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Bird quer pacote de US$ 475 bi para clima
Dinheiro deve ser suprido pelos países desenvolvidos para corte de emissões e adaptação nas nações pobres até 2020
Relatório do Banco Mundial
afirma que aquecimento
global drena recursos do
desenvolvimento e pede fim
de tarifa ao álcool do Brasil
CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA
O combate e a adaptação às
mudanças climáticas se tornaram parte obrigatória de qualquer plano de desenvolvimento. E custarão, no Terceiro
Mundo, US$ 475 bilhões por
ano nos próximos 20 anos, segundo um relatório do Banco
Mundial divulgado ontem.
É a primeira vez que o tema
do aquecimento global aparece
como assunto principal do
"World Development Report",
uma espécie de guia anual publicado pelo Bird desde 1978.
O relatório vem num momento estratégico, a três meses
da conferência da ONU em Copenhague, que forjará o novo
acordo de proteção ao clima, e a
oito dias do encontro do G20
que debaterá o assunto.
Segundo o documento, os
efeitos da mudança climática
-mais tempestades, secas e ondas de calor-, que já acontecem e tendem a se agravar, tornam mais difícil a tarefa de aliviar a pobreza, pois "drenam
recursos do desenvolvimento"
e aumentam o preço da comida.
"Países em desenvolvimento
são afetados desproporcionalmente pela mudança climática
-uma crise que eles não produziram e para a qual não estão
preparados", disse o presidente
do banco, Robert Zoellick.
É nesses países, como o Brasil, que está o potencial de corte
de emissões com menor custo.
Mas esse corte terá de ser financiado pelos países ricos, diz
o banco. E aqui há uma lacuna:
hoje, ações de adaptação e de
mitigação (redução de emissões) no Terceiro Mundo têm
US$ 10 bilhões por ano. Mas o
relatório estima que serão necessários US$ 400 bilhões por
ano para a mitigação e US$ 75
bilhões para a adaptação.
Para comparação, a crise econômica mundial já tragou US$
3 trilhões em um ano.
O relatório aponta problemas nos atuais mecanismos de
financiamento de ações antiaquecimento. Um exemplo é o
MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo), criado pelo
Protocolo de Kyoto, de 1997.
Através dele, ações de redução
em países pobres poderiam valer créditos de carbono, a serem
abatidos das metas de corte de
emissões dos países ricos.
Mas o MDL, avalia o banco,
rendeu poucos recursos (serão
no máximo US$ 18 bilhões em
11 anos) e fracassou em seu objetivo: "Ele não levou os países
em desenvolvimento para trajetórias de baixo carbono".
O relatório propõe novos mecanismos de financiamento,
como impostos "fiscalmente
neutros" sobre as emissões de
carbono -ou seja, que fossem
restituídos com redução de outros impostos- até uma taxa
sobre o transporte internacional, ecoando uma proposta feita pelo presidente Luiz Inácio
Lula da Silva dois anos atrás.
Álcool brasileiro
Outra lacuna apontada é a do
desenvolvimento de tecnologias de energia limpa. Elas são
vistas como a principal arma
para impedir que o aquecimento global fique muito acima de
2C até 2100.
"Os subsídios globais ao petróleo e derivados são de US$
150 bilhões por ano, mas o gasto público em desenvolvimento
e emprego de tecnologias de
energia é de cerca de US$ 10 bilhões há décadas", diz o banco.
Aqui, mais uma vez, a responsabilidade é dos países ricos, não só de investir em tecnologia e na sua transferência
às nações pobres, mas também
de derrubar tarifas a essas tecnologias quando desenvolvidas
a baixo custo no Terceiro Mundo. O álcool brasileiro é citado.
"Os subsídios dos países da
OCDE [desenvolvidos] a seus
biocombustíveis foram de US$
11 bilhões em 2006. Como resultado, não se fazem investimentos nos países onde a tecnologia tem uma melhor relação custo/benefício. O Brasil, o
produtor de etanol a custo mais
baixo, viu um crescimento modesto de 6% na sua produção de
etanol entre 2004 e 2005, enquanto os EUA e a Alemanha tiveram crescimentos de 20% e
50% (...)", conclui o Bird, pedindo menos tarifas.
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