São Paulo, terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

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Pinguins sem-teto são enviados para aquário dos EUA

Animais, que estavam no RJ sofrendo com o calor, não podem voltar para a Patagônia, pois levariam doenças

Os pinguins começaram a chegar na costa do país há cerca de dez anos; cientistas culpam o aquecimento global

Zanone Fraissat/Folhapress
Os pinguins no aeroporto de Guarulhos antes de embarcarem para os EUA

MARCELO BORTOLOTI
DO RIO

Treze pinguins-de-magalhães embarcaram no sábado em um voo da Korean Air rumo aos EUA. Estão sendo transferidos do Zoológico de Niterói, onde vivem desde julho passado, para o Aquário de Monterey (Califórnia).
Na nova casa, com temperatura bem mais amena e instalações adequadas, passam a integrar uma exposição sobre os efeitos do aquecimento global, dos quais são vítimas, afirmam os cientistas.
Para o voo de 11 horas, os animais foram acomodados num espaço climatizado da parte dianteira da aeronave, uma espécie de classe executiva da área de carga. Na escala em São Paulo, comeram 10 kg de sardinha fresca.
Para matar o tempo antes do embarque, tiveram à disposição uma piscina com água e gelo, em um hangar do aeroporto de Guarulhos.
Escapar ao calor do verão no Rio, com temperaturas que beiram os 40 graus Celsius, é para poucos. No caso, graças a um convênio entre o zoológico brasileiro e o aquário americano. O aquário pediu apenas 20 animais. Os outros sete foram levados em viagens anteriores.
O destino mais comum para os pinguins que aparecem nas praias do Rio de Janeiro é a morte. Em 2009, o Zoológico de Niterói, para onde são levadas as aves recolhidas pelo Corpo de Bombeiros no Estado, recebeu cerca de mil indivíduos. Morreram 700.
Ano passado, a instituição recebeu 48 e morreram quase todos. Além dos 13 enviados agora para os Estados Unidos, restam apenas três.
O zoológico tem uma piscina de água salgada construída pela Petrobras, mas nenhum equipamento de climatização, e as aves não suportam o calor intenso.
"Quase nenhum zoológico brasileiro tem equipamentos adequados. Os pinguins não vivem aqui mais que sete ou oito meses", diz a diretora Giselda Candiotto.
Os pinguins-de-magalhães começaram a chegar à costa brasileira há cerca de dez anos, oriundos da Patagônia. Não há certeza sobre o que faz esses animais se perderem, mas cientistas atribuem o fato ao degelo na região e à falta de alimento.
São animais jovens e inexperientes que se desgarram do grupo principal e são trazidos pelas correntes marítimas. Quando chegam ao Brasil, geralmente estão debilitados e com um quinto do peso original. Embora não seja uma espécie ameaçada, sua população caiu drasticamente na última década.
Até pouco tempo atrás, quando um grupo maior conseguia sobreviver, os pinguins eram enviados de volta para o sul, em aviões da FAB ou navios da Marinha.
Há dois anos, um comitê de cientistas que estuda esses animais recomendou que não fossem mais devolvidos. Estavam transmitindo doenças para os pinguins nativos.
"Já recolhemos no Brasil animais com febre amarela e tuberculose", explica a analista do Ibama Márcia das Graças Ferreira.
Com isso, o instituto suspendeu o envio. E, em 2010, criou o Projeto Nacional de Monitoramento do Pinguim-de-Magalhães. Em cinco anos, o grupo deve identificar as causas da chegada dos bichos e definir o que fazer com os que aparecem aqui.
Até lá, as aves que não tiverem a sorte de embarcar para os EUA, como o grupo atual, continuarão sujeitas ao verão dos trópicos.


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