|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
análise
"Pentágono quer unir o útil ao agradável"
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Destruir um satélite espião inoperante é unir o útil
ao agradável para os militares americanos. É tanto uma
maneira de testar equipamentos em condições reais
como um modo de demonstrar a capacidade a potenciais rivais -como a China,
que fez um teste de arma anti-satélite no ano passado.
O melhor "teste" de um
sistema de armas é o combate. Na falta disso, é possível
fazer simulações, seja em
computador, seja com tiro
real. Mas testes custam caro
e nem sempre podem ser
realistas. Nem sempre existe
um navio velho disponível
para ser afundado por um
torpedo, por exemplo.
O movimento do satélite
em órbita baixa lembra até
certo ponto o de uma ogiva
de míssil balístico, faltando
apenas a reentrada na atmosfera para a simulação de
um ataque. Defender o país
contra mísseis inimigos dotados de ogivas nucleares é
uma prioridade americana.
O sistema de defesa Aegis
do cruzador que disparará o
míssil anti-satélite foi criado
originariamente durante a
Guerra Fria para defender as
esquadras da Marinha dos
EUA de ataques aéreos e de
mísseis soviéticos. Ironicamente, o sistema é fabricado
pela Lockheed Martin, empresa do setor bélico e aeroespacial que também fez o
satélite espião.
O Aegis foi projetado para
reação rápida e ter capacidade de rastrear dezenas de alvos ao mesmo tempo.
O cruzador "Vincennes",
equipado com o sistema, derrubou um avião de passageiros iraniano em 1988. A investigação mostrou que o
Aegis funcionou e que o desastre foi devido principalmente a falha humana.
Os mísseis Standard foram
criados originariamente para abater aviões. Mas, assim
como o míssil antiaéreo terrestre Patriot, suas versões
mais novas foram adaptadas
para terem também a capacidade de destruir mísseis balísticos inimigos.
Apesar de mísseis terem
popularmente a fama de armas letais e precisas, no
mundo real eles falham muito. Os modelos mais simples
e antigos tinham um índice
de acertos muito baixo.
Havia mísseis ar-ar americanos na Guerra do Vietnã
que acertavam o alvo apenas
em 10% dos lançamentos. Os
mísseis antiaéreos britânicos na Guerra das Falklands/Malvinas também falharam muito, e os seus equivalentes soviéticos (hoje russos) só deram muita dor de
cabeça aos israelenses porque os árabes os lançavam
em quantidades enormes.
Um piloto que se desviasse
de um ou dois mísseis logo tinha que encarar um terceiro
e um quarto.
Os mísseis atuais são bem
mais eficientes, mas também
ganharam em complexidade
-e portanto fragilidade. Há
uma margem limitada de incerteza cercando a operação
de destruição do satélite,
mas podendo planejar um
lançamento com antecedência, contra um alvo cujo deslocamento é conhecido, é
quase certo que o teste americano anti-satélite dê certo.
Texto Anterior: EUA podem destruir satélite espião a partir de hoje Próximo Texto: Genética: USP acha gene que antecipa a puberdade Índice
|