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Brasil tenta pôr floresta na conta do clima
Proposta brasileira, a ser apresentada hoje, disputa a atenção dos países ricos com iniciativa de Papua
ANA FLOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM NAIRÓBI
Duas propostas para compensar países que reduzem
desflorestamento, diminuindo
emissões de gases causadores
do efeito estufa, disputam espaço e dividem opiniões na
COP-12 (12ª Conferência das
Partes) da Convenção do Clima
da ONU, em Nairóbi. Uma delas, a iniciativa brasileira, será
apresentada oficialmente hoje
pela ministra Marina Silva
(Meio Ambiente) a delegados
de mais de 180 países.
A segunda é de um grupo de
países que formam a Coalizão
de Nações com Florestas Tropicais (Coalition for Rainforest
Nations, em inglês), liderados
por Papua-Nova Guiné.
Apesar de terem objetivos semelhantes, a forma de ação das
duas propostas é radicalmente
diferente. Tão diferente que o
impasse pode atrasar uma decisão eficaz por parte dos países
que participam da convenção.
O Brasil defende um mecanismo voluntário, no qual os
países desenvolvidos fariam
doações para uma espécie de
fundo que premie financeiramente nações em desenvolvimento que diminuíssem seu
desflorestamento abaixo de
uma média preestabelecida. O
mecanismo não estaria atrelado às metas que estes países ricos precisam cumprir de acordo com o Protocolo de Kyoto.
Para ONGs e até mesmo delegados de alguns governos, a
proposta brasileira é "irreal",
porque está baseada em uma
doação voluntária, que não daria ganho algum aos doadores.
"O problema, sem dúvida, está nas doações voluntárias. Eu
passei minha vida inteira atrás
delas e sei que a realidade é
muito difícil", disse Steve Sawyer, do Greenpeace.
Sawyer também criticou aspectos fundamentais da proposta liderada por Papua-Nova
Guiné, em que investimentos
feitos para evitar desflorestamento seriam traduzidos em
créditos de carbono que poderiam ser negociados pelas nações ricas e abatidos da suas
metas de redução.
A conexão entre florestas e
mudanças climáticas está na
quantidade de gases-estufa lançados na atmosfera pelo desmate. Apesar de não haver consenso sobre a cifra exata, especialistas acreditam que as derrubadas nos trópicos respondam por 9% a 20% das emissões globais.
Pavimentando o inferno
O representante de Papua-Nova Guiné, Kevin Conrad,
disse ontem que o grupo não
apresentou uma proposta formal ainda. Diplomático, Conrad disse que as conversas
com o Brasil têm sido "intensas" e que as duas propostas
não são excludentes.
Mesmo assim, disse não
acreditar na premissa da contribuição voluntária. "O mercado é o único caminho para lidar
com desflorestamento. Não
acreditamos que existirão doações suficientes".
Em conversas informais, representantes da União Européia disseram desconhecer detalhes da proposta brasileira,
mas elogiaram a procura por
uma solução das emissões de
desflorestamento até a próxima convenção, em um ano.
Já um delegado do Canadá
foi direto ao afirmar que o mecanismo de contribuições "sem
retorno" para os países ricos é
como um dos diversos "esforços benevolentes" que não costumam ter sucesso porque os
países têm recursos escassos.
Em defesa da iniciativa brasileira, o Secretário de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, João
Paulo Capobianco, afirmou que
a proposta demonstra o interesse dos países ricos em diminuir emissões globais. "O que
nós não acreditamos é que a
convenção tenha se tornado
um balcão de negócios."
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