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Novo estudo "tira poder" de gene dentro da hierarquia do DNA
Ativação de código genético tido como "lixo" varia entre células diferentes
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
A biologia acaba de ficar mais
complicada. Os genes -trechos
de DNA que contém a "receita"
para produzir proteínas que
compõem as células- podem
não ser tão decisivos assim para
a estrutura biológica das pessoas, revela um novo estudo. As
partes do DNA não atreladas
aos genes em si - já apelidadas
de "DNA-lixo"- são também
vitais para a variabilidade das
linhagens de célula, afirma o
trabalho na revista "Nature".
A descoberta é anunciada por
um consórcio internacional, o
Encode (Enciclopédia dos Elementos do DNA, na sigla em inglês), que analisou apenas 1%
de todo o genoma humano, mas
em 11 tecidos diferentes. O resultado, pelo visto, vai de encontro a um consenso.
"É impossível não dizer que
esses resultados apontam para
um lugar onde nós também
chegamos", disse Sergio Verjovski-Almeida, da Universidade de São Paulo, à Folha. O estudo do grupo brasileiro, publicado em março, também exaltou a importância dos trechos
não codificantes do DNA humano, ou seja, aqueles pedaços
de DNA que um dia foram chamados de lixo.
Os brasileiros analisaram
15% do genoma para apenas 3
tecidos. No caso do trabalho do
consórcio Encode, eles optaram por mais tecidos, porque
tudo indica que é essa variabilidade de linhagens celulares que
realmente importa. "Eles mostraram que 93% das bases [não
só as dos genes] estudadas por
eles foram de alguma forma
transcritas para um tecido".
Do ponto de vista conceitual,
explica Almeida, a genômica
agora está caminhando para
um diferenciação clara entre
função bioquímica e papel biológico. Ou seja, não basta associar um determinado segmento
do DNA a uma proteína. É preciso questionar, afinal, qual o
papel que esse processo tem no
organismo?
É aí que entra em cena, no
mesmo patamar de importância que os próprios genes, as regiões do DNA que estão entre
esses genes. "Sem dúvida, agora
sabemos que tudo é muito mais
complexo. Esse papel biológico
está lá e tem um peso importante", disse ontem em entrevista coletiva o pesquisador
Francis Collins, diretor do Instituto de Pesquisa do Genoma
Humano dos Estados Unidos,
integrante do Encode.
Evolução irrestrita
Outra descoberta do grupo
internacional com a pesquisa
de apenas 1% do genoma humano - eles acham que tudo
encontrado até aqui estará presente também nos demais
99%- é importante para se entender mais sobre o processo
de evolução do homem.
A tese mais corrente entre os
cientistas é que os trechos do
DNA responsáveis pela transcrição da informação genética
em proteínas seriam relativamente constantes ao longo do
tempo. Mas não foi isso que
apareceu agora.
Os pesquisadores do grupo,
definiram esse dado encontrado por eles, com o mais surpreendente de todos. Apenas
12% dos trechos responsáveis
pelas transcrições guardam algum tipo de conservação.
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