São Paulo, sábado, 17 de fevereiro de 2007

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"Encanamento" antártico dá pistas sobre a mudança global do clima

Continente tem lagos líquidos sob o gelo que enchem e esvaziam rapidamente

DA REPORTAGEM LOCAL

Uma pista sobre o papel da Antártida na mudança climática foi descoberta agora literalmente escondida debaixo do gelo: lagos que se enchem e esvaziam rapidamente.
Entender o comportamento desses lagos será importante para desvendar o papel do degelo antártico no aumento do nível dos oceanos, um dos efeitos do aquecimento global.
Estes não são os primeiros lagos subglaciais encontrados -os autores do estudo, publicado ontem na revista científica "Science", informam que pelo menos 145 já foram mapeados. A grande novidade é o dinamismo desse sistema de "encanamento" subterrâneo.
A pesquisadora americana Helen Fricker e mais três colegas estudaram imagens e dados sobre o relevo antártico, feitos pelo satélite ICEsat, especializado em coletar essas informações. Os dados são referentes a geleiras no oeste da Antártida e foram obtidos de 2003 a 2006.
Segundo Robert Bindschadler, da Nasa, co-autor do estudo, os lagos subglaciais se movem até dois metros por dia. "É o gelo em rápido movimento que determina como a camada de gelo responde à mudança climática a curto prazo", diz ele.
A água no sistema de lagos agiria como uma "graxa" entre o leito rochoso e as geleiras, aumentando aumentando a velocidade do deslocamento dos rios de gelo. Quanto mais rápido esse deslocamento, mais gelo do continente vai parar no oceano -e mais o mar sobe.
Fricker acrescenta que a rapidez da movimentação, além da sua grande quantidade, foram surpreendentes. "Nós achávamos que essas mudanças tinham lugar em anos e décadas, mas estamos vendo grandes mudanças em meses", afirma a pesquisadora, do Instituto Scripps de Oceanografia.
O altímetro laser a bordo do satélite permitiu medições precisas do gelo, revelando o movimento da água debaixo da camada. As regiões de lagos têm tamanhos variados, as maiores com até 500 km2.
Antes do ICEsat, para descobrir esse tipo de informação, seria preciso ir à Antártida e fazer sondagens profundas. Os dados de satélite permitem uma visão mais ampla -e com a vantagem de poderem ser coletados no aconchego do laboratório. (RICARDO BONALUME NETO)


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