São Paulo, quinta-feira, 14 de junho de 2007

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Novo estudo "tira poder" de gene dentro da hierarquia do DNA

Ativação de código genético tido como "lixo" varia entre células diferentes

EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL

A biologia acaba de ficar mais complicada. Os genes -trechos de DNA que contém a "receita" para produzir proteínas que compõem as células- podem não ser tão decisivos assim para a estrutura biológica das pessoas, revela um novo estudo. As partes do DNA não atreladas aos genes em si - já apelidadas de "DNA-lixo"- são também vitais para a variabilidade das linhagens de célula, afirma o trabalho na revista "Nature".
A descoberta é anunciada por um consórcio internacional, o Encode (Enciclopédia dos Elementos do DNA, na sigla em inglês), que analisou apenas 1% de todo o genoma humano, mas em 11 tecidos diferentes. O resultado, pelo visto, vai de encontro a um consenso.
"É impossível não dizer que esses resultados apontam para um lugar onde nós também chegamos", disse Sergio Verjovski-Almeida, da Universidade de São Paulo, à Folha. O estudo do grupo brasileiro, publicado em março, também exaltou a importância dos trechos não codificantes do DNA humano, ou seja, aqueles pedaços de DNA que um dia foram chamados de lixo.
Os brasileiros analisaram 15% do genoma para apenas 3 tecidos. No caso do trabalho do consórcio Encode, eles optaram por mais tecidos, porque tudo indica que é essa variabilidade de linhagens celulares que realmente importa. "Eles mostraram que 93% das bases [não só as dos genes] estudadas por eles foram de alguma forma transcritas para um tecido".
Do ponto de vista conceitual, explica Almeida, a genômica agora está caminhando para um diferenciação clara entre função bioquímica e papel biológico. Ou seja, não basta associar um determinado segmento do DNA a uma proteína. É preciso questionar, afinal, qual o papel que esse processo tem no organismo?
É aí que entra em cena, no mesmo patamar de importância que os próprios genes, as regiões do DNA que estão entre esses genes. "Sem dúvida, agora sabemos que tudo é muito mais complexo. Esse papel biológico está lá e tem um peso importante", disse ontem em entrevista coletiva o pesquisador Francis Collins, diretor do Instituto de Pesquisa do Genoma Humano dos Estados Unidos, integrante do Encode.

Evolução irrestrita
Outra descoberta do grupo internacional com a pesquisa de apenas 1% do genoma humano - eles acham que tudo encontrado até aqui estará presente também nos demais 99%- é importante para se entender mais sobre o processo de evolução do homem.
A tese mais corrente entre os cientistas é que os trechos do DNA responsáveis pela transcrição da informação genética em proteínas seriam relativamente constantes ao longo do tempo. Mas não foi isso que apareceu agora.
Os pesquisadores do grupo, definiram esse dado encontrado por eles, com o mais surpreendente de todos. Apenas 12% dos trechos responsáveis pelas transcrições guardam algum tipo de conservação.


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