São Paulo, Sexta-feira, 16 de Abril de 1999
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Micróbio pode desintoxicar água

Especial para a Folha

Heide Schultz embarcou com outros 11 cientistas no navio de pesquisa "Petr Kottsov" com uma tarefa específica: procurar bactérias de enxofre. Com apenas 29 anos, tirou a sorte grande, encontrando pérolas no lodo.
Schultz conclui semana que vem seu doutorado no Instituto Max Planck de Bremen (norte da Alemanha), que alugou o navio russo. Teve seu artigo publicado numa revista em que não entram muitos professores titulares brasileiros.
É a sorte dos esforçados, como dizem seus compatriotas. Ela já tinha passado 15 meses no Chile estudando o microrganismo desse tipo mais comum na costa chilena e peruana, o Thioploca.
"Adorei morar no Chile. Volto sempre lá, para rever os amigos."
Como o mar da Namíbia apresenta condições semelhantes, foi incumbida de procurá-la lá. Topou com uma parente próxima -e a maior bactéria conhecida.
Apesar do tamanho, a Thiomargarita não deverá alterar o desprezo que humanos, imprudentemente, dedicam às bactérias. Elas "são e sempre foram as formas dominantes de vida na Terra", já disse o ensaísta e biólogo Stephen Jay Gould num livro de 1996, "Life's Grandeur" (A grandeza da vida).
"Nossa incapacidade de compreender esse fato biológico dos mais evidentes nasce em parte da cegueira de nossa arrogância, mas também, em grande medida, de um efeito de escala. Estamos por demais acostumados a considerar fenômenos da nossa escala -tamanhos medidos em metros e idades, em décadas- como típicos da natureza. Bactérias individuais estão abaixo da nossa visão e não vivem talvez mais do que o tempo que levo para almoçar", escreveu.

Útil contra a poluição
As bactérias do mar da Namíbia também surpreendem pela longevidade. Schultz calculou, com base no tamanho do vacúolo, que a superbactéria pode sobreviver mais de 50 dias sem nitrato. Mas colheu espécimes que continuam vivos após dois anos sem receber ração adicional dos nutrientes.
A atividade humana lança muito nitrato nos mares, sobretudo por meio de fertilizantes agrícolas. Eles acabam adubando as algas marinhas, o que provoca marés vermelhas e morte de peixes.
Jay Grimes, da Universidade do Sul do Mississippi, disse à "Science" que vê com otimismo a utilização dessas bactérias para "desintoxicar" águas poluídas. (ML)


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