|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Micróbio pode desintoxicar água
Especial para a Folha
Heide Schultz embarcou com
outros 11 cientistas no navio de
pesquisa "Petr Kottsov" com uma
tarefa específica: procurar bactérias de enxofre. Com apenas 29
anos, tirou a sorte grande, encontrando pérolas no lodo.
Schultz conclui semana que vem
seu doutorado no Instituto Max
Planck de Bremen (norte da Alemanha), que alugou o navio russo.
Teve seu artigo publicado numa
revista em que não entram muitos
professores titulares brasileiros.
É a sorte dos esforçados, como
dizem seus compatriotas. Ela já tinha passado 15 meses no Chile estudando o microrganismo desse
tipo mais comum na costa chilena
e peruana, o Thioploca.
"Adorei morar no Chile. Volto
sempre lá, para rever os amigos."
Como o mar da Namíbia apresenta condições semelhantes, foi
incumbida de procurá-la lá. Topou
com uma parente próxima -e a
maior bactéria conhecida.
Apesar do tamanho, a Thiomargarita não deverá alterar o desprezo que humanos, imprudentemente, dedicam às bactérias. Elas
"são e sempre foram as formas dominantes de vida na Terra", já disse o ensaísta e biólogo Stephen Jay
Gould num livro de 1996, "Life's
Grandeur" (A grandeza da vida).
"Nossa incapacidade de compreender esse fato biológico dos
mais evidentes nasce em parte da
cegueira de nossa arrogância, mas
também, em grande medida, de
um efeito de escala. Estamos por
demais acostumados a considerar
fenômenos da nossa escala -tamanhos medidos em metros e idades, em décadas- como típicos
da natureza. Bactérias individuais
estão abaixo da nossa visão e não
vivem talvez mais do que o tempo
que levo para almoçar", escreveu.
Útil contra a poluição
As bactérias do mar da Namíbia
também surpreendem pela longevidade. Schultz calculou, com base
no tamanho do vacúolo, que a superbactéria pode sobreviver mais
de 50 dias sem nitrato. Mas colheu
espécimes que continuam vivos
após dois anos sem receber ração
adicional dos nutrientes.
A atividade humana lança muito
nitrato nos mares, sobretudo por
meio de fertilizantes agrícolas. Eles
acabam adubando as algas marinhas, o que provoca marés vermelhas e morte de peixes.
Jay Grimes, da Universidade do
Sul do Mississippi, disse à "Science" que vê com otimismo a utilização dessas bactérias para "desintoxicar" águas poluídas.
(ML)
Texto Anterior: Estudo revela maior bactéria conhecida Próximo Texto: Argentinos acham múmia de bebê de 1.500 a 2.000 anos nos Andes Índice
|