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POLÍTICA CIENTÍFICA
Metade da diretoria terá integrantes que não apoiavam candidatura do físico da Ufes, eleito ontem
Ennio Candotti vai presidir SBPC dividida
DA REDAÇÃO
O físico Ennio Candotti, da
Universidade Federal do Espírito
Santo (Ufes), foi eleito como o novo presidente da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência). Ele teve 914 votos, contra 877 do filósofo da USP Renato Janine Ribeiro. Houve 54 votos
em branco e 25 nulos.
Em terceiro lugar ficou o também físico Rogério Cezar de Cerqueira Leite, professor emérito da
Unicamp e membro do Conselho
Editorial da Folha, com 256 votos.
Os dois novos vice-presidentes da
entidade são o linguista e poeta
Carlos Vogt (984 votos) e a psicóloga Dora Fix Ventura (966).
"É um belo resultado", disse
Candotti. "Ele mostra uma distribuição equilibrada das forças."
Cerca de metade da recém-eleita
diretoria é composta de pessoas
que apoiaram Janine Ribeiro.
Candotti, 61, afirmou que sua
primeira ação à frente da entidade
será reunir toda a diretoria e tentar "encontrar uma média entre o
que o meu grupo defendia e o que
os outros defendiam".
O físico da Ufes evitou dar declarações, que acha prematuras,
sobre como a SBPC irá se posicionar de agora em diante em relação
a temas como o governo Lula e ao
próprio prestígio político que a
sociedade teria perdido.
"A eleição despertou uma discussão desproporcional em relação à possibilidade de mudança da sociedade", disse Candotti, que
defendeu durante a campanha
que não era possível fazer uma revolução na SBPC. Ele afirmou, no
entanto, que buscará fortalecer os
núcleos regionais da SBPC, tornando-a mais nacional. "Se o divisor de águas era esse, ele foi confirmado."
Para Cerqueira Leite, o resultado não fará bem à SBPC. "Ela vai
se tornar uma espécie de sindicato. Vou até escrever um artigo intitulado "Réquiem por uma corporação"."
Segundo Janine Ribeiro, não
fosse a terceira candidatura, de
Cerqueira Leite, ele "certamente"
teria sido eleito. Isso porque a plataforma de Candotti dava ênfase
ao fortalecimento das regionais
da SBPC, para contrabalançar o
peso da comunidade científica
paulista, reduto do próprio Janine
Ribeiro e do físico da Unicamp.
"Cerqueira Leite foi uma candidatura que dividiu", disse ontem.
Ao lançar sua candidatura, Cerqueira Leite havia dito que ela era
um pedido de membros da SBPC.
Ela teria sido precipitada, segundo ele, pelo fato de a prefeitura de
Recife -sob administração do
PT, do qual Candotti é considerado próximo- ter proposto a inscrição em massa de 1.900 professores do ensino médio na sociedade -o que aumentaria o colégio eleitoral em mais de 30%.
Num artigo para o "Jornal da
Ciência", publicação da SBPC, Janine Ribeiro, que se identifica como eleitor do PT, afirmou que Candotti teria defendido a inclusão dos professores numa reunião do conselho da entidade.
Candotti, ex-presidente da SBPC, afirmou ser contrário à inscrição em massa de sócios financiados por terceiros. Disse também que, na reunião, o conselho
concordou que, mesmo que a filiação acontecesse, os professores
não teriam direito a voto na eleição deste ano.
Os três candidatos disputaram a
eleição mais concorrida da história da SBPC. Todos prometiam
relançar a sociedade num novo ciclo de crescimento, para fazer
com que ela volte a ter participação ativa na vida nacional.
A independência em relação ao
governo seria um dos pontos a serem explorados pela próxima gestão da sociedade.
Apesar de a eleição ter sido atípica, pela presença de três candidatos, do colégio eleitoral de 5.108
sócios votaram apenas 2.112, ou
41,3%. Pela internet votaram 1.912
pessoas (do total de 4.220 sócios
cadastrados para votar eletronicamente). Outros 890 poderiam
ter votado por carta, mas só cerca
de 200 o fizeram. Em outras eleições, o comparecimento ficava
em torno de 1.000.
A votação havia começado em
12 de maio. O vencedor será empossado em julho, durante a Reunião Anual da SBPC em Recife.
Fundada em 1948, a SBPC é
uma entidade civil sem fins lucrativos, que se declara apartidária,
dedicada à defesa do avanço científico e tecnológico e do desenvolvimento educacional e cultural do
Brasil. Organiza e promove reuniões anuais, em diferentes pontos do país, com a participação de
cerca de 70 sociedades e associações científicas e centenas a milhares de pessoas, incluindo cientistas, professores e estudantes.
Essas reuniões anuais se tornaram ainda mais concorridas durante o período dos governos militares, quando se tornaram espaços de contestação do regime.
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