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TECNOLOGIA
Composto sintetizado por pesquisadores dos EUA armazena gás para uso em células de combustível de carros
Nova liga pode deflagrar era do hidrogênio
CLAUDIO ANGELO
EDITOR-ASSISTENTE DE CIÊNCIA
Uma nova categoria de material, produzido a baixo custo por
uma reação simples de laboratório, pode ser exatamente o que a
indústria estava esperando para
acelerar a entrada no mercado de
carros movidos a hidrogênio. Esse material, sintetizado por um
grupo de químicos dos EUA, tem
a capacidade de estocar grandes
quantidades do gás em sua estrutura, em condições normais de
temperatura e a baixa pressão.
O uso do hidrogênio em substituição ao petróleo é uma das
grandes apostas para o futuro
energético do planeta. A célula de combustível,
uma espécie de pilha que processa
hidrogênio gasoso para produzir
eletricidade e água, é a esperança
dos ambientalistas e de algumas
empresas automobilísticas para a
produção de carros "limpos".
Com uma vantagem adicional: o
hidrogênio (H2) é o elemento
mais abundante do Universo.
Os problemas da anunciada
"economia do hidrogênio" são
basicamente três. Primeiro, o hidrogênio não existe livre na natureza -está combinado ao oxigênio ou a outros elementos. Depois, células de combustível são
caras demais. Por fim, o hidrogênio gasoso é altamente inflamável
e difícil de estocar com segurança
em tanques de carro.
Em um estudo na edição de hoje
da revista científica "Science"
(www.sciencemag.org), uma
equipe liderada por Nathaniel Rosi, da Universidade de Michigan,
diz ter chegado perto de resolver o
terceiro problema.
Eles criaram uma série de compostos organometálicos (com um
metal, no caso zinco, associado a
uma molécula orgânica) com a
capacidade de estocar de 1% a
9,1% de seu peso em hidrogênio.
A temperaturas altas, essa capacidade pode chegar a 17,2%. O H2 fica ligado temporariamente à estrutura e é liberado para a célula
de combustível com um esquentamento leve ou com um pequeno
alívio na pressão.
A meta mundial para que esse
tipo de armazenagem tenha aplicação comercial é 6,5% do peso
do composto em hidrogênio.
"Eu, se fosse uma companhia
automobilística, estaria interessado na descoberta", disse à Folha o
químico jordaniano-americano
Omar Yaghi, da Universidade de
Michigan, co-autor do estudo.
Yaghi diz que seu grupo trabalha há 12 anos com estruturas químicas capazes de absorver moléculas e liberá-las. Os compostos,
batizados MOFs (ou estruturas
organometálicas), foram desenhados sob medida pelos pesquisadores. Eles se parecem com cubos de arame, no interior dos
quais moléculas de hidrogênio
gasoso podem ficar armazenadas
de maneira estável.
Outros compostos, como nanotubos de carbono e hidretos metálicos (ligas metálicas com hidrogênio), têm sido pesquisados para
estocar o elemento. No Brasil, hidretos metálicos desenvolvidos
pela Universidade Federal do Rio
de Janeiro e pela Unicamp já têm
capacidades de estocagem de 4%
e 3%, respectivamente.
"O problema dos hidretos é que,
além de serem pesados demais,
eles requerem muita energia para
liberar o hidrogênio. E nanotubos
só funcionam sob alta temperatura", disse Yaghi.
O pesquisador, cujo grupo trabalha com financiamento da empresa Basf, acredita que em um a
dois anos deverá atingir o nível
comercial de absorção de hidrogênio a temperatura ambiente.
"Temos a chave para o que faz de
um material um grande armazenador de hidrogênio", afirmou.
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