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São Paulo, quinta-feira, 15 de maio de 2003

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AMBIENTE

Pesquisa feita em 13 regiões do planeta diz que predadores como o atum e o peixe-espada declinaram em 50 anos

Pesca industrial eliminou 90% dos grandes peixes

STEVE CONNOR
DO "THE INDEPENDENT"

A pesca industrial dizimou o ambiente marinho e provocou o declínio de cerca de 90% dos grandes peixes do mundo ao longo dos últimos 50 anos, afirma um estudo publicado hoje na revista "Nature". A escala da destruição espantou especialistas em pesca que ainda há pouco pensavam que os oceanos continuavam cheios de monstros marinhos como o marlim gigante, o atum e o peixe-espada.
Com base em dados colhidos nos últimos dez anos em algumas das maiores regiões pesqueiras do mundo, dois cientistas pulverizaram o mito de que os recursos naturais dos oceanos ainda se encontram subexplorados. Ransom Myers, da Universidade Dalhousie em Halifax (Canadá), diz que bastam 10 a 15 anos para que a pesca industrializada reduza qualquer estoque de peixes que encontre a um décimo do que era. "Não existe mais uma fronteira azul", afirma Myers.
Myers trabalhou na pesquisa com Boris Worm, da Universidade de Kiel, na Alemanha, investigando quatro plataformas continentais e nove regiões de alto-mar, desde o início de sua exploração até o presente.
"A partir de 1950, com o ataque da pesca industrializada, rapidamente reduzimos o recurso de base a menos de 10% -não só em algumas áreas, nem só para alguns estoques, mas para comunidades inteiras dessas espécies de peixes grandes, dos trópicos aos pólos", diz Myers.
Myers e Worm tiveram acesso a dados do Japão sobre a pesca com linhas longas, que são armadas com milhares de anzóis e se arrastam por vários e vários quilômetros. É o equipamento de pesca mais empregado e a frota japonesa que dispõe dele é a mais disseminada, uma operação que cobre todos os oceanos, com exceção das águas polares.
Os pesquisadores descobriram que o declínio na captura com linhas longas mostra precisamente como a exploração dos mares se tornou dramática. "Essas linhas costumavam pegar dez peixes em cem anzóis, mas hoje é sorte quando pegam um", diz Myers.
Além do declínio nos números, o tamanho médio dos peixes capturados hoje em dia é muito mais reduzido do que no passado, disse Jeremy Jackson, pesquisador da Instituição Oceanográfica Scripps, nos Estados Unidos
"Nós tínhamos oceanos cheios de peixes heróicos, literalmente monstros marinhos. As pessoas costumavam arpoar peixes-espada de três metros em botes. "O Velho e o Mar", de [Ernest" Hemingway, era para valer", disse Jackson, fazendo referência à obra clássica do escritor americano.
Os principais predadores marinhos hoje têm apenas de um quinto a metade do tamanho que costumavam ter, afirmou Myers. "Os poucos marlins azuis hoje têm um quinto do peso que tiveram um dia. Em muitos casos, os peixes capturados hoje estão sob uma pressão tão intensa que nunca têm nem mesmo oportunidade de se reproduzir", acrescentou.
Myers e Worm acreditam que cotas altas de pesca, uma melhor tecnologia pesqueira -como satélites e sonar-, subsídios governamentais e falta de reservas marinhas são os culpados pelo drástico declínio dos peixes.
Eles pedem um corte de 50% no número de peixes capturados anualmente, o que pode causar problemas para a indústria agora, mas garantiria a sustentabilidade no futuro. "Precisamos agir agora, antes de chegar ao ponto sem retorno", disse Myers.


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