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Genoma do neandertal sai em dois anos, diz cientista
Análise preliminar indica que humanos e sua espécie-irmã se separaram recentemente
Divisão evolutiva ocorreu
entre 500 mil e 370 mil anos
atrás, aponta estudo inicial;
DNA lido até agora descarta
hipótese de cruzamento
RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL
Os dois grupos de cientistas
que estão trabalhando no seqüenciamento do genoma do
homem de Neandertal publicam hoje e amanhã o primeiro
resultado parcial dos dados que
obtiveram, e esperam terminar
o trabalho dentro de dois anos.
Assim que o genoma estiver
pronto, a comparação do DNA
do neandertal (a espécie distinta mais próxima que se conhece
do Homo sapiens) com o de
pessoas e chimpanzés pode
trazer dados novos sobre a história da evolução humana.
"Seqüenciar o genoma do
neandertal oferece a possibilidade única de identificar mudanças genéticas específicas no
genoma de humanos modernos", disse o geneticista Svante
Pääbo, do Instituto Max Planck
para Antrolpologia Evolutiva,
em Leipzig (Alemanha).
Na prática, o pouco DNA que
os cientistas analisaram até
agora (0,03% do genoma total)
ainda não permite mergulhar
em questões de comportamento nem fazer inferências sobre
a inteligência dos neandertais.
Mas já é possível trabalhar em
questões como os marcos na
história evolutiva da espécie
(veja quadro acima, à direita).
Pääbo publica hoje na revista
"Nature" os resultados da primeira rodada de análise do genoma do neandertal -1 milhão
de pares de bases ("letras" do
DNA) do Homo neanderthalensis, sendo que o total deve ser
algo em torno de 3 bilhões, assim como o genoma humano.
"O que fizemos foi tirar uma
amostra estatística do genoma", diz Pääbo, que usou seus
resultados para estimar que
humanos e neandertais se separaram como espécies há 500
mil anos. "Mas ainda há grandes margens de erro em nossas
estimativas", afirma. Usando
uma poderosa tecnologia nova
de leitura de DNA, chamada
"pirosseqüenciamento", Pääbo
conseguiu seqüenciar parte de
uma raríssima amostra de DNA
encontrada no osso de um
exemplar de neandertal com 38
mil anos achado na Croácia.
O outro grupo trabalhando
no seqüenciamento é liderado
por Edward Rubin, do Laboratório Nacional Lawrence Berkeley, na Califórnia. Adotando
uma estratégia diferente, ele
inseriu o DNA antigo em bactérias para fazer várias cópias de
cada amostra.
O método permite analisar
DNA com mais facilidade
quando se pretende estudar
um gene específico, mas dificulta o seqüenciamento total.
Rubin descreve, em estudo que
sai amanhã na revista "Science", que conseguiu extrair apenas 65 mil pares de bases, enquanto Pääbo obteve 1 milhão.
Rubin também estimou uma
data diferente para a divergência entre as duas espécies: 370
mil anos atrás. "Mas nosso número não é fundamentalmente
diferente [do de Pääbo]", diz.
"As margens de erro se sobrepõem uma à outra."
Pääbo e Rubin começaram a
trabalhar juntos um ano e meio
atrás, quando desenvolveram
uma metodologia para trabalhar com seqüenciamento de
DNA antigo usando amostras
de ossos de ursos-das-cavernas
que viveram na mesma época
dos homens de Neandertal.
Nesse meio tempo, os dois
grupos começaram a usar metodologias diferentes de seqüenciamento e adotaram
abordagens diferentes para evitar a contaminação das amostras antigas por DNA humano
moderno -uma das maiores
dificuldades técnicas dessa
área de pesquisa. Apesar de publicarem seus estudos separadamente agora, os cientistas
afirmam que continuarão trabalhando em colaboração.
"Uma coisa importante é que
os dados estão disponíveis agora", afirma Rubin. "Estamos
analisando os dados deles, eles
estão analisando os nossos e
outros pesquisadores estão
olhando para os dois. Isso é
uma forma de assegurar que as
análises foram tão verdadeiras
quanto possível."
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