UOL


São Paulo, sábado, 15 de fevereiro de 2003

Próximo Texto | Índice

CLONAGEM

Ovelha escocesa, 1º clone de animal adulto, foi sacrificada aos 6 anos por ter doença de pulmão; espécie vive até os 12

Dolly morre com envelhecimento precoce

Jeff J Mittchell/Reuters-04.jan.02
A ovelha Dolly, primeiro clone de um animal adulto, no dia em que foi anunciado que tinha artrite


DA REDAÇÃO

Quem sonha com clones humanos tem agora mais um motivo de desânimo: Dolly, primeiro animal clonado a partir de outro adulto, morreu ontem na Escócia com uma doença típica de organismos velhos. Sua morte reforça a tese de que a clonagem por transferência nuclear é uma técnica arriscada demais para seres humanos.
Dolly foi sacrificada no Instituto Roslin (www.roslin.ac.uk), em Midlothian, depois que veterinários diagnosticaram uma infecção em seus pulmões. Uma ovelha pode viver de 11 a 12 anos, mas Dolly morreu com 6 anos e 7 meses (nasceu em 5 de julho de 1996, e o anúncio do Roslin só foi feito em 23 de fevereiro de 1997).
Segundo Harry Griffin, um dos diretores do Instituto Roslin, o tipo de doença dos pulmões que afetou Dolly é comum em ovelhas mais velhas, particularmente naquelas criadas em confinamento. "Uma autópsia está sendo conduzido para determinar se a doença tinha a ver com a clonagem ou se foi apenas má sorte", disse Griffin.
Para Ian Wilmut, líder da equipe que clonou a ovelha, é improvável que a doença esteja ligada à origem do animal na clonagem.
A doença nos pulmões não foi o primeiro problema de saúde enfrentado por Dolly que pode ter relação com a velhice. Em 1999, um sinal de envelhecimento foi detectado em suas células: o encurtamento anormal dos telômeros (espécie de proteção para prevenir o desgaste de cromossomos e seu embaralhamento nas divisões celulares ao longo da vida). Como Dolly foi clonada da célula de uma ovelha que já contava seis anos, havia a suspeita de que sua idade celular na realidade fosse a da "mãe", ou melhor, da matriz.
Em janeiro de 2002, seus criadores anunciaram que Dolly tinha desenvolvido outra doença da velhice, artrite. A divulgação serviu para acirrar o debate sobre a clonagem humana, que já era então defendida pelo médico italiano Severino Antinori e pela seita dos raelianos, que anunciou em 27 de dezembro o nascimento de um suposto clone humano (fato que ainda não pôde ser comprovado).
Vários pesquisadores, tendo à frente ninguém menos que o próprio Ian Wilmut, apontaram os inúmeros problemas da técnica de clonagem por transferência nuclear (veja quadro à esquerda) como razão suficiente para impedir seu uso em humanos.
Depois de Dolly, foram produzidos clones de vacas, porcos, camundongos e cabras. Vários têm aparência saudável, mas também surgiram muitos problemas (placentas anormais, malformações e obesidade patológica).
No Brasil, o primeiro clone de um animal adulto foi a bezerra Penta. Ela nasceu em 13 de julho de 2002, na Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Jaboticabal, em pesquisa coordenada por Joaquim Mansano Garcia. Morreu em 12 de agosto, vítima de infecções (ela se mostrara incapaz de produzir anticorpos).
Dolly era uma ovelha da raça Finn Dorset e recebeu seu nome em homenagem à cantora "country" norte-americana Dolly Parton. Cruzou duas vezes com um macho da raça Welsh Mountain, David, produzindo um filhote em 1998 e três em 1999.
O corpo de Dolly foi prometido para o Museu Nacional da Escócia e deverá ser empalhado para exposição em Edimburgo.

Com agências internacionais


Próximo Texto: Espaço: Plasma pode ter abatido Columbia
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.