São Paulo, domingo, 17 de fevereiro de 2008

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análise

"Pentágono quer unir o útil ao agradável"

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Destruir um satélite espião inoperante é unir o útil ao agradável para os militares americanos. É tanto uma maneira de testar equipamentos em condições reais como um modo de demonstrar a capacidade a potenciais rivais -como a China, que fez um teste de arma anti-satélite no ano passado.
O melhor "teste" de um sistema de armas é o combate. Na falta disso, é possível fazer simulações, seja em computador, seja com tiro real. Mas testes custam caro e nem sempre podem ser realistas. Nem sempre existe um navio velho disponível para ser afundado por um torpedo, por exemplo.
O movimento do satélite em órbita baixa lembra até certo ponto o de uma ogiva de míssil balístico, faltando apenas a reentrada na atmosfera para a simulação de um ataque. Defender o país contra mísseis inimigos dotados de ogivas nucleares é uma prioridade americana.
O sistema de defesa Aegis do cruzador que disparará o míssil anti-satélite foi criado originariamente durante a Guerra Fria para defender as esquadras da Marinha dos EUA de ataques aéreos e de mísseis soviéticos. Ironicamente, o sistema é fabricado pela Lockheed Martin, empresa do setor bélico e aeroespacial que também fez o satélite espião.
O Aegis foi projetado para reação rápida e ter capacidade de rastrear dezenas de alvos ao mesmo tempo.
O cruzador "Vincennes", equipado com o sistema, derrubou um avião de passageiros iraniano em 1988. A investigação mostrou que o Aegis funcionou e que o desastre foi devido principalmente a falha humana.
Os mísseis Standard foram criados originariamente para abater aviões. Mas, assim como o míssil antiaéreo terrestre Patriot, suas versões mais novas foram adaptadas para terem também a capacidade de destruir mísseis balísticos inimigos.
Apesar de mísseis terem popularmente a fama de armas letais e precisas, no mundo real eles falham muito. Os modelos mais simples e antigos tinham um índice de acertos muito baixo.
Havia mísseis ar-ar americanos na Guerra do Vietnã que acertavam o alvo apenas em 10% dos lançamentos. Os mísseis antiaéreos britânicos na Guerra das Falklands/Malvinas também falharam muito, e os seus equivalentes soviéticos (hoje russos) só deram muita dor de cabeça aos israelenses porque os árabes os lançavam em quantidades enormes. Um piloto que se desviasse de um ou dois mísseis logo tinha que encarar um terceiro e um quarto.
Os mísseis atuais são bem mais eficientes, mas também ganharam em complexidade -e portanto fragilidade. Há uma margem limitada de incerteza cercando a operação de destruição do satélite, mas podendo planejar um lançamento com antecedência, contra um alvo cujo deslocamento é conhecido, é quase certo que o teste americano anti-satélite dê certo.


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