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Transmissor da malária tem DNA soletrado
EDUARDO GERAQUE
ENVIADO ESPECIAL A MANAUS
O Brasil ganhou um alento da
genética para tentar controlar a
malária, doença que atinge
mais de 450 mil pessoas todos
os anos no país, principalmente, nos Estados da região Norte.
Dados semifinais do genoma
do mosquito Anopheles darlingi, transmissor do protozoário
causador da doença no Brasil,
foram divulgados ontem, em
Manaus, durante a 61ª Reunião
Anual da SBPC (Sociedade Brasileira para a Ciência).
"Em mais um mês, a primeira versão do genoma estará
pronta", diz Ana Tereza Vasconcelos, coordenadora do
projeto, executado pelo LNCC
(Laboratório Nacional de Computação Científica), instituição
sediada em Petrópolis (RJ).
De acordo com a cientista,
um exame preliminar dos dados das sequências genéticas
do mosquito brasileiro da malária mostra caminhos interessantes de pesquisa.
Interruptor
"Uma das proteínas fundamentais para o sistema de
transmissão da doença por parte dos mosquitos [e que os cientistas estão tentando desligar]
existe também no darlingi".
Depois de conhecer o rascunho das sequências genéticas
de um dos mosquitos da malária, os cientistas vão precisar de
ferramentas mais potentes para preencher algumas das páginas vazias que não conseguiram ser decifradas na leitura
inicial dos genes. O trabalho
adicional deve levar anos.
Mosquito nunca mais
Chegar ao código genético do
mosquito brasileiro da malária
não teve nada de trivial. "Genoma de mosquito nunca mais",
diz Vasconcelos, em tom de
brincadeira.
A dificuldade técnica consistiu em identificar as diversas
inversões e formas que os genes
do mosquito têm.
"Um especialista chegou a
me dizer que o genoma do Anopheles gambiae [o inseto que
transmite a malária na África
teve seu código genético decifrado em 2002] era o segundo
pior, em termos de confusão
para localizar os genes, que ele
tinha visto", afirma. O primeiro
era o dos afídeos (pulgões).
Segundo indicam os estudos
do LNCC, o genoma do A. darlingi é igualmente confuso.
A comparação entre os dois
genomas, por enquanto, mostra que eles têm mais de 70% de
semelhança.
Buiuçuzinho
A busca pela amostra perfeita também deu trabalho. Os
pesquisadores queriam mosquitos que transmitissem a malária mas que estivessem em
uma área sem influência antrópica, o que sempre pode causar
alteração nos genes.
E eles acharam mais de 800
mosquitos "puros" em Santa
Luzia do Buiuçuzinho, às margens do lago de Coari. A localidade do interior do Amazonas
está a cerca de 480 quilômetros
de barco de Manaus.
No caso do esforço brasileiro
para tentar decifrar o genoma
do A. darlingi, os cientistas do
LNCC contaram com um reforço fundamental, em operação desde janeiro: um sequenciador de DNA de última geração, um dos dois únicos do país.
O equipamento, que custou
R$ 2,1 milhões, é um "fusca
comparado a uma carroça",
compara Vasconcelos.
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