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ASTRONÁUTICA
Segredo militar cerca operação que fará a terceira tentativa brasileira de enviar satélite à órbita da Terra
Foguete nacional deve voar até fim do mês
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
A terceira tentativa brasileira de
lançar um satélite ao espaço está
às vésperas de acontecer. Os trabalhos no foguete VLS-1 já estão a
todo o vapor no Centro de Lançamento de Alcântara, no Maranhão, e a perspectiva é realizar o
vôo entre quarta-feira e o final
deste mês. Mas, ao contrário do
que ocorreu nas duas ocasiões anteriores, a transparência não está
sendo o forte da atual campanha.
A data exata ainda não foi divulgada, mas, segundo o presidente
da AEB (Agência Espacial Brasileira), Luiz Bevilacqua, não passa
do fim de agosto. "Na prática, deve ser entre os dias 20 e 29", disse.
Embora a AEB, responsável pelo programa civil de exploração
do espaço, informe estar acompanhando de perto a evolução dos
trabalhos no lançador, todo o
controle de divulgação e administração dos trabalhos está sob comando militar.
O lançamento está envolto por
uma aura de mistério, e o único
órgão autorizado a dar informações é o Cecomsaer (Centro de
Comunicação Social da Aeronáutica). Até mesmo o pesquisador-chefe responsável por um dos satélites a serem lançados pelo VLS
não sabe quando o foguete deve
subir. Não sabe sequer quando será chamado a Alcântara para
acompanhar os trabalhos com o
sistema que ajudou a projetar.
A imprensa não poderá acompanhar o lançamento a partir de
Alcântara, como na última aparição do VLS, em 1999. Segundo o
Cecomsaer, jornalistas só poderão visitar a base na próxima terça, véspera da primeira data.
Os setores de comunicação da
AEB, do Inpe (Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais) e de universidades envolvidas não estão
liberados para dar informações
sem autorização da Aeronáutica.
Mauro Dolinsky, engenheiro do
CTA (Centro Técnico Aeroespacial) que participa da coordenação do lançamento, disse estar
proibido de falar com a imprensa.
Importância estratégica
Pode parecer exagero, mas o fato é que todo cuidado é pouco
quando se fala em lançamento do
VLS. Desenvolvido ao longo de
duas décadas, ele é um dos projetos mais importantes do programa espacial brasileiro. Segundo
os planos originais, o VLS deveria
passar por quatro vôos de qualificação. Os dois primeiros, realizados em 1997 e 1999, foram malogrados. O terceiro está sendo planejado desde 2001, mas só agora
surgiram os recursos para conduzi-lo. Um terceiro fracasso poderia bem levar ao cancelamento.
Seria uma perda tecnológica e
estratégica. Foguetes lançadores
entram na lista das tecnologias
duais, que servem a finalidades
tanto civis quanto militares. Em
linhas gerais, a diferença entre um
lançador e um míssil balístico intercontinental (capaz, por exemplo, de levar uma bomba ao outro
lado do mundo) não é apreciável.
Por essa razão os EUA não simpatizam com o desenvolvimento de
um lançador brasileiro e fazem
oposição ao programa nacional.
Missão completa
Bevilacqua está confiante de que
desta vez o VLS cumprirá a primeira missão espacial brasileira
completa (em que um veículo nacional, de uma base nacional, lança um satélite nacional). "Sou capaz de apostar um jantar no "Famiglia Mancini" [restaurante de
São Paulo] que em setembro estaremos comemorando o primeiro
lançamento de um satélite por um
lançador brasileiro."
Alguns engenheiros ligados ao
programa espacial (mas não envolvidos no projeto) não ecoam o
otimismo de Bevilacqua. Um deles, que pediu para ter seu nome
omitido, até solicitou convite para
o jantar, sugerindo a improbabilidade de sucesso absoluto.
O foguete tem quatro estágios
movidos a propelente sólido, que
dificulta manobras de precisão e
impede o desligamento do motor
no caso de problemas. Nos lançamentos anteriores, as falhas ocorreram no primeiro e no segundo
estágios. Dois deles, portanto,
nunca chegaram a fazer um teste
com o conjunto.
Na nova tentativa, o VLS-1 carregará dois satélites. Um deles, Satec-1, foi desenvolvido pelo Inpe e
testará várias tecnologias espaciais. O outro, Unosat, é um nanossatélite da Unopar (Universidade Norte do Paraná). Com apenas 8,8 kg, transmitirá dados de
telemetria e uma gravação de voz,
capaz de ser detectada por rádio
amador (FM, 148,135 MHz), coisa
parecida com o que fez o primeiro
satélite artificial, o soviético Sputnik, em 1957. Se tudo correr bem
como Bevilacqua supõe, o Sputnik brasileiro está a caminho.
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