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São Paulo, sábado, 14 de junho de 2003

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POLÍTICA CIENTÍFICA

Metade da diretoria terá integrantes que não apoiavam candidatura do físico da Ufes, eleito ontem

Ennio Candotti vai presidir SBPC dividida

DA REDAÇÃO

O físico Ennio Candotti, da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), foi eleito como o novo presidente da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência). Ele teve 914 votos, contra 877 do filósofo da USP Renato Janine Ribeiro. Houve 54 votos em branco e 25 nulos.
Em terceiro lugar ficou o também físico Rogério Cezar de Cerqueira Leite, professor emérito da Unicamp e membro do Conselho Editorial da Folha, com 256 votos. Os dois novos vice-presidentes da entidade são o linguista e poeta Carlos Vogt (984 votos) e a psicóloga Dora Fix Ventura (966).
"É um belo resultado", disse Candotti. "Ele mostra uma distribuição equilibrada das forças." Cerca de metade da recém-eleita diretoria é composta de pessoas que apoiaram Janine Ribeiro.
Candotti, 61, afirmou que sua primeira ação à frente da entidade será reunir toda a diretoria e tentar "encontrar uma média entre o que o meu grupo defendia e o que os outros defendiam".
O físico da Ufes evitou dar declarações, que acha prematuras, sobre como a SBPC irá se posicionar de agora em diante em relação a temas como o governo Lula e ao próprio prestígio político que a sociedade teria perdido.
"A eleição despertou uma discussão desproporcional em relação à possibilidade de mudança da sociedade", disse Candotti, que defendeu durante a campanha que não era possível fazer uma revolução na SBPC. Ele afirmou, no entanto, que buscará fortalecer os núcleos regionais da SBPC, tornando-a mais nacional. "Se o divisor de águas era esse, ele foi confirmado."
Para Cerqueira Leite, o resultado não fará bem à SBPC. "Ela vai se tornar uma espécie de sindicato. Vou até escrever um artigo intitulado "Réquiem por uma corporação"."
Segundo Janine Ribeiro, não fosse a terceira candidatura, de Cerqueira Leite, ele "certamente" teria sido eleito. Isso porque a plataforma de Candotti dava ênfase ao fortalecimento das regionais da SBPC, para contrabalançar o peso da comunidade científica paulista, reduto do próprio Janine Ribeiro e do físico da Unicamp. "Cerqueira Leite foi uma candidatura que dividiu", disse ontem.
Ao lançar sua candidatura, Cerqueira Leite havia dito que ela era um pedido de membros da SBPC. Ela teria sido precipitada, segundo ele, pelo fato de a prefeitura de Recife -sob administração do PT, do qual Candotti é considerado próximo- ter proposto a inscrição em massa de 1.900 professores do ensino médio na sociedade -o que aumentaria o colégio eleitoral em mais de 30%.
Num artigo para o "Jornal da Ciência", publicação da SBPC, Janine Ribeiro, que se identifica como eleitor do PT, afirmou que Candotti teria defendido a inclusão dos professores numa reunião do conselho da entidade.
Candotti, ex-presidente da SBPC, afirmou ser contrário à inscrição em massa de sócios financiados por terceiros. Disse também que, na reunião, o conselho concordou que, mesmo que a filiação acontecesse, os professores não teriam direito a voto na eleição deste ano.
Os três candidatos disputaram a eleição mais concorrida da história da SBPC. Todos prometiam relançar a sociedade num novo ciclo de crescimento, para fazer com que ela volte a ter participação ativa na vida nacional.
A independência em relação ao governo seria um dos pontos a serem explorados pela próxima gestão da sociedade.
Apesar de a eleição ter sido atípica, pela presença de três candidatos, do colégio eleitoral de 5.108 sócios votaram apenas 2.112, ou 41,3%. Pela internet votaram 1.912 pessoas (do total de 4.220 sócios cadastrados para votar eletronicamente). Outros 890 poderiam ter votado por carta, mas só cerca de 200 o fizeram. Em outras eleições, o comparecimento ficava em torno de 1.000.
A votação havia começado em 12 de maio. O vencedor será empossado em julho, durante a Reunião Anual da SBPC em Recife.
Fundada em 1948, a SBPC é uma entidade civil sem fins lucrativos, que se declara apartidária, dedicada à defesa do avanço científico e tecnológico e do desenvolvimento educacional e cultural do Brasil. Organiza e promove reuniões anuais, em diferentes pontos do país, com a participação de cerca de 70 sociedades e associações científicas e centenas a milhares de pessoas, incluindo cientistas, professores e estudantes.
Essas reuniões anuais se tornaram ainda mais concorridas durante o período dos governos militares, quando se tornaram espaços de contestação do regime.


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