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ESPAÇO
Estudo de solo congelado na Antártida indica que seria pouco prático usar a água dos pólos marcianos em missões
Gelo é salgado demais para uso humano
CLAUDIO ANGELO
EDITOR-ASSISTENTE DE CIÊNCIA
Se por um lado encontrar água
em Marte está cada vez mais fácil,
por outro, a hipótese de que ela
seja facilmente utilizável por
eventuais visitantes da Terra vem
sendo afastada. A maior parte dela provavelmente está na forma
de solo congelado e é tão salgada
que só poderia ser extraída a um
grande custo.
Essa possibilidade, que já vinha
sendo aventada por alguns cientistas, ganhou forte apoio neste
mês, com a publicação de um estudo sobre o local da Terra com as
condições mais parecidas com as
de Marte: os chamados Dry Valleys (vales secos) da Antártida.
Uma dupla de pesquisadores da
Nova Zelândia analisou a origem
do "permafrost" (solo permanentemente congelado) naquela região -um deserto frio e livre de
gelo de 100 km 2 de área- e descobriu duas coisas que podem dizer muito sobre Marte: primeiro,
a concentração de sais no gelo é
altíssima. Segundo, esse gelo provavelmente é resultado da lenta
acumulação de vapor d'água da
atmosfera durante milhões de
anos, não da presença de um
oceano no passado.
"Claro, se você não tiver mais de
onde tirar, vai ter de dar um jeito.
Mas não seria prático usar a água
dos Dry Valleys", disse à Folha o
geólogo Warren Dickinson, da
Universidade Victoria, em Wellington, co-autor do estudo.
Segundo Dickinson, americano
radicado na Nova Zelândia há 15
anos, os mecanismos que controlam a formação do "permafrost"
nos Dry Valleys e nos pólos marcianos devem ser os mesmos.
"São dois lugares extremamente frios e secos. E Marte é muito
mais frio e seco que a Antártida."
Água velha
Dickinson e seu colega Michael
Rosen retiraram amostras de
"permafrost" dos vales antárticos
em 1996, para estudar a sua origem. Até então, achava-se que o
solo congelado pudesse ter origem em água derretida de geleiras
no passado. Analisando a composição do solo congelado, no entanto, eles descobriram que a
água ali era muito mais pobre em
um determinado tipo de átomo
de hidrogênio, sugerindo uma
origem distinta.
Ela vem de vapor da atmosfera,
que é absorvido pelo solo na forma de uma salmoura. Essa salmoura, no caso dos Dry Valleys,
resulta da evaporação da neve e
de reações químicas no solo.
"Em Marte, esse vapor pode ter
se originado de atividade vulcânica, ou da evaporação de lagos. Ele
vem se acumulando há milhões
de anos e ainda se acumula. Não
precisou haver um oceano no
passado", disse o cientista, cujo
trabalho está publicado na última
edição da revista "Geology"
(www.gsajournals.org).
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