UOL


São Paulo, sábado, 14 de junho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

GEOLOGIA

Bólido levou 40% da fauna no mar à extinção; asteróides ajudaram a moldar evolução da vida

Impacto matou peixes há 380 milhões de anos

Divulgação Brooks Ellwood/Science
Deserto próximo a Rissani, em Marrocos, onde foram encontrados sinais do choque de asteróide


SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O mar não estava para peixe há cerca de 380 milhões de anos. Num desses lances súbitos que de tempos em tempos mudam os rumos da história da evolução da vida na Terra, cerca de 40% da fauna marinha existente foi extinta. Cientistas americanos agora apontam a provável razão: para variar, a culpa é do choque de um bólido celeste com o planeta.
O grupo de Brooks Ellwood, do Departamento de Geologia e Geofísica da Universidade Estadual da Louisiana (EUA), foi buscar em Marrocos as evidências da pancada cósmica. Não encontrou uma cratera, como alguns poderiam prever, mas apenas um punhado de concentrações esquisitas de alguns elementos químicos numa camada de terra soterrada gradativamente durante os últimos 380 milhões de anos.
Esses elementos, que incluem níquel, cromo, arsênio, vanádio e cobalto, não são comuns na Terra, mas sobram em corpos extraterrestres como asteróides. A idéia é que o impacto de um desses bólidos com o planeta tenha assentado na superfície uma quantidade incomum desses átomos normalmente mais raros.
Os pesquisadores ainda não fizeram uma análise detalhada para saber que tipo de corpo foi responsável pelo "enriquecimento" do terreno, se um asteróide ou um cometa. Enquanto os primeiros normalmente residem num cinturão entre Marte e Júpiter e são basicamente compostos por rocha, os segundos têm origem na região além do planeta Netuno e são grandes pedras de gelo sujo.
Apesar disso, já dá para dar um palpite. "Não tentamos fazer isso, mas, sim, a química indica que provavelmente não era um cometa", diz Ellwood. De todo jeito, ele diz que a importância de sua pesquisa, publicada ontem na revista científica americana "Science" (www.sciencemag.org), é outra.
"As duas coisas realmente importantes, aqui, além do novo impacto e das extinções, é que desenvolvemos um meio de achar evidências de impacto -isso tem sido realmente difícil, no passado, porque essas camadas do solo têm usualmente menos de um centímetro de espessura", diz. "É importante saber quão rotineiramente na história da Terra tivemos um evento como esse, e se é algo sobre o qual deveríamos estar muito preocupados."

Histórico de impactos
A primeira confirmação irrefutável de um elo entre impactos de asteróides e extinções em massa foi fornecido pelo físico americano Luis Alvarez, que em 1980 identificou traços do elemento raro irídio numa camada de terreno correspondente à época em que os dinossauros foram extintos, há 65 milhões de anos.
De lá para cá, pelo menos uma outra grande extinção maciça foi relacionada ao impacto de um bólido celeste -possivelmente a maior delas, ocorrida há 235 milhões de anos. O episódio permitiu a ascensão dos dinossauros. A posterior, há 65 milhões de anos, acabou com o reinado dos grandes répteis e iniciou o domínio dos mamíferos, que levou ao surgimento da espécie humana.
Claro, sempre há a possibilidade de extinções e impactos serem eventos separados, apenas ligados por coincidências. "Acho que a evidência de um impacto é muito boa", diz Ellwood. "Entretanto, isso não significa necessariamente que o impacto tenha causado a extinção. Pode ter sido apenas um acidente interessante, ou pode ter contribuído para as extinções, mas não como causa principal."
Apesar disso, a quantidade de eventos de impacto seguido por extinção maciça começa a excluir a hipótese de coincidências. Estudos mostram que objetos com um quilômetro de diâmetro já são capazes de danos notáveis à biosfera, levantando uma grossa camada de poeira que impediria a luz do Sol de atingir a superfície por algum tempo. Há pelo menos 1.100 desses corpos com capacidade de "encontrar" a Terra.
Em razão disso, entender a dinâmica do Sistema Solar e sua participação (pelo visto fundamental) nos rumos da vida no planeta é questão prioritária para os cientistas. O homem pode muito bem ser a próxima vítima.


Texto Anterior: Espaço: Nasa investe US$ 6 milhões em sonda nuclear interplanetária
Próximo Texto: Panorâmica - Inovação: Unicamp monta laboratório com Petrobras
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.