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São Paulo, sábado, 15 de março de 2003

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ESPAÇO

Estudo de solo congelado na Antártida indica que seria pouco prático usar a água dos pólos marcianos em missões

Gelo é salgado demais para uso humano

CLAUDIO ANGELO
EDITOR-ASSISTENTE DE CIÊNCIA

Se por um lado encontrar água em Marte está cada vez mais fácil, por outro, a hipótese de que ela seja facilmente utilizável por eventuais visitantes da Terra vem sendo afastada. A maior parte dela provavelmente está na forma de solo congelado e é tão salgada que só poderia ser extraída a um grande custo.
Essa possibilidade, que já vinha sendo aventada por alguns cientistas, ganhou forte apoio neste mês, com a publicação de um estudo sobre o local da Terra com as condições mais parecidas com as de Marte: os chamados Dry Valleys (vales secos) da Antártida.
Uma dupla de pesquisadores da Nova Zelândia analisou a origem do "permafrost" (solo permanentemente congelado) naquela região -um deserto frio e livre de gelo de 100 km 2 de área- e descobriu duas coisas que podem dizer muito sobre Marte: primeiro, a concentração de sais no gelo é altíssima. Segundo, esse gelo provavelmente é resultado da lenta acumulação de vapor d'água da atmosfera durante milhões de anos, não da presença de um oceano no passado.
"Claro, se você não tiver mais de onde tirar, vai ter de dar um jeito. Mas não seria prático usar a água dos Dry Valleys", disse à Folha o geólogo Warren Dickinson, da Universidade Victoria, em Wellington, co-autor do estudo.
Segundo Dickinson, americano radicado na Nova Zelândia há 15 anos, os mecanismos que controlam a formação do "permafrost" nos Dry Valleys e nos pólos marcianos devem ser os mesmos.
"São dois lugares extremamente frios e secos. E Marte é muito mais frio e seco que a Antártida."

Água velha
Dickinson e seu colega Michael Rosen retiraram amostras de "permafrost" dos vales antárticos em 1996, para estudar a sua origem. Até então, achava-se que o solo congelado pudesse ter origem em água derretida de geleiras no passado. Analisando a composição do solo congelado, no entanto, eles descobriram que a água ali era muito mais pobre em um determinado tipo de átomo de hidrogênio, sugerindo uma origem distinta.
Ela vem de vapor da atmosfera, que é absorvido pelo solo na forma de uma salmoura. Essa salmoura, no caso dos Dry Valleys, resulta da evaporação da neve e de reações químicas no solo.
"Em Marte, esse vapor pode ter se originado de atividade vulcânica, ou da evaporação de lagos. Ele vem se acumulando há milhões de anos e ainda se acumula. Não precisou haver um oceano no passado", disse o cientista, cujo trabalho está publicado na última edição da revista "Geology" (www.gsajournals.org).


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