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São Paulo, terça-feira, 16 de setembro de 2003

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BIOTECNOLOGIA

Técnica poderá ser usada para "recriar" animais de alto valor

Embrapa clona vaca morta

Divulgação/Embrapa
A bezerra Lenda, clone de vaca morta produzido pela Embrapa


MARCUS VINICIUS MARINHO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

A clonagem aparece como a mais nova esperança para criadores que perdem animais de alto valor produtivo. A novidade chega com a bezerra Lenda, da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), o primeiro exemplo nacional de que os clones bovinos podem ser feitos também a partir de células de animais já mortos.
O novo clone foi fabricado com células adultas retiradas da granulosa -camada de células que circunda o óvulo- de uma vaca leiteira morta num acidente.
Lenda é o terceiro caso de clonagem bovina a partir de células adultas no Brasil, e o primeiro a partir de um animal morto. Em 2002, pesquisadores da Unesp já haviam feito a bezerra Penta, que viveu cerca de um mês.
Neste ano, a mesma equipe da Embrapa fez um clone a partir de um animal vivo, mas a bezerra só viveu três dias. Lenda, por sua vez, já tem 12 dias de vida e é muito saudável, segundo os cientistas.
"Fazer clones a partir de animais já mortos é uma estratégia que a gente poderá aproveitar sempre que um animal de elevado mérito genético sofrer um acidente", disse por telefone Rodolfo Rumpf, 43, líder da equipe da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, em Brasília.
Segundo o pesquisador, o próximo objetivo de seu grupo é organizar um banco genético para que os criadores desses animais consigam produzir clones e evitar quedas em sua produção. Além disso, o veterinário acha que a técnica pode ser usada para regenerar animais silvestres vítimas de acidentes que estiverem ameaçados de extinção.
A bezerra Lenda foi produzida a partir de uma vaca de alto valor, que, em sete anos de vida, teve cinco partos e produziu cerca de 40 mil litros de leite. Em novembro do ano passado, o animal morreu. O criador contatou então a Embrapa para que seus óvulos fossem retirados e aproveitados numa fecundação posterior.
"Clonar a vaca não era nossa primeira intenção. Tentamos primeiro aproveitar óvulos retirados da vaca morta para que fossem fecundados depois, mas eles não eram mais viáveis", disse Rumpf. "Então pensamos na clonagem, já que as células da granulosa estavam em boas condições."
A equipe de Rumpf retirou os núcleos das células aproveitáveis, implantou-os em óvulos sem núcleo -através de uma técnica conhecida como transferência nuclear- e cultivou as células assim obtidas para que formassem embriões. Das 24 células, só 8 se desenvolveram até a fase de blastocisto, em que o embrião tem forma esférica e cerca de 150 células.
Os oito blastocistos foram implantados em vacas receptoras. Só Lenda sobreviveu até a gestação.

Clone humano?
O polêmico cientista cipriota-americano Panayiotis Zavos, da Universidade de Kentucky, disse ter produzido o primeiro embrião humano clonado. Segundo ele, o embrião será implantado numa mulher ainda neste ano.


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