São Paulo, terça-feira, 15 de dezembro de 2009

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COPENHAGUE 2009

"Desapontados", países da África retardam negociação

Grupo acusa nações desenvolvidas de quererem enterrar o Protocolo de Kyoto

No segundo caso de suspensão da reunião, diálogo só foi retomado depois que a presidente da conferência interveio


LUCIANA COELHO
CLAUDIO ANGELO
ENVIADOS ESPECIAIS A COPENHAGUE

Com menos de quatro dias para fechar um acordo que combata o aquecimento global, um grupo dos países africanos bloqueou ontem a negociação em Copenhague por quatro horas. Motivo: os países desenvolvidos, acusam eles, querem matar o Protocolo de Kyoto.
O pleito ganhou imediato apoio do G-77 de nações em desenvolvimento, entre as quais o Brasil. A posição tradicional do país é defender um acordo sobre as bases do documento de 1997, em que países desenvolvidos têm metas para reduzir seus gases-estufa, e países em desenvolvimento, não.
"O grupo africano está totalmente desapontado", disse Djemouh Kamel, à frente das nações que estão entre as mais vulneráveis à mudança climática, em entrevista coletiva. "A presidência e o secretariado da conferência, bem como os países desenvolvidos, estão tentando implodir os dois processos [de negociação]", seguiu.
"Se aceitarmos essa situação, assinaremos o atestado de óbito do Protocolo de Kyoto."
Foi a segunda vez que as reuniões plenárias foram suspensas por insatisfação de países mais pobres, que afirmam ter sido excluídos das negociações. A primeira ocorreu na semana passada, com a ilha de Tuvalu.
"O relógio está andando, e qualquer tempo desperdiçado não ajuda", afirmaria o enviado da Casa Branca para Clima, Todd Stern. "Esta é uma das maiores e mais complicadas negociações de todos os tempos. Essas coisas nunca saem como planejado. Mas é preciso que os países foquem no essencial e sejam pragmáticos."
Os EUA não assinaram Kyoto e rejeitam um acordo de peso legal em Copenhague.
Presidente da conferência, a ex-ministra do Ambiente da Dinamarca e futura comissária do clima da União Europeia, Connie Hedegaard, conseguiu derrubar os argumentos, após avaliação do estatuto da conferência, e retomar a sessão.
Mas a paralisação afetaria toda a ordem do dia, com pelo menos quatro entrevistas coletivas atrasadas ou canceladas e a desconstrução da agenda de negociadores e ministros -inclusive a de Dilma Rousseff, chefe da delegação brasileira.
Os representantes de Maldivas, um dos países que pleiteiam a manutenção de Kyoto e a redução do teto para o aquecimento global de 2 C para 1,5 C por século, ignoraram o encontro que marcaram com a imprensa. O arquipélago que pode sumir sob a elevação dos oceanos é um dos mais ativos e eloquentes na COP-15.
Na plenária poucas horas depois, seu presidente, Mohammed Nasheed, chamaria os colegas à razão em meio a uma interminável fila de discursos.
"Podemos, por favor, parar com isso e começar a trabalhar?", perguntou, ao ver Hedegaard passar a palavra a seu colega sudanês. "Há 14 anos estamos fazendo pronunciamentos." Saiu aplaudido.


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