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GENÉTICA
Cientista-empresário monta centro genômico e quer, em 10 anos, decifrar o DNA de um indivíduo por US$ 2.000
Venter quer fazer genoma personalizado
DA REDAÇÃO
O cientista J. Craig Venter, que
abandonou o Projeto Genoma
Humano para fazer-lhe concorrência na empresa Celera, voltou
ao ataque: anunciou ontem a criação de um novo centro de pesquisas genômicas. Uma de suas metas é desenvolver tecnologias, no
prazo de dez anos, para analisar
todos os genes de uma pessoa por
algo entre US$ 2.000 e US$ 3.000.
"Nosso objetivo é chegar ao
ponto de podermos fazer a análise
de um genoma inteiro em minutos ou horas, em contraste com
meses e anos", disse Venter ao
jornal "The New York Times".
O custo das primeiras sequências do genoma da espécie humana, publicadas em 2001, é estimado entre centenas de milhões e 2
bilhões de dólares. Baixando esse
valor para milhares de dólares, seria possível desenvolver um tipo
de atendimento médico sob medida para cada pessoa.
"Uma coisa que está muito clara
é que a tecnologia existente não
está à altura de nenhuma dessas
tarefas", ressalvou Venter.
A análise, chamada de sequenciamento de DNA, consiste na
transcrição de todas as "letras"
químicas dos cromossomos (o
homem tem 23 pares deles). Neles
está contida a herança genética de
uma espécie, mas as características finais dos indivíduos também
dependem da interação desses organismos com o ambiente. O
cientista disse ao jornal norte-americano que a instalação do
centro deve consumir entre US$
20 milhões e US$ 100 milhões,
gastos durante quatro anos. Ele
mesmo fará o investimento inicial, com dinheiro que ganhou
quando trabalhou para a Celera.
Venter, 55, nega que vá concorrer com a Celera, de cuja presidência foi ejetado há sete meses.
Mas lançou seu novo centro de
pesquisas no mesmo dia em que
sua antiga parceira na Celera, a
Applied Biosystems, lançou uma
nova geração de máquinas sequenciadoras de DNA.
De volta ao curso
"Você poderia olhar para isso
como se Venter estivesse construindo algo novo que cumprisse
a missão que ele queria que a Celera tivesse seguido", disse Gerald
Rubin, professor de genética da
Universidade da Califórnia em
Berkeley e vice-presidente do Instituto Médico Howard Hughes.
Venter foi sacado da presidência da Celera quando a empresa
decidiu abandonar sua estratégia
inicial, que consistia em comercializar os dados genômicos como seu produto final, e buscar
uma abordagem na linha farmacêutica, aplicando o conhecimento obtido com o sequenciamento
de genes diretamente na criação
de novos medicamentos.
"Muita gente ficou com a impressão de que o sequenciamento
acabou, agora que sequenciamos
o genoma humano. Para mim é só
o começo", disse Venter à agência
de notícias Reuters.
Para auxiliar na descoberta de
causas de doenças, modelar novos medicamentos e predizer o
risco de uma pessoa adoecer, será
necessário que os genomas de
muitas pessoas sejam analisados.
Os já publicados eram apenas
compilações de cromossomos de
uns poucos voluntários.
"Quero ajudar os indivíduos a
entender seu código genético e o
que ele significa e não significa",
afirmou o cientista. "Isso quer dizer que [o sistema de sequenciamento" precisa ficar muito mais
rápido e muito mais barato."
Redução de custos
Se tiver sucesso, Venter espera
poder completar até dez genomas
por US$ 100 milhões (o equivalente ao gasto público exigido pelo genoma do camundongo).
"Acredito que dentro de um ano
deveremos ser capazes de fazer
genomas de mamíferos por menos de US$ 10 milhões."
Larry Thompson, um porta-voz
do Instituto Nacional de Pesquisa
do Genoma Humano (principal
envolvido, nos EUA, com o consórcio público internacional Projeto Genoma Humano), não atribuiu importância à nova iniciativa de Venter. "Ele está abrindo
um novo laboratório. Montes de
companhias abrem novos laboratórios, o tempo todo."
Claro, não é isso o que pensa
Venter. "Esse será maior do que
os centros existentes", disse. Ele
combinará o Instituto para Pesquisa Genômica, o Instituto para
Alternativas Biológicas de Energia e o Centro para o Avanço da
Genômica, todos criados por ele.
Com agências internacionais
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