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AAAS
EUA têm o maior evento científico
Reunião lança idéia de um "médico artificial"
SALVADOR NOGUEIRA
ENVIADO ESPECIAL A DENVER
Um clima de novidade marcou
a abertura da 169ª Reunião Anual
da AAAS (Associação Americana
para o Avanço da Ciência, na sigla
em inglês) anteontem. Em cena
entra o médico artificial e para os
bastidores vai a noção de que a
biologia molecular é o Santo
Graal da medicina.
No discurso inaugural do evento, tido como a maior reunião
científica do mundo, o presidente
da entidade, Floyd Bloom, resolveu seguir à risca o tema da conferência, "Ciência como um Modo
de Vida", e se concentrou no assunto que mais afeta a vida das
pessoas: medicina.
Bloom lançou algumas idéias
sobre o que será da ciência médica -mais que isso, do atendimento médico- no futuro. A bola da vez, para ele, é a inteligência
artificial aplicada à medicina.
"Imaginem uma máquina-doutor automática", arriscou Bloom,
que é neurobiólogo, arrancando
alguns risos da platéia. "Não riam.
Quando foi a última vez que vocês
foram ao banco para resolver suas
pendências bancárias?"
Bloom apresentou o médico artificial como uma das soluções
potenciais para o que considera
uma situação insustentável: a do
sistema de saúde nos EUA. Com
custo estimado de US$ 1,2 trilhão
em 2002, os instrumentos que garantem o atendimento dos americanos estão longe de satisfatórios.
Bloom citou o lendário programa de computador Eliza, do MIT
(Instituto de Tecnologia de Massachusetts), que era capaz de imitar o comportamento de uma
pessoa (uma psicóloga) e fazer
com que pessoas interagindo com
a máquina acreditassem estar falando com um ser humano.
Para o presidente da AAAS, um
médico artificial programado
com um vasto banco de dados de
tratamentos, sintomas, doenças e
medicamentos talvez seja uma
solução para melhorar o atendimento e reduzir os custos do inchado sistema de saúde.
A ênfase do discurso de Bloom,
neurocientista do Instituto de
Pesquisa Scripps e ex-editor-chefe da "Science" (publicação científica da AAAS), recaiu sobre o ritmo em que a ciência caminha.
O melhor paradigma para isso é
a biologia molecular, impulsionada, entre outras coisas, pela febre
da decifração do genoma humano. Bloom demonstra todo o seu
entusiasmo pela descoberta, enumerando algumas das grandes revelações de 2002 sobre doenças
como mal de Alzheimer, esquizofrenia e câncer feitas com a ajuda
de análises genéticas.
Em compensação, ele é rápido
em dizer que até agora as descobertas serviram mais para que os
cientistas entendam melhor essas
doenças do que para criar meios
de combatê-la. E esse entendimento mais profundo tem um
gosto amargo: os problemas são
em geral muito complexos, envolvendo várias interações de genes
-o que torna ainda mais difícil
imaginar como vencê-los.
Bloom também foi crítico com
o determinismo genético, citando
experimentos recentes que mostram que o ambiente pode ter impactos marcantes nos indivíduos,
que não só não têm nada a ver
com a genética como também,
acredite se quiser, podem ser
transmitidos aos descendentes.
Ele cita, por exemplo, uma pesquisa sobre camundongos fêmeas
que, quando filhotes, tiveram
uma mãe pouco atenciosa e também se tornaram pouco atenciosos quando chegou a sua vez de
cuidar da própria prole. E o traço
comportamental persiste por pelo menos três gerações.
A Reunião Anual da AAAS vai até a próxima quinta-feira em Denver, no Colorado (EUA) e deve contar com mais de 5.000 participantes. É a quinta vez que o evento é realizado em Denver (a primeira foi em 1901). Entre os temas quentes da conferência devem estar genética, genômica, nanotecnologia, medicina, astronomia e ciências da Terra.
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