São Paulo, Sexta-feira, 16 de Abril de 1999
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Astrônomos descobrem outro sistema solar

MARCELO FERRONI
da Reportagem Local

Pela primeira vez na história da exploração espacial, pesquisadores dos EUA descobriram a existência de um sistema planetário semelhante ao Sistema Solar, ou seja, uma estrela com pelo menos três planetas em sua órbita.
O novo sistema foi divulgado ontem, na Califórnia, por pesquisadores da Universidade Estadual de San Francisco (SFSU), do Centro Harvard-Smithsoniano para Astrofísica (CfA), em Cambridge, e do Observatório de Alta Altitude (HAO), em Boulder.
A descoberta pode ajudar a entender como os planetas se formam e como surgiu o Sistema Solar. Pode indicar também que, no Universo, o número de sistemas planetários múltiplos pode ser muito maior do que o estimado.
A estrela desse novo sistema é a Úpsilon de Andrômeda, com 3 bilhões de anos, a cerca de 44 anos-luz da Terra (veja quadro ao lado).
O primeiro planeta ao redor dessa estrela já havia sido descoberto em 1996 por Geoffrey Marcy e Paul Buttler, da SFSU.
Para descobrir os outros dois planetas, Marcy, Buttler e colaboradores observaram, por cerca de 11 anos, suas interferências no movimento de Úpsilon de Andrômeda. Pequenos movimentos periódicos da estrela indicaram a presença dos novos corpos celestes.
A Folha contatou, por telefone e e-mail, Adam Contos e Peter Nisenson, astrônomos do CfA que participaram do estudo.
"A idéia de um novo sistema planetário é excitante, pois pode indicar que isso seja um fenômeno comum no Universo", disse Contos.
Segundo ele, esse é o primeiro sistema descoberto em uma estrela semelhante ao Sol. Outros planetas já foram encontrados ao redor de pulsares, corpos remanescentes de estrelas que explodiram.
Nisenson indicou que o sistema pode ter outros planetas menores. "Ainda não temos equipamentos adequados para detectar planetas do tamanho da Terra", disse.
Em 2005, a Nasa (agência espacial dos EUA) deverá lançar um telescópio espacial que poderá detectar planetas com uma massa cerca de dez vezes a da Terra.

Pesquisas independentes
A descoberta, que será publicada na revista "Astrophysical Journal", foi feita de forma independente pela SFSU e pelos CfA e HAO.
"A coincidência dos estudos é mais um indício de que os planetas realmente existem", disse Robert Noyes, do CfA, em entrevista coletiva em San Francisco.
"As pesquisas são diferentes, mas suas fontes e bases são semelhantes. São necessários novos dados para confirmar essa descoberta", disse Júlio César Klafke, do Instituto Astronômico e Geofísico da Universidade de São Paulo.
Para Klafke, a importância da notícia está no fato de que, até agora, "só conhecemos o Sistema Solar, e fica difícil criar uma regra geral de formação de planetas".

Novas formas de vida
A descoberta traz consigo a idéia de que novas formas de vida possam ser encontradas.
Segundo Marcy, é difícil que haja vida nos novos planetas. No entanto, a descoberta pode indicar que existem mais sistemas solares no Universo, o que aumenta a chance de que haja vida em outros locais.
Para Nisenson, entretanto, "os três planetas não têm as mesmas condições da Terra, mas podem ter satélites que podem ser semelhantes ao nosso planeta, da mesma forma que Júpiter tem luas".
O pesquisador disse que os dois planetas mais distantes estão em uma região habitável, ou seja, a luz e o calor recebidos por Úpsilon de Andrômeda não são excessivos.


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