São Paulo, quinta-feira, 17 de fevereiro de 2005

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ANTROPOLOGIA

Crânios vêm da Etiópia; idade é indireta

Nova data para fósseis sugere que homem moderno tem 195 mil anos

Michael Day/Divulgação
Crânios Omo 1 (à esq.) e Omo 2, com cerca de 195 mil anos


REINALDO JOSÉ LOPES
DA REPORTAGEM LOCAL

Se o testemunho de certas rochas vulcânicas da Etiópia estiver correto, fósseis achados em 1967 são, na verdade, os mais antigos representantes da humanidade moderna. Pesquisadores da Austrália e dos EUA reexaminaram as camadas geológicas onde esses restos foram achados e bateram o martelo: são Homo sapiens com cerca de 195 mil anos.
"A idade da nossa espécie vem recuando constantemente faz algum tempo, e esta é mais uma mudança no quadro, embora não seja dramática", avalia com modéstia o paleoantropólogo John Fleagle, da Universidade Stony Brook (Estado de Nova York), um dos responsáveis pela nova datação na revista "Nature" (www.nature.com) de hoje.
Antes, o humano moderno mais antigo era o H. sapiens idaltu (uma subespécie da atual, como indica o terceiro nome latino), com seus 160 mil anos. Por sinal, ele também era etíope. "Acreditamos que essa idade ajuda a reforçar a hipótese "out of Africa" [que postula uma origem africana para todas as pessoas vivas hoje, com pouca ou nenhuma contribuição de outros continentes]", disse à Folha o geólogo Ian McDougall, da Universidade Nacional Australiana.
Apelidados de Omo 2 e Omo 2, em homenagem ao rio que banha a região da Etiópia onde foram escavados, os dois crânios (com alguns fragmentos do resto do esqueleto) geram polêmica há tempos. Seu descobridor, Richard Leakey, dava a eles uma idade de 130 mil anos -um absurdo nos idos de 1967, quando ninguém achava que o H. sapiens pudesse ser tão velho.
"O problema é que não havia técnicas de datação muito boas naquela época para coisas tão velhas. Leakey usou conchas para obter esse resultado, mas depois descobriu-se que a datação com esse método era completamente errática", explica Fleagle.
Por isso, McDougall teve de escarafunchar de novo as camadas de onde vieram os ossos, na esperança de analisar as rochas e datá-las. Sua sorte é que o local estava cheio de pedras-pomes, cuspidas por erupções vulcânicas, que permitiram datações mais precisas.
Bem, mais ou menos: embora a maioria tenha cerca de 198 mil anos, algumas passavam dos 300 mil. "Acreditamos que essas pedras provenham de uma erupção anterior, e tenham sido misturadas às mais novas em outra fase vulcânica", explica McDougall. O geólogo diz que a confiabilidade da data aumenta quando são examinados os sedimentos que o rio Omo carregou para o Nilo e o Mediterrâneo. Eles têm idades que concordam com a das pedras -sinal de que elas foram depositadas ali logo depois de formadas.
Como os dois hominídeos estavam localizados pouco acima dessas rochas, McDougall estima que tenham 195 mil anos, idade compatível com estimativas feitas com base nas diferenças no DNA de pessoas vivas hoje. O surpreendente é que os dois crânios são bem díspares -Omo 1, com sua caixa craniana alta, parece bem mais moderno que Omo 2. Isso pode indicar grande variabilidade entre os primeiros H. sapiens.


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