São Paulo, Quarta-feira, 17 de Fevereiro de 1999
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CIÊNCIA
Estudo mostra que assistência domiciliar é mais eficaz do que a internação em hospital após cirurgias e tratamentos
Pacientes se recuperam melhor em casa

MAURÍCIO TUFFANI
Editor-assistente de Ciência

Um programa de assistência domiciliar pode ser mais eficiente do que a internação hospitalar para a recuperação de pacientes após operações e outros tratamentos, segundo um estudo publicado hoje na revista "Journal of the American Medical Association".
A pesquisa indicou que, em um período de seis meses após a convalescença, retornaram ao tratamento apenas 20% dos pacientes submetidos à recuperação domiciliar, contra 37% daqueles que continuaram no hospital.
Nesses retornos aos hospitais, a média de dias de internação por paciente foi significativamente menor entre os que tiveram a recuperação em casa (1,53 dia) do que entre os demais (4,09 dias).
Entre os pacientes que se recuperaram em casa, apenas 6,2% tiveram retornos por causas diversas e sem internação, contra 14,5% dos que convalesceram nos hospitais.
A assistência domiciliar de 177 pacientes significou uma redução de custos de US$ 600 mil, segundo o estudo, realizado pelo Instituto Nacional de Pesquisas de Enfermagem dos EUA, em Bethesda, e pela Escola de Enfermagem da Universidade da Pensilvânia, em Filadélfia.
A pesquisa se baseou no acompanhamento de 363 pacientes com mais de 65 anos de idade -considerados de maior risco-, submetidos a diversos tipos de tratamentos, como cirurgias cardíacas, ortopédicas e do aparelho digestivo.
Desse total de pacientes, 186 concluíram seus tratamentos em hospitais. Os outros 177, para os quais foram estabelecidos programas individuais de recuperação, foram para suas residências, onde tiveram até quatro semanas de convalescença.
Nesse período, os pacientes foram visitados em casa por enfermeiros com treinamento especializado e tiveram acesso a consultas e orientações por telefone.
Nos últimos anos, cresce entre os médicos a convicção de que, graças ao menor nível de estresse e ao menor risco de infecção do conforto doméstico, a recuperação de pacientes fora do ambiente hospitalar é mais eficaz, desde que feita sob rigorosa orientação médica.
"Esse (programa) é um caminho que aqui no Brasil devemos prestigiar. Mas, no momento, nossa rede de saúde não tem estrutura para isso", disse o infectologista Vicente Amato Neto, professor aposentado da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
"Esse tipo de programa poderia ajudar o sistema público e os seguros e planos privados de saúde a reduzir seus custos", disse Amato, ex-superintendente do Hospital das Clínicas da USP (1987-1992) e ex-secretário da Saúde do Estado de São Paulo (1992-1993).


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