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AMBIENTE
Pesquisa feita em 13 regiões do planeta diz que predadores como o atum e o peixe-espada declinaram em 50 anos
Pesca industrial eliminou 90% dos grandes peixes
STEVE CONNOR
DO "THE INDEPENDENT"
A pesca industrial dizimou o
ambiente marinho e provocou o
declínio de cerca de 90% dos
grandes peixes do mundo ao longo dos últimos 50 anos, afirma
um estudo publicado hoje na revista "Nature". A escala da destruição espantou especialistas em
pesca que ainda há pouco pensavam que os oceanos continuavam
cheios de monstros marinhos como o marlim gigante, o atum e o
peixe-espada.
Com base em dados colhidos
nos últimos dez anos em algumas
das maiores regiões pesqueiras do
mundo, dois cientistas pulverizaram o mito de que os recursos naturais dos oceanos ainda se encontram subexplorados. Ransom
Myers, da Universidade Dalhousie em Halifax (Canadá), diz que
bastam 10 a 15 anos para que a
pesca industrializada reduza
qualquer estoque de peixes que
encontre a um décimo do que era.
"Não existe mais uma fronteira
azul", afirma Myers.
Myers trabalhou na pesquisa
com Boris Worm, da Universidade de Kiel, na Alemanha, investigando quatro plataformas continentais e nove regiões de alto-mar, desde o início de sua exploração até o presente.
"A partir de 1950, com o ataque
da pesca industrializada, rapidamente reduzimos o recurso de base a menos de 10% -não só em
algumas áreas, nem só para alguns estoques, mas para comunidades inteiras dessas espécies de
peixes grandes, dos trópicos aos
pólos", diz Myers.
Myers e Worm tiveram acesso a
dados do Japão sobre a pesca com
linhas longas, que são armadas
com milhares de anzóis e se arrastam por vários e vários quilômetros. É o equipamento de pesca
mais empregado e a frota japonesa que dispõe dele é a mais disseminada, uma operação que cobre
todos os oceanos, com exceção
das águas polares.
Os pesquisadores descobriram
que o declínio na captura com linhas longas mostra precisamente
como a exploração dos mares se
tornou dramática. "Essas linhas
costumavam pegar dez peixes em
cem anzóis, mas hoje é sorte
quando pegam um", diz Myers.
Além do declínio nos números,
o tamanho médio dos peixes capturados hoje em dia é muito mais
reduzido do que no passado, disse
Jeremy Jackson, pesquisador da
Instituição Oceanográfica
Scripps, nos Estados Unidos
"Nós tínhamos oceanos cheios
de peixes heróicos, literalmente
monstros marinhos. As pessoas
costumavam arpoar peixes-espada de três metros em botes. "O Velho e o Mar", de [Ernest" Hemingway, era para valer", disse Jackson, fazendo referência à obra
clássica do escritor americano.
Os principais predadores marinhos hoje têm apenas de um
quinto a metade do tamanho que
costumavam ter, afirmou Myers.
"Os poucos marlins azuis hoje
têm um quinto do peso que tiveram um dia. Em muitos casos, os
peixes capturados hoje estão sob
uma pressão tão intensa que nunca têm nem mesmo oportunidade
de se reproduzir", acrescentou.
Myers e Worm acreditam que
cotas altas de pesca, uma melhor
tecnologia pesqueira -como satélites e sonar-, subsídios governamentais e falta de reservas marinhas são os culpados pelo drástico declínio dos peixes.
Eles pedem um corte de 50% no
número de peixes capturados
anualmente, o que pode causar
problemas para a indústria agora,
mas garantiria a sustentabilidade
no futuro. "Precisamos agir agora, antes de chegar ao ponto sem
retorno", disse Myers.
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