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COPENHAGUE 2009
"Desapontados", países da África retardam negociação
Grupo acusa nações desenvolvidas de quererem enterrar o Protocolo de Kyoto
No segundo caso de
suspensão da reunião,
diálogo só foi retomado depois que a presidente da conferência interveio
LUCIANA COELHO
CLAUDIO ANGELO
ENVIADOS ESPECIAIS A COPENHAGUE
Com menos de quatro dias
para fechar um acordo que
combata o aquecimento global,
um grupo dos países africanos
bloqueou ontem a negociação
em Copenhague por quatro horas. Motivo: os países desenvolvidos, acusam eles, querem matar o Protocolo de Kyoto.
O pleito ganhou imediato
apoio do G-77 de nações em desenvolvimento, entre as quais o
Brasil. A posição tradicional do
país é defender um acordo sobre as bases do documento de
1997, em que países desenvolvidos têm metas para reduzir
seus gases-estufa, e países em
desenvolvimento, não.
"O grupo africano está totalmente desapontado", disse
Djemouh Kamel, à frente das
nações que estão entre as mais
vulneráveis à mudança climática, em entrevista coletiva. "A
presidência e o secretariado da
conferência, bem como os países desenvolvidos, estão tentando implodir os dois processos [de negociação]", seguiu.
"Se aceitarmos essa situação,
assinaremos o atestado de óbito do Protocolo de Kyoto."
Foi a segunda vez que as reuniões plenárias foram suspensas por insatisfação de países
mais pobres, que afirmam ter
sido excluídos das negociações.
A primeira ocorreu na semana
passada, com a ilha de Tuvalu.
"O relógio está andando, e
qualquer tempo desperdiçado
não ajuda", afirmaria o enviado
da Casa Branca para Clima,
Todd Stern. "Esta é uma das
maiores e mais complicadas
negociações de todos os tempos. Essas coisas nunca saem
como planejado. Mas é preciso
que os países foquem no essencial e sejam pragmáticos."
Os EUA não assinaram Kyoto e rejeitam um acordo de peso
legal em Copenhague.
Presidente da conferência, a
ex-ministra do Ambiente da
Dinamarca e futura comissária
do clima da União Europeia,
Connie Hedegaard, conseguiu
derrubar os argumentos, após
avaliação do estatuto da conferência, e retomar a sessão.
Mas a paralisação afetaria toda a ordem do dia, com pelo
menos quatro entrevistas coletivas atrasadas ou canceladas e
a desconstrução da agenda de
negociadores e ministros -inclusive a de Dilma Rousseff,
chefe da delegação brasileira.
Os representantes de Maldivas, um dos países que pleiteiam a manutenção de Kyoto e
a redução do teto para o aquecimento global de 2 C para 1,5 C
por século, ignoraram o encontro que marcaram com a imprensa. O arquipélago que pode
sumir sob a elevação dos oceanos é um dos mais ativos e eloquentes na COP-15.
Na plenária poucas horas depois, seu presidente, Mohammed Nasheed, chamaria os colegas à razão em meio a uma interminável fila de discursos.
"Podemos, por favor, parar
com isso e começar a trabalhar?", perguntou, ao ver Hedegaard passar a palavra a seu colega sudanês. "Há 14 anos estamos fazendo pronunciamentos." Saiu aplaudido.
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