Usenet.
Falta de evidências
Infelizmente para ele, e para a
reportagem da "New Scientist",
não há evidência alguma que sugira que ele tem a habilidade em
inteligência artificial exigida para
criar um programa bem-sucedido a ponto de fazer a pergunta
"Você viu Robocop na noite passada?" e, ao receber a resposta
"Em que número estava passando?", responder "Sky One".
Pense um pouco nesse modo de
falar. "Número" adquire significado especial apenas no contexto
da televisão; entender que isso é
equivalente a "canal" é algo que
aprendemos apenas com a experiência. Para um computador, é
uma relação difícil de fazer.
Conforme mais análises começaram a surgir, com links espalhados por inúmeros blogs, a web ficou tomada de informações -e
dúvidas- sobre a existência dos
robôs de Wightman.
Respostas evasivas
Eu mesmo o contatei diversas
vezes para tentar chegar ao fundo
das afirmações e contra-afirmações. Ele insiste que os robôs existem e que o programa de IA foi
inscrito por uma companhia
-que ele não mencionou- para
o Prêmio Loebner, em que programas de IA tentam enganar um
comitê humano e convencê-lo de
que são também humanos.
Esse teste, proposto pelo pai da
moderna ciência da computação,
Alan Turing, pretende verificar se
uma máquina pode realmente
pensar. Wightman insiste que vai
vencer. (As inscrições acabam em
1º de agosto, e a disputa começa
duas semanas depois. Já anotei na
minha agenda.)
A essa altura é impossível determinar se as afirmações de Wightman são falsas ou verdadeiras. De
forma interessante, a "New Scientist" parece estar começando a alimentar suspeitas. Seu site agora
diz: "Sérias dúvidas foram trazidas à nossa atenção sobre essa reportagem. Conseqüentemente,
nós a retiramos do ar enquanto
investigamos sua veracidade".
Enquanto a verdade não aparece, cada um pode formar sua própria opinião: faça uma busca no
Google e procure um link em
www.waxy.org, que oferece a
maior coleção de endereços que
contêm informações úteis para
ajudá-lo a se decidir.
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